Esquecidas pelo VPVDN: Duas Caras (2007)

A novela Duas Caras terminava há 13 anos como a primeira obra em HD da televisão brasileira. A trama também é lembrada por ser repleta de reviravoltas e pelas diversas polêmicas levantadas durante a sua exibição original. Produzida e exibida pela Rede Globo no horário das 21 horas de 1 de outubro de 2007 a 31 de maio de 2008, em 210 capítulos, a novela escrita por Aguinaldo Silva com direção geral e de núcleo de Wolf Maya sofreu rejeição inicial do público mas conseguiu se recuperar durante a sua trajetória na telinha e até hoje é lembrada para uma possível reprise às tardes no Vale a Pena Ver de Novo. Por isso, vale rever a história, bastidores, curiosidades e repercussão desta narrativa que deu bastante o que falar no horário nobre global.

Duas Caras' faz sucesso em Cuba | Portal Anna Ramalho
Maria Paula (Marjorie Estiano) e Adalberto Rangel/Marconi Ferraço (Dalton Vigh), em cena da novela. Trama foi a primeira em HD na televisão brasileira. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Sinopse

A trama central de Duas Caras conta a história da vingança da jovem Maria Paula (Marjorie Estiano) contra Marconi Ferraço/Adalberto Rangel (Dalton Vigh), homem misterioso que depois de se casar com a moça por interesse, desaparece levando toda a sua fortuna. A narrativa tem início na infância do menino Juvenaldo (André Luiz Frambach), que mora com a família em uma região pobre de Pernambuco e é vendido pelo pai ao forasteiro Hermógenes (Tarcísio Meira). O menino é rebatizado de Adalberto e aprende toda sorte de falcatruas e golpes com o inescrupuloso viajante, passando a rodar pelas estradas brasileiras com uma suposta máquina de fazer dinheiro. A vida de Adalberto (Dalton Vigh) muda quando ele presencia um terrível acidente na estrada, que resulta na morte de Waldemar (Fulvio Stefanini) e Gabriela (Bia Seidl). Ao revistar o carro em destroços, ele encontra pacotes de dólares, documentos e uma foto de Maria Paula (Marjorie Estiano), a filha única do casal e herdeira de uma grande fortuna. Neste momento, Adalberto percebe que pode dar seu maior golpe.

Primeira fase

A trama segue então para Passaredo, uma pequena cidade do interior (ambientada em São Bento do Sul, Santa Catarina) onde Adalberto encontra a órfã, Maria Paula. O golpista mente para ela ao dizer que Gabriela, sua mãe, pediu para que ele cuidasse da moça antes de falecer. Os amigos da herdeira – sua governanta, Jandira (Totia Meirelles), a filha da governanta e melhor amiga de infância, Luciana (Vanessa Giácomo), e seu advogado e melhor amigo, Dr. Claudius (Caco Ciocler), apaixonado por Maria Paula, tentam alertá-la, mas o golpista é rápido e ela é seduzida e aceita se casar com ele. Pouco tempo depois, ela descobre que sofreu um golpe de seu marido. O crápula sumiu levando toda a sua fortuna e a deixou na mais restrita miséria, sem nem ao menos saber que ela estava grávida.

Para não ser encontrado pela polícia, o golpista muda o rosto, o nome e o estilo de vida. Faz uma cirurgia plástica, e divide esse segredo apenas com Bárbara Carreira (Betty Faria) – prostituta que trabalhava para Hermógenes e que se tornaria seu braço direito por toda a vida. O vilão se transforma no respeitável empresário da construção civil Marconi Ferraço e, agora milionário, retorna ao Rio de Janeiro e compra uma construtora quase falida, a GPN. Ferraço, então, monta sua equipe de trabalho, e vira parceiro do engenheiro Gabriel Duarte (Oscar Magrini) – marido da perua Eva (Letícia Spiller), e do advogado Paulo Barreto (Stênio Garcia), o Barretão, um especialista em encontrar brechas para driblar a lei.

No Rio de Janeiro, os vários nordestinos que vieram trabalhar na construtora, e que ficaram desabrigados com sua falência, se negaram a deixar o local e encontraram apoio na figura de Juvenal Antena (Antônio Fagundes), chefe da segurança, que se uniu aos operários na luta por seus direitos. E foi num terreno baldio da antiga obra da GPN em Jacarepaguá que ergueu-se a Portelinha, um local onde Juvenal não deixaria faltar nada para seus moradores. Líder carismático, ele foi se transformando aos poucos em um comandante acima do bem e do mal. No decorrer da trama, Ferraço e Juvenal enfrentam uma batalha judicial e moral pelo espaço onde foi construída a favela.

Maria Paula, contudo, parte para São Paulo disposta a recomeçar sua vida e, depois do nascimento do filho Renato (Gabriel Sequeira), aceita o emprego de empacotadora em um supermercado. Ali ela cria o menino, ascende profissionalmente e mantém a meta de encontrar o ex-marido e fazer justiça.

Segunda fase

Dez anos depois, Maria Paula, agora nutricionista do supermercado, é convidada a trabalhar no Rio de Janeiro no mesmo período a qual, por coincidência, vê seu ex-marido em uma reportagem de televisão. Ela descobre que ele mora no Rio de Janeiro e, disposta a se vingar, a moça muda para a cidade na companhia do filho Renato e do noivo Cláudius.

Ferraço, agora, é um respeitável empresário, que decide conquistar Maria Sílvia (Alinne Moraes), moça milionária e de família tradicional, mas insensível, que passou vários anos estudando na Universidade de Sorbonne, em Paris. Ela se apaixona por ele e aceita se casar meses depois. No dia da festa de noivado de Ferraço e Sílvia, Maria Paula, que havia descoberto que Adalberto Rangel adotou a identidade de Marconi Ferraço, o desmascara na frente de todos. Ela revela que o empresário é pai de seu filho Renato, agora com dez anos, e Ferraço decide se aproximar do garoto com a cumplicidade de Sílvia, somente para evitar que a ex-mulher o coloque atrás das grades.

Apesar de no começo usá-lo contra sua mãe, o vilão acaba desenvolvendo um afeto verdadeiro pelo filho. Como realizou uma vasectomia, o menino passou a ser o seu único herdeiro, o que desperta o ódio de Sílvia pela criança. Maria Paula, no entanto, se une a Juvenal Antena e Branca Pessoa de Moraes (Susana Vieira), mãe de Sílvia, para resistir às armações do ex-marido. Na festa de aniversário de Renato, organizada por Maria Paula na mansão de Ferraço, o ex-casal dá indícios de que nutrem sentimentos um pelo outro. A partir de então, por desespero, despeito e a sanidade abalada, Sílvia tenta destruir a rival e seu filho.

5 atores de 'Duas Caras' e seus signos
Maria Paula (Marjorie Estiano) e Adalberto Rangel/Marconi Ferraço (Dalton Vigh) em cena da novela Duas Caras. Trama demorou para engrenar no horário nobre global. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Tramas Paralelas

O pai de Sílvia, João Pedro (Herson Capri), tinha um romance extraconjugal há mais de 20 anos com Célia Mara (Renata Sorrah), casada com o mecânico Antônio (Otávio Augusto) e mãe de Clarissa (Bárbara Borges), que sofre de dislexia. Depois de muitos anos, Célia acabou se transformando em uma “segunda esposa”. Ele a conheceu antes de se casar com a poderosa Branca, mãe de Sílvia. Mulher elegante, forte e determinada, Branca descobre, um dia depois da morte do marido, que ele tinha uma amante, e por isso, resolve afastar de si o título de viúva. A loira assume a presidência do conselho da Universidade Pessoa de Moraes, e a transforma em uma instituição de absoluta excelência na educação superior do Brasil. Em determinado momento, incomoda-se com a aproximação entre o professor Francisco Macieira (José Wilker) – um antigo amigo que ela convida para ser reitor e torna-se seu namorado – e Célia Mara, a qual passa a estudar na sua universidade. Mas um fato inesperado também vai fazer essas duas inimigas conviverem no mesmo espaço e se confrontarem ainda mais: por uma ironia do destino, Célia Mara administra 50% da universidade, já que Clarissa, sua filha, também é filha de João Pedro, e Sílvia entrega suas ações para Célia, com o objetivo de se vingar de Branca, que não aceita o relacionamento dela com Ferraço e apoia Maria Paula em seus embates com o vilão. Desde então, vários conflitos acontecem e a Universidade vira um verdadeiro “campo de guerra”, devido à disputa de poderes entre as duas.

Branca é irmã de Barretão, considerado uma fera no Direito, mas bastante preconceituoso. Ele é casado com a elegante Gioconda (Marília Pêra), considerada a última grande dama da sociedade carioca, que peca pelo vício em calmantes para tentar resolver os problemas. Os dois são pais de Júlia (Débora Falabella), uma moça inteligente e ativa, que se apaixona por Evilásio Caó (Lázaro Ramos), enfrentando o preconceito da família por se envolver com uma pessoa negra e de classe social inferior .

Evilásio é morador da favela da Portelinha, que por influência de Juvenal Antena, seu padrinho, cresceu e se tornou uma espécie de “favela-modelo”. Líder nato, Juvenal mantém firme seu compromisso de não deixar drogas e violência entrarem no local e de não faltar nada a seu povo. Para isso, o líder comunitário se reuniu com seus amigos, outras figuras respeitadas pelo grupo: o pastor evangélico Inácio Lisboa (Ricardo Blat), o carpinteiro Misael Caó (Ivan de Almeida), pai de Evilásio, a mãe-de-santo Setembrina (Chica Xavier), e o dono de vans Geraldo Peixeiro (Wolf Maya). Toda a população respeita seu líder, que não aceita nunca ser contrariado – o que causará divergências com seu braço-direito, Evilásio – mas que sempre age pelo povo. Estas divergências começam quando a Portelinha é invadida e Juvenal fica hospitalizado, deixando Evilásio tomando conta de tudo, e têm seu ápice quando ambos se candidatam a vereador.

A Portelinha é onde acontece algumas das tramas que agitam a novela. Por exemplo, a família de Bernardinho, um jovem bissexual explorado pelo pai, Bernardo (Nuno Leal Maia), pela madrasta, a dissimulada Amara (Mara Manzan), e pelos irmãos J.B. (Júlio Rocha) e Benoliel (Armando Babaioff). Mas o rapaz acabará se apaixonando por Dália (Leona Cavalli), sua melhor amiga, e por Carlão (Lugui Palhares) ao mesmo tempo. A Portelinha é onde também vive Alzira (Flávia Alessandra), uma mulher de bom coração, mas que engana o marido, o imprestável Dorgival (Ângelo Antônio), ao dizer que trabalha como enfermeira, quando na verdade faz strip-tease na Uísqueria Cincinatti, dirigida por Jojô (Wilson de Santos), seu melhor amigo. A certa altura da história, Alzira acaba conquistando o coração de Juvenal. Ainda, no decorrer da trama, começa a nascer a figura do Sufocador de Piranhas, uma pessoa misteriosa que ataca as mulheres da Portelinha.

Produção

Além dos estúdios e da cidade cenográfica da Central Globo de Produção (Projac), a trama teve cenas feitas em externas no Rio de Janeiro e em São Paulo, São Bento do Sul (Santa Catarina), Canela (Rio Grande do Sul), Olinda e Ilha de Itamaracá (Pernambuco), além de Paris, na França. Em São Bento do Sul, SC, a produção de Duas Caras montou especialmente para a novela a festa do abate, que costuma ser realizada na cidade no mês de setembro. O festejo incluiu dança, música e cerca de 20 grupos folclóricos, em sua maioria da Alemanha e da Polônia, que participaram das gravações lembrando seus antepassados. Além dos 95 profissionais da TV Globo deslocados para o Sul, as gravações contaram com cerca de 900 figurantes.

Em 2007, houve uma disputa pelo horário que substituiria Paraíso Tropical entre Aguinaldo Silva e Benedito Ruy Barbosa – que escrevia uma trama intitulada Amor Pantaneiro. Aguinaldo acabou vencendo devido o temor da emissora de Benedito produzir outra “novela das oito” rural rejeitada pelo público como sua última, Esperança, em 2002.

Aguinaldo Silva revela que sofreu censura durante a exibição da novela  "Duas Caras" – TV Foco
Flávia Alessandra surpreendeu o público como a sensual Alzira no folhetim de Aguinaldo Silva. Atriz precisou aprender Pole dance, um tipo de dança no poste, para interpretar a personagem. (Foto: Divulgação/TV Globo)

No começo, o autor chamou a novela de É a Educação, Estúpido!, mas o nome foi considerado confuso pela direção e adaptado para Duas Caras para conseguir avaliar totalmente o público. No dia 23 de novembro, a Globo informou, por meio de nota oficial, que o autor Aguinaldo Silva se manteria afastado dos roteiros da trama, para “resolver problemas pessoais”. Sua saída gerou controvérsia entre os atores e a imprensa especializada, levantando rumores de que ele havia sido demitido, mas na mesma semana o autor retornou à produção, pois havia sido impedido de viajar a Portugal, por não ter renovado o passaporte.

Em 2006, enquanto desenvolvia o primeiro esboço da novela, Aguinaldo revelou para o jornal O Globo que ela seria centrada em uma universidade na disputa pela reitoria entre a viúva do dono, interpretada por Susana Vieira, e na amante dele, que havia tido uma filha bastarda fora do casamento, onde no início seriam interpretadas por Marília Gabriela e Bárbara Borges. Contudo, meses depois, o autor declarou em entrevista à Folha de S.Paulo que havia alterado a trama central e modificado o núcleo da disputa pela universidade para um tipo de protagonismo secundário. Assim, o fator principal da história seria sobre um censor dos tempos da ditadura militar, supostamente interpretado por Eduardo Moscovis, que dava o golpe em uma jovem inocente para tomar sua fortuna, e depois mudava sua aparência e identidade. Essa outra trama também foi modificada posteriormente.

Aguinaldo também revelou, em fevereiro de 2007, que ao bater de frente com a mulher que enganou e um filho que desconhecia, seu anti-herói, Ferraço, pensaria na possibilidade de se redimir. Sobre a sua mocinha, ele indicou que seria impossível fazê-lo pagar por seus crimes e ser digno de tê-la de volta e também o seu filho. Em 2013, em entrevista ao Canal Viva, o autor disse que também pensou em fazer da história de Evilásio (Lázaro Ramos) a principal, mas temia uma possível rejeição do público.

Um dos pontos altos da trama foi o o fato de abordar a favelização brasileira. Um dos cenários da novela foi a fictícia favela da Portelinha, capitaneada pelo personagem Juvenal Antena (Antônio Fagundes). A Portelinha destacava-se por não apresentar traficantes, somente trabalhadores. No início, ela se chamaria Mangueirinha, e seria localizada em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio.

A cidade cenográfica construída para a obra foi inspirada na favela de Rio das Pedras. Para a sua elaboração, a equipe da Rede Globo fez dezenas de visitas à comunidade, reconstituindo vários trechos do local. Porém, algumas modificações precisaram ser feitas para que possibilitasse à equipe de filmagem realizar as cenas, assim como a inclusão de novos lugares, como a escola de samba e o terreiro da personagem Setembrina. Quando um plano geral da Portelinha era exibido, contudo, o que foi visto realmente era a favela de Rio das Pedras, alterada digitalmente num espaço de sete quarteirões para que fosse alocada a cidade cenográfica.

Posteriormente, a escolha do nome, uma homenagem à escola de samba Portela, rendeu ao diretor, Wolf Maya, e ao elenco um “Troféu Águia de Ouro”, criado especialmente pelo carnavalesco Cahê Rodrigues afim de devolver a homenagem realizada pela trama.

O campus da Universidade Pessoa de Moraes, com um café e uma livraria, também foi construído no Projac. As fachadas dos prédios reproduziam construções de um shopping da Barra da Tijuca, onde foram gravadas as cenas externas da universidade.

Bastidores e curiosidades

Aguinaldo Silva conta que, além da ideia de criar uma novela que mostrasse a ambiguidade do ser humano, queria também realizar uma obra carioca e urbana. Como os bairros de Copacabana e Leblon já haviam sido apresentados em outras obras, decidiu ambientar o seu folhetim na Barra da Tijuca, em uma favela horizontal.

Segundo Aguinaldo Silva, a novela teve uma ótima repercussão entre os moradores da favela de Rio das Pedras, na qual foi inspirada a favela fictícia de Duas Caras. Segundo o autor, um dos motivos apresentados foi pela opção de mostrar uma comunidade de forma realista, sem resquícios de demagogia.

Aguinaldo ainda se viu no meio de várias polêmicas durante a trama. Em uma delas, o prefeito do Rio, Cesar Maia, reclamou que a narrativa privilegiava a abordagem negativa do Rio, colocando o município sob críticas pesadas. Um dos alvos das reclamações foi o capítulo em que a feirante Lucimar (Cristina Galvão) pede ao deputado Narciso (Marcos Winter) uma vaga para o filho em uma escola que não aprovasse todo mundo.

Duas Caras' (2008) - Emais - Estadão
Juvenal Antena (Antônio Fagundes) e Evilásio Caó (Lázaro Ramos) em cena de bastidores da novela. Protagonismo dividido na favela da Portelinha. (Foto: Divulgação/TV Globo)

O valor do IPTU cobrado na cidade também foi relatado durante a novela, quando Célia Mara (Renata Sorrah), muda de um bairro de classe média para a Portelinha e comemora o fim do imposto. Também esteve em destaque o sequestro relâmpago de Branca (Susana Vieira). Mas a maior preocupação do governo era a milícia fictícia chefiada por Juvenal Antena (Antônio Fagundes). Em volta às polêmicas e aos índices de audiência aquém do esperado da novela, Aguinaldo Silva anunciou que se afastaria por um tempo do folhetim para cuidar de assuntos pessoais em Portugal. Porém, o autor já havia deixado diversos capítulos prontos.

Ainda segundo Aguinaldo Silva, Evilásio (Lázaro Ramos), o herói romântico da novela, acabou um pouco ofuscado pela força de Juvenal Antena (Antonio Fagundes). O fato enfraqueceu a percepção do público sobre o embate entre a legalidade e a marginalidade representadas, respectivamente, pelos dois personagens.

Susana Vieira, Renata Sorrah, Marília Gabriela e Bárbara Borges foram os primeiros nomes escalados para a novela ainda no final de 2006. Anteriormente, Carolina Dieckmann foi convidada para interpretar Maria Paula, mas a atriz teve que recusar por estar grávida. Assim, Mariana Ximenes foi a opção seguinte do autor, que revelou que desejava trabalhar com ela desde Porto dos Milagres. O problema dessa vez foi pelo fato da atriz já ter aceitado o convite para a novela posterior do horário, A Favorita. Então, o papel ficou para Marjorie Estiano, que havia chamado atenção do autor por sua personagem em Páginas da Vida (a atriz ainda trabalharia com Aguinldo na novela Império, exibida em 2014).

Aguinaldo disse em entrevista que escreveu o personagem Ferraço pensando em Eduardo Moscovis para interpretá-lo. Contudo, ele recusou por não desejar mais fazer novelas, somente seriados e cinema (o ator só retornaria ao gênero em A Regra do Jogo, em 2015, quase dez anos depois de sua última trama). Assim, Dalton Vigh ficou com o papel após vários testes com atores na faixa dos 40 anos. José Mayer teve que abdicar do papel de Juvenal Antena por estar protagonizando o musical Um Boêmio no Céu. O papel ficou com Antônio Fagundes. O nome de Mussunzinho apareceu na abertura durante toda a apresentação da novela, mas ele não participou do folhetim.

A dança do poste, chamada de pole dance, também foi alvo de polêmicas. Considerada apelativa, foi uma das responsáveis pela reclassificação indicativa da novela, que passou a ser proibida para menores de 14 anos. Nas cenas realizadas, Flávia Alessandra aparecia dançando sensualmente em um cano. Com a polêmica, o pole dance saiu de cena por um período, voltando de maneira mais discreta depois de um tempo. Ainda, o cenário da uisqueria, frequentado pelos homens da Portelinha em busca das massagens oferecidas pelas moças e dançarinas do local, deu lugar a uma casa de shows, em que as mesmas moças se apresentavam em musicais coreografados por Jojô (Wilson dos Santos).

Depois da estreia da novela, Aguinaldo Silva criou um blog em que costumava comentar a trama, por vezes antecipando momentos da narrativa. O autor relata que se identificava com alguns personagens, mas que Gioconda, personagem de Marília Pêra, era sua porta-voz durante a novela.

Duas Caras foi a primeira novela da TV Globo totalmente gravada e transmitida em alta definição. A trama foi eleita pelos votantes do jornal espanhol 20 minutos como a 9ª melhor telenovela brasileira de todos os tempos.

A novela nunca foi reprisada.

Abertura

A abertura de Duas Caras inovou ao realizar uma maquete com o uso de papel reciclado, latas de refrigerante, retalhos e pedaços de fios. O artista plástico Sérgio Cezar desenvolveu, a pedido de Hans Donner, cerca de 1.500 maquetes que chegaram a ocupar cerca de 64m² do estúdio no qual foi gravada a abertura da novela. Mesclada com imagens em preto-e-branco da própria fabricação da mini favela, a abertura ao som de “E Vamos à Luta” de Gonzaguinha, dura por volta de 70 segundos, e apresenta o crescimento da comunidade ao redor de dois edifícios de luxo criados através de computação gráfica.

Trilha Sonora

Dentre as singularidades presentes na trilha sonora da novela, encontra-se Recomeçar, canção gospel interpretada pela cantora Aline Barros, a convite do próprio autor da trama. Aline foi a primeira cantora gospel a ter uma canção na trilha de uma novela da Rede Globo. Outros sucessos musicais embalaram a trilha sonora dos personagens da narrativa. Coisas que Eu Sei de Danni Carlos; Ela Une Todas as Coisas do cantor Jorge Vercillo; Negro Gato de Roberto e Erasmo Carlos em uma nova versão intepretada por MC Leozinho e Folhetim da cantora Luiza Possi são algumas das canções que constam na trilha nacional da novela. A capa da abertura contou com Lázaro Ramos, intérprete de Evilásio Caó na produção.

Já a trilha sonora internacional da novela, ao contrário da nacional, chegou a ocupar a primeira posição dos CDs mais vendidos do país. Um dos motivos foi os sucessos de Same Mistake, do cantor inglês James Blunt, que embalava o romance dos protagonistas Maria Paula e Marconi Ferraço, e So Much For You da cantora americana Ashley Tisdale. Essa trilha também teve outras canções de boa repercussão como Gimme More da cantora pop Britney Spears (tema de locação – Rio de Janeiro); No One da compositora/cantora Alicia Keys e Lost Without do cantor americano Robin Thicke (tema de Silvia) entre outras canções. A capa desta vez ficou com Flávia Alessandra, intérprete da sensual Alzira na obra.

Duas Caras foi a terceira novela a divulgar em CD sua trilha sonora em formato instrumental, fato que só havia ocorrido anteriormente em Belíssima, de Sílvio de Abreu, e em Esperança, de Benedito Ruy Barbosa. A produção musical da trama ficou por conta de Victor Pozas, ex-produtor musical do seriado Malhação, que também trabalhou com a carreira musical da protagonista Marjorie Estiano. Outra curiosidade foi sobre a canção “No One”, da cantora Alicia Keys. Apesar de fazer parte da trilha internacional, a canção de abertura da segunda trilha não foi executada na novela.

Célia Mara (Renata Sorrah) e Branca Barreto Pessoa de Moraes (Susana Vieira) mais uma vez viveram rivais em uma trama de Aguinaldo Silva. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Audiência

Duas Caras obteve o menor índice de audiência de uma novela das 20h em seu capítulo de estreia, até aquele período. A média foi de 40 pontos, com picos de 51, superando o recorde negativo da antecessora, Paraíso Tropical, que em sua estreia marcou 41 pontos. Os dois capítulos seguintes de Duas Caras alcançaram números ainda menores (média de 35,5 no segundo, e 33,7 no terceiro).

O recorde de audiência da trama ocorreu durante a quinta-feira, de 29 de maio de 2008. De acordo com a assessoria de imprensa da Globo, a média consolidada do Ibope foi de 52 pontos e 70% de share.

O índice geral da novela foi de 41,1 pontos, nível superior a todas as novelas seguintes. Foi a última novela no horário a ficar acima dos 40 pontos no Ibope, assim como a última da Rede Globo e da televisão brasileira.

Último Capítulo

Duas Caras teve seu último capítulo apresentado em um sábado, 31 de maio de 2008, e não foi reapresentada como outras novelas anteriores. Tradicionalmente, aos sábados, a audiência sofre uma grande baixa em relação aos outros dias da semana e isso fez com que a trama tivesse, até então, a pior audiência de um último capítulo de uma novela da Globo no horário das 20h (47 pontos).

Porque foi esquecida?

Um dos motivos que pode influenciar para não haver uma reprise de Duas Caras, talvez seja pelas polêmicas enfrentadas pela trama durante a sua exibição original. Ainda, a audiência da produção foi aquém do esperado pela emissora na época, apesar de ter tido uma boa recuperação do meio para o fim do folhetim. Vale lembrar também que a obra pode ser reapresentada pelo Canal Viva, da Globosat, ou entrar no catálogo do Globoplay, plataforma de streaming da TV Globo.

Fonte: Memória Globo, Wikipédia.

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