Os Flops que Amamos: Vila Madalena (1999)

Há exatos 21 anos começava uma novela problemática no horário das sete da noite global. Era a estreia da trama de Vila Madalena uma novela brasileira produzida e exibida pela Rede Globo de 8 de novembro de 1999 a 5 de maio de 2000, em 155 capítulos. A novela foi escrita por Walter Negrão, com a colaboração de  Thelma Guedes, Elizabeth Jhin, Júlio Fischer, Paulo Cursino, Vinícius Vianna e Ângela Carneiro e teve a direção de núcleo do saudoso Jorge Fernando. Para falar sobre os percalços da obra em sua exibição original, o Blog TV e Novelas vai fazer um apanhado da história e relatar os bastidores e as curiosidades dessa trama que tinha como mote central e cenário principal o bairro da Vila Madalena localizado na cidade de São Paulo.

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Edson Celulari viveu Solano em Vila Madalena, exibido pela Rede Globo entre 1999 e 2000. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Elenco

Em seu elenco principal a novela Vila Madalena contava com nomes como Edson Celulari, Maitê Proença, Marcos Winter, Yoná Magalhães, Ary Fontoura, Laura Cardoso, Flavio Migliaccio, Luiza Tomé, Thierry Figueira, Carla Marins, Herson Capri e Cristiana Oliveira, entre outros. Um verdadeiro time de estrelas.

Sinopse

O casal Solano (Edson Celulari) e Eugênia (Maitê Proença) comemora boas notícias. Isso porque depois de seis meses sem trabalho, ele consegue um bico como caminhoneiro e precisa levar uma carga para outra cidade. Enquanto ele tem a promessa de um emprego melhor, a mulher anuncia que está grávida. Ao mesmo tempo, outro casal, Roberto (Marcos Winter) e Pilar (Cristiana Oliveira), se encontram na porta da igreja para acertar os últimos detalhes do casamento dos dois. Mas quando tudo parece bem, ocorre uma surpresa. A polícia descobre que a carga que Solano transporta é contrabando, e ele é preso e condenado a 17 anos de cadeia. Não bastasse isso, Roberto também é preso porque, ao defender Pilar de dois marginais, causa sem querer a morte de um deles, que sofre um acidente atropelado perto da igreja.

Na prisão, por influência de Roberto, Solano passa os anos na cadeia lendo e estudando. Os novos conhecimentos e o equilíbrio emocional o tornam uma espécie de autoridade do presídio, além de exemplo de bom comportamento, o que ajuda para que tenha sua pena reduzida. Depois de sete anos, ele deixa a penitenciária e vai ao encontro da mulher e do filho, Lucas (Guilherme Vieira), mas descobre que Eugênia se casou com o antigo chefe, o empresário Arthur Junqueira (Herson Capri), e teve uma filha, Laurinha (Natalie Figueiredo). A partir daí, Solano tem que lutar para recuperar o amor da mulher.

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Flávio Migliaccio (Ângelo) e Laura Cardoso (Deolinda) eram os pais do protagonista Solano em Vila Madalena. Os dois atores são figurinhas carimbadas nos trabalhos de Walther Negrão. (Foto: Reprodução/TV Globo).

Tramas Paralelas

No bairro de Vila Madalena, estão alguns dos personagens mais esdrúxulos da novela. Com Pilar (Cristiana Oliveira) vivem sua mãe, a artista plástica Bibiana (Yoná Magalhães), que tem um ateliê dentro de casa, e a tia Margot (Rosamaria Murtinho), uma perua solteirona e dona de uma loja de produtos esotéricos. Na casa vizinha, mora o cinéfilo seu Menez (Ary Fontoura), um homem solitário que trabalhou como projecionista do extinto Cine Fiametta, localizado no bairro Pinheiros. Também mora na região o saxofonista Hugo (Thierry Figueira), irmão de Roberto (Marcos Winter), que chega do interior disposto a ganhar a vida como músico.

Outras áreas de São Paulo também estão representadas na novela. Na zona oeste da cidade, mora a família de Solano: seus pais, Ângelo (Flávio Migliaccio) e Deolinda (Laura Cardoso), e seus irmãos, Nancy (Carla Marins), que se apaixona por Hugo, e José (Marcelo Faria), motoboy conhecido como Cachorro Louco e que possui uma relação de amor e ódio com a patricinha Zu (Fernanda Rodrigues), uma menina rica que mora nos Jardins, área nobre da cidade.

Os pais de Zu, Donato (Mário Gomes) e Raquel (Luiza Tomé), são donos de um restaurante bem frequentado em Vila Madalena. Lá trabalha Aricanduva (Oscar Magrini), garçom que, nas horas vagas, toca zabumba no Centro de Tradições Nordestinas. Há anos ele mantém um noivado aparentemente interminável com a espevitada Lilica (Betty Goffman), torcedora fanática do Palmeiras e empregada da casa de Bibiana.

Curiosidades e Bastidores

O novelista Walther Negrão e o diretor Jorge Fernando repetiram aqui a parceria do trabalho anterior, a novela Era uma Vez… (1998), agora às sete da noite. Porém, dessa vez não houve sucesso. Segundo o crítico de novelas Nilson Xavier (Teledramaturgia), a história de Vila Madalena não cativou o público, apesar da assinatura de Jorge Fernando em uma novela das sete, pautada pela agilidade e humor, em uma trama urbana – diferente de Era uma Vez…, uma novela do horário das seis, de apelo infantil, que se passava em uma cidadezinha do interior.

A trama teve como título provisório Sexo Oposto, mas no início o autor sempre teve preferência para que Vila Madalena fosse o título definitivo. Para a Folha de S.Paulo, Negrão afirmou que “a Vila é um bairro que transborda cultura e que tem momentos distintos à noite, com os bares, e durante o dia, com as empresas. Está coalhado de artistas plásticos, escritores, atores e intelectuais“.

Walther Negrão escreveu Vila Madalena atendendo a uma encomenda da direção da TV Globo: uma novela capaz de cativar a audiência paulista. Nascido no interior do estado, o autor morava já há cinco anos no bairro e conta que o considera um pedaço especial da cidade de São Paulo pela concentração de restaurantes sofisticados, bares boêmios, galeria de arte e produtoras de cinema.

Personagens ilustres do bairro de Vila Madalena fizeram participações especiais na novela. Entre eles, o pintor nordestino Ademir Martins, morador da região; o chargista Paulo Caruso, que dava canjas ao piano todas as segundas-feiras no Bar Piratininga; o grupo Trovadores Urbanos e o Palhaço Gargalhada.

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Solano (Edson Celulari) e Pilar (Cristiana Oliveira) tiveram diversos desencontros durante a trama de Vila Madalena, novela exibida entre 1999 e 2000. (Foto: Reprodução/TV Globo).

Oscar Magrini, que interpretava Aricanduva, se desentendeu com a produção da novela e foi demitido. O seu personagem fazia uma dupla cômica com Lilica, personagem de Betty Gofman, numa interessante trama paralela.

O personagem de Solano, vivido por Edson Celulari, iria terminar a novela voltando para sua esposa, Eugênia, personagem de Maitê Proença. Contudo, o público preferiu que Solano ficasse com Pilar (Cristiana Oliveira). Eugênia terminou a novela sozinha, cuidando dos negócios de seu segundo marido, Arthur (Herson Capri).

Para isso, o autor alterou o desfecho dos protagonistas, colocando em xeque o caráter de Eugênia. Solano descobriu que a ex-esposa havia tido um romance com Arthur, personagem de Herson Capri, o grande vilão da trama. Chegou-se a colocar em dúvida a paternidade do filho do casal, Lucas (Guilherme Vieira), estreando em novelas. No último capítulo, no entanto, veio a confirmação de que Lucas era mesmo filho de Solano.

Pela terceira vez em novelas, Maitê Proença e Herson Capri fizeram par romântico e não terminaram juntos. Isso já havia acontecido duas vezes. A primeira em Guerra dos Sexos, novela de Sílvio de Abreu exibida em 1983. E a segunda em Felicidade, novela de Manoel Carlos exibida em 1991.

Também pela segunda vez em novelas, Maitê Proença fez par romântico com Edson Celulari, porém, sem ficarem juntos no final. O mesmo aconteceu em Sassaricando, novela de Sílvio de Abreu, exibida em 1987.

Foi a estreia de Susana Werner como atriz de novelas, na pele da personagem Beatriz (Bia).

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Nancy (Carla Marins) e Hugo (Thierry Figueira) formaram um casal na trama. Novela não cativou a audiência em sua exibição original. (Foto: Reprodução/TV Globo).

A novela foi exibida, entre outros países, no Equador, na Nicarágua, na Venezuela e em Portugal. 

Produção

Apenas as cenas externas da novela foram gravadas em São Paulo. Todas as cenas em estúdio foram realizadas no Rio de Janeiro, em uma cidade cenográfica construída no Projac para reproduzir uma vila da zona oeste de São Paulo – onde moravam os pais de Solano (Edson Celulari) – e um beco, onde funcionava a firma de motoqueiros em que trabalhava Cachorro Louco (Marcelo Faria).

Estabelecimentos conhecidos em Vila Madalena serviram como locações da trama. Um dos pontos de encontro de vários personagens é o sacolão do bairro, um mercado que vende verduras, frutas e peixes durante o dia e, à noite, é frequentado por boêmios. As cenas no Donato’s, que na trama pertencia ao personagem de Mário Gomes, foram gravadas no Zé Kleber, um dos mais badalados restaurantes do bairro. Já as cenas na loja de Margot (Rosamaria Murtinho) foram feitas na casa de produtos esotéricos Magma.

A casa de vila da família de Solano tinha um quintal com uma árvore cenográfica, uma minioficina e uma barra de ginástica.

A equipe de produção de arte da novela decorou o apartamento do cinéfilo Menez (Ary Fontoura) usando várias referências cinematográficas como uma moviola antiga, câmeras e cartazes de filmes.

revista amiga & novelas: VILA MADALENA - REDE GLOBO - 1999
Maitê Proença (Eugênia) e Edson Celulari (Solano) estamparam os jornais em 1999 durante a divulgação da novela para a imprensa. Reportagem: Elizabete Antunes. (Foto: Reprodução)

Abertura

Pela primeira vez uma novela da TV Globo não teve produção para a abertura, apenas uma vinheta de três segundos. Em seguida, toda noite era exibido o videoclipe de uma das músicas da trilha sonora nacional, composta por 14 canções, e os créditos entravam sobrepostos à imagem, simulando movimento de trânsito nas ruas. 

Trilha Sonora

Em sua trilha sonora nacional, canções do fim dos anos 90 como “Bem Querer” do cantor Maurício Manieri (tema de Roberto), a dançante “Rebola na Boa” do DJ e cantor Mr. Jam (tema geral), “To Saindo” de Ana Carolina (tema de Rachel), e uma versão de “Sossego” de Tim Maia, na voz do grupo Paralamas do Sucesso (tema de Donato). Já a trilha internacional tinha “Could This Be Love” da cantora Jennifer Lopez, a baladinha “You’re My # 1” – na voz de Enrique Iglesias (Tema de Pilar e Solano) e o hit “If I Let You Go” (Tema de Hugo e Nanci), sucesso mundial da boyband Westlife.

Audiência

Foi uma audiência irregular durante quase toda a sua exibição. Na grande São Paulo, principal termômetro de ibope no país, oscilou entre 25 e 32 pontos na maioria das semanas. Suas maiores audiências aconteceram nos dias 10 de fevereiro de 2000, quando marcou 38 pontos e em seu último capítulo, transmitido em 5 de maio de 2000 quando chegou a 39 pontos. Sua audiência mais baixa foi na véspera de natal de 1999 quando marcou apenas 21 pontos. Um número bem abaixo do esperado naquela época. Sua média geral foi de 31,62, abaixo da meta esperada para o horário de 35 pontos.

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Como Arthur, o ator Herson Capri repetiu mais uma vez a parceria com Walther Negrão em novelas globais.(Foto: Reprodução/TV Globo).

Reprise

Talvez por conta dos problemas enfrentados durante a sua exibição original, a novela Vila Madalena nunca foi cogitada para uma reprise no vespertino Vale a Pena Ver de Novo (1980-atualmente), onde até hoje continua sem nenhuma reexibição.

Fonte: Wikipédia; Blog do Gabriel Farac e Memória Globo.

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