Fragmentos no Globoplay: Fogo Sobre Terra (1974)

Produção clássica toda em preto e branco da obra de Janete Clair, a novela Fogo Sobre Terra retorna hoje (27/05), definitivamente pelo projeto “Fragmentos” do Globoplay. Produzida e exibida pela emissora em sua tradicional faixa das 20/21 horas, de 8 de maio de 1974 a 4 de janeiro de 1975, às 20 horas, em 209 capítulos, essa trama corajosa e polêmica marcou, infelizmente, por muitas interferências da censura da ditadura militar vigente na época, o que inviabilizou muitas cenas e confundiu o telespectador, que não entendia o que estava indo ao ar por conta dos cortes realizados. Entretanto, uma direção inspirada e segura de Walter Avancini com a supervisão de Daniel Filho, e um elenco de nomes consagrados como Juca de Oliveira, Regina Duarte, Dina Sfat, Jardel Filho, Neuza Amaral, Jayme Barcellos e Fúlvio Stefanini nos papéis principais, foram alguns dos diferenciais positivos da narrativa. Assim, vale relembrar 11 curiosidades desta novela marcante, com os devidos motivos para acompanha-la novamente dentro da plataforma on-demand global.

Chica Martins (Dina Sfat), Diogo (Jardel Filho) e Pedro Azulão (Juca de Oliveira) nos bastidores de Fogo Sobre Terra. Clássico de Janete Clair retorna através do projeto fragmentos do Globoplay. (Foto: Acervo/TV Globo)

1- Por circunstância do lançamento de Fogo Sobre Terra, Janete Clair disse sobre o seu desejo de fazer da novela uma espécie de estudo do choque que há entre o homem do campo e o da cidade. “Sem abandonar o lado romântico, marca registrada e característica principal da minha maneira de escrever, achei que estava na hora de apresentar um trabalho mais realista”, afirmou a autora. (Memória Globo)

2- Na sinopse proibida pela censura, o título original da novela era Cidade Vazia. O novo nome foi definido de uma maneira pouco comum. Daniel Filho relata que ele e Boni planejaram de jogar o I-Ching e dar o nome a novela com os elementos que mostrassem nos hexagramas. O resultado retratou os elementos “fogo” e “terra”.

3- Uma equipe da Globo visitou os municípios de Santo Antônio do Leverger e Chapadas, cidades tranquilas no interior do Mato Grosso, para ver os costumes da sua população. Uma pesquisa auxiliou Janete Clair a enumerar os costumes dos residentes da fictícia Divinéia.

4- A cidade cenográfica de Fogo Sobre Terra foi projetada no interior do Rio de Janeiro, em Barra de Maricá. Na época, local era somente uma vila de pescadores com pouco mais de 30 casas. A cidade cenográfica terminou se firmando como uma atração turística, inclusive, abrigando visitantes nos finais de semana. Ao término da novela, a região onde foram feitas diversas cenas do enredo, batizou o nome da cidade fictícia e passou a se denominar Divinéia.

5- A Censura Federal, que já tinha proibido a sinopse de Fogo Sobre Terra um ano antes, teve relação decisiva no desempenho da trama após esta estrear. A primeira intervenção aconteceu quando Pedro Azulão (Juca de Oliveira), para impedir a demolição de Divinéia, chamou os cidadãos da cidade a se abastecer em armas para defendê-la. Os censores observaram nisso um encorajamento à guerrilha e censuraram as cenas. Janete Clair precisou mudar a narrativa e o personagem acabou atrás das grades, incriminado de invasão de domicílio, sequestro e tentativa de homicídio. Quando, desapontado, o herói resolve se sacrificar junto com a cidade, os censores intercederam outra vez. Não aprovaram que o papel virasse um mártir. No final que foi exibido, Pedro desiste do plano pouco antes do alagamento, porém, a novelista marcou sua posição fazendo Nara (Neuza Amaral) se manter no seu protesto e morrer em meio às águas. Os cortes estabelecidos pelos censores coagiram Janete Clair a reescrever em poucos dias capítulos já feitos.

Bárbara (Regina Duarte) e Fúlvio Stefanini (Gustavo) em cena de Fogo Sobre Terra. A cidade cenográfica da trama acabou se firmando como uma atração turística do lugar, abrigando visitantes nos finais de semana. (Foto: Acervo/TV Globo)

6- A autora reclamou, em entrevista, das intervenções da Censura: “É preciso dizer que não tem sido fácil escrever Fogo Sobre Terra. Por vezes o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. Em ‘Fogo Sobre Terra’, de uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram de minha máquina e não chegaram ao vídeo”.

7- Regina Duarte tinha dado à luz a filha Gabriela há somente 45 dias de quando começou a gravar. Para dar conta do trabalho e das obrigações de mãe – ela precisava amamentar a criança de três em três horas. Por conta disso, a atriz se mudou para o prédio em frente à emissora, no Jardim Botânico, a qual eram produzidas as cenas de estúdio.

8- Para realizar o papel de Bárbara, acometida de cegueira psicológica, Regina Duarte foi ver de perto esse universo.

9- O papel de Herval Rossano, intérprete de um homem casado que possuía uma amante negra, também sofreu diversas interferências da Censura.

10- Um grande destaque para Dina Sfat como a excêntrica Chica Martins. A atriz atuou grávida de sua terceira filha, Clara Kutner. Aliás, por sua interpretação, Dina foi a vencedora do Troféu Imprensa de melhor atriz de 1974. Além dela, Juca de Oliveira ganhou o prêmio de “destaque masculino” da televisão naquele ano.

Revista Sétimo Céu destaca Regina Duarte (Bárbara) e Juca de Oliveira (Pedro Azulão), astros da novela Fogo Sobre Terra. Trama exibida em meados da década de 1970 sofreu com as constantes interferências da censura vigente na época. (Foto: Reprodução)

11- O tema de abertura de Fogo Sobre Terra foi interpretada pelo MPB-4 & Quarteto em Cy. A trilha sonora da novela contou com sucessos de Toquinho e Vinicius de Moraes, Djavan, Diana Ross, King Lou, entre outros.

Fonte: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

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