Nostalgia da TV: Tempo de Amar (2017/18)

Baseada na aventura real da avó do escritor Rubem Fonseca, autor da sinopse, a novela Tempo de Amar terminava há 6 anos pela TV Globo, no tradicional horário das 18 horas, como uma obra permeada de muitos desencontros, sofrimento demasiado em seu início, mas com o humor leve e texto rebuscado no decorrer dos seus capítulos. Escrita por Alcides Nogueira, com coautoria de Bia Corrêa do Lago, direção geral de Adriano Melo e a direção artística de Jayme Monjardim, a narrativa foi produzida e exibida de 26 de setembro de 2017 a 19 de março de 2018, em 148 capítulos, e vai ficar marcada também por uma excelente fotografia e produção caprichada em cenários, figurinos e arte, além do elenco de nomes consagrados e promissores como Vitória Strada, Bruno Ferrari, Bruno Cabrerizo, Andreia Horta, Tony Ramos, Marisa Orth, Letícia Sabatella, Regina Duarte, entre outros. Assim, vale relembrar algumas curiosidades e bastidores desta novela épica que possuía uma história cativante e que se encontra na memória afetiva do telespectador de novelas.

Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) nos bastidores de Tempo de Amar. Novela escrita por Alcides Nogueira com a coautoria de Bia Corrêa do Lago completa seis anos do seu término em 2024. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Resumo

Em Portugal, no ano de 1927, José Augusto Correia Guedes (Tony Ramos) é o homem mais respeitado e importante da região de Morros Verdes. Pessoa influente e fabricante de vinhos e azeites na Quinta da Carrasqueira, é pai de Maria Vitória (Vitória Strada), e mantém com ela uma boa convivência. Viúvo, a criou com o auxílio da governanta Delfina (Letícia Sabatella), sua amante há bastante tempo. Fruto deste enlace proibido, a jovem Tereza (Olívia Torres) acredita que José Augusto é seu padrinho. Mas Delfina será capaz de qualquer coisa para fazer com que o amante reconheça como pai sua filha.

Maria Vitória recebe cortejos de Fernão Moniz (Jayme Matarazzo), filho de um amigo de seu pai. Ganancioso, o jovem acha que será seu futuro marido e, sendo assim, o próximo figurão da região. Contudo, durante as festividades da Semana Santa, os olhares de Maria Vitória se encontram com os de Inácio (Bruno Cabrerizo), um rapaz humilde e honesto. Quando os dois dão o primeiro beijo, ela o chama para sua festa de dezoito anos. O que ela não imagina, é que Fernão decidiu por esta data para pedir a mão da jovem em matrimônio, sem imaginar que ela se encontra perdidamente apaixonada por Inácio.

José Augusto, mesmo sendo a favor de um futuro compromisso com Fernão, não exige que a filha siga um caminho que ela não almeja. Assim, Maria Vitória não aceita o pedido de casamento, suscitando a fúria de Fernão, que, rejeitado por conta de um camponês, passa a nutrir a vontade de destruir seu adversário a qualquer preço.

Mas um fato ocorre nesse meio tempo. Antes de conhecer Maria Vitória, Inácio tinha aceitado uma proposta de emprego no Brasil, em um empório no Rio de Janeiro. Na véspera da partida, o casal se entrega à paixão e promete lutar por um reencontro futuro.

Algum tempo após a viagem de Inácio, Delfina acredita que Maria Vitória esteja esperando um filho. Sorrateira, a governanta observa a possibilidade de colocar pai contra filha e conseguir que ele reconheça Tereza. Maria Vitória, então, relata ao pai que ele será avô. Porém, José Augusto é um homem conservador e não esconde a decepção com a herdeira. Assim, a saída encontrada por ele para evitar o vexame de ter uma filha desonrada, é escondê-la da vista de todos, mandando-a para um convento até que ela concebesse a criança. Quando sua filha nasce, Maria Vitória percebe que a bebê foi entregue para adoção e levada por um casal.

Enquanto isso, no Brasil, ao receber a carta constatando que será pai, Inácio resolve voltar a Portugal. Mas, antes de partir, ele é assaltado e acaba desmaiado. Neste instante, ele é socorrido do por Lucinda (Andreia Horta), filha de um médico. Quando volta a si, Inácio descobre que está cego. Lucinda passa então a alimentar a esperança de que Inácio se apaixone por ela, uma vez que ele nunca mais poderá enxergar a cicatriz que ela leva no rosto. Porém, Inácio, mesmo grato por Lucinda ter salvo sua vida, não consegue tirar Maria Vitória do pensamento. Assim, apaixonada, Lucinda irá fazer de tudo para atrapalhar esse reencontro.

Andreia Horta (foto acima) interpretou Lucinda em Tempo de Amar. Elenco talentoso de nomes promissores e renomados foram alguns dos diferenciais do folhetim das 18h. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Produção

As primeiras cenas da novela foram realizadas na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. O local serviu de locação para um convento. A produção ainda fez tomadas no Porto do Rio. A produção de arte também levou para o lugar 13 carros da época, entre outros objetos. As cenas retrataram as idas e vindas dos personagens de Portugal e Brasil. O trajeto entre os dois países à época levava mais de três meses para ser finalizado.

O sul do Brasil também serviu de cenário para o enredo. Em julho de 2017, em pleno inverno, a equipe da novela enfrentou temperaturas abaixo de zero. A produção realizou cenas em casas do roteiro turístico Caminhos de Pedra – como a Casa da Erva-Mate e a Cantina Strapazzon –, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS), e em pontos tradicionais de Garibaldi, como o Passeio da Barragem e a estação da Maria Fumaça, entre outros lugares.

Nos Estúdios Globo, foram elaboradas duas cidades cenográficas. De um lado, a modernidade do Rio de Janeiro do final da década de 1920. Do outro, uma aldeia portuguesa afastada dos grandes centros urbanos e com aspecto rural.

Malas, passaportes, cartazes, gramofones e muitos outros objetos foram garimpados em antiquários ou elaborados particularmente para o folhetim. A equipe encomendou cestos de vime característico da colheita da uva em Portugal, além de mais de 80 malas de época. Também foi preciso fazer a importação de panelas de ferro típicas de Portugal, além dos carros daquele tempo para efetivação das cenas.

Não restrita apenas aos livros, a figurinista Paula Carneiro se apoiou em pesquisas sobre a época em que se passava o enredo, 1927 a 1930. O figurino marcava bem a diferença entre os personagens de Portugal, que tinham elementos anacrônicos e observavam uma linha atemporal. Os que moravam no Rio, na época a capital do país, se trajavam com o estilo típico da década, sinalizadas por vestidos mais retos e na altura dos joelhos, silhueta quadrada, franjas e vários acessórios de cabelo.

Nos núcleos cariocas, os cortes de cabelo eram os usados comumente na época e a ousadia marcou o estilo de diversos personagens. Celeste Hermínia (Marisa Orth) utilizava peças contemporâneas e calças, trajes que não era habitual no guarda-roupa feminino, assim como Olímpia (Sabrina Petraglia), que utilizou um figurino muito típico dos anos 1920, porém, com elementos que iam contra às regras daquele período.

Letícia Sabatella brilhou como a vilã Delfina em Tempo de amar. Produção primou pela excelente fotografia e esmero em cenários, figurinos e arte. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Bastidores e curiosidades

A saga dos protagonistas de Tempo de Amar é inspirada na aventura real da avó do escritor Rubem Fonseca, autor do argumento. Ela saiu de Portugal deixando a filha pequena (mãe de Rubem) com seus pais para encontrar seu grande amor, que havia se mudado para o Brasil a trabalho e, em determinado momento, parou de enviar cartas. Para a novela, a história foi adaptada por Alcides Nogueira com o suporte de Bia Corrêa do Lago , filha de Rubem Fonseca. (Site Teledramaturgia)

A novela estava prevista para começar no segundo semestre de 2018 e, na sinopse original, a obra se passava entre os anos de 1886 e 1888. O telespectador, naquele momento, vinha de uma novela agitada e alegre (Novo Mundo) e, no início, achou estranho a desaceleração no ritmo e o demasiado sofrimento dos personagens nas primeiras semanas de Tempo de Amar, o que rendeu ao folhetim o título de “Tempo de Sofrer”.

O autor relatou que o começo sofrido foi preciso, para que a trama pudesse engatar mais a frente. O roteiro, então, não foi mudado e logo os personagens encontraram dias melhores. O humor, leve, foi colocado aos poucos. Neste sentido, obtiveram destaque o núcleo da geleia Supimpa – de Alzira (Deborah Evelyn), Pepito (Maicon Rodrigues) e companhia – e a adorável Dona Nicota (Olívia Araújo).

Depois de um tempo, onde o telespectador precisou habituar-se à novela, Tempo de Amar encontrou seu caminho, com leveza e propondo um escapismo de qualidade.

Uma excelente fotografia e produção caprichada em cenários, figurinos e arte, foram pontos positivos da produção. Com um enredo de época que refletia na atualidade, a novela tratou de temas do final da década de 1920 que eram benquistos à pauta dos dias de hoje, como o empoderamento feminino, racismo, corrupção política, entre outros temas.

A longa separação dos personagens principais, em algumas situações forçadas, fez a trama parecer não sair do lugar em alguns momentos. Mesmo com amigos em comum vivendo na mesma cidade, Inácio (Bruno Cabrerizo) e Maria Vitória (Vitória Strada) ficaram a maior parte do tempo sem se encontrarem.

Jayme Monjardim realizou a estreia de dois jovens atores para interpretarem os personagens centrais Inácio e Maria Vitória: Bruno Cabrerizo e Vitória Strada. Ela foi destaque desde o começo, seja por sua beleza e carisma ou por sua segurança em cena. Já Bruno foi criticado, mais por conta do perfil de seu personagem do que por ele próprio. Inclusive, ele recebeu o apelido de Inércio nas redes sociais. Contudo, da metade para o fim da novela, o ator mostrou desenvoltura em um momento onde seu papel aumentava gradativamente no enredo.

Vicente (Bruno Ferrari) e Maria Vitória (Vitória Strada) em cena de Tempo de Amar. Trama das 18h possuía um elenco feminino de personagens fortes, que impulsionaram o sucesso da narrativa. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Muitos foram os destaques femininos da novela interpretando personagens fortes: Marisa Orth (Celeste Hermínia), Regina Duarte (Lucerne), Andreia Horta (Lucinda), Letícia Sabatella (Delfina) e Deborah Evelyn (Alzira), entre outras. Já no elenco masculino, Tony Ramos, Bruno Ferrari, Cássio Gabus Mendes, Nelson Freitas e o jovem Maicon Rodrigues realizaram atuações irrepreensíveis durante a trama.

Primeira novela no Brasil do ator Bruno Cabrerizo. Também foi a primeira novela das atrizes Vitória Strada e Bárbara França (vinda de Malhação, além de figuração e pequenas participações em novelas).

Abertura

Embalada pela música “Amar Pelos Dois”, interpretada pelo cantor português Salvador Sobral, a abertura fazia alusão aos casais de histórias clássicas de amor através dos tempos, como Adão e Eva, Lampião e Maria Bonita, Zumbi e Dandara e Romeu e Julieta.

Trilha Sonora

A primeira trilha sonora de Tempo de Amar possuía como destaque em sua composição musical as canções: “Amar pelos Dois” de Salvador Sobral (tema de abertura); “Tempo de Amar” do grande compositor e cantor Milton Nascimento (tema de Maria Vitória e Vicente); “Fado” de Maria Bethânia (tema de Delfina); “Falando de Amor“, uma parceria de Carminho e Chico Buarque (tema de Celeste Hermínia e Conselheiro Francisco); “Caminho de Pedra”, interpretada por Caetano Veloso; “Com Mais Ninguém” de Djavan (tema de José Augusto e tema de Caroline de Sobral e Edgard); entre outras canções. A capa do primeiro álbum foi estampada pelos atores Bruno Cabrerizo e Vitória Strada, que interpretavam os protagonistas da novela, Inácio e Maria Vitória, respectivamente.

Já a segunda trilha sonora da novela tinha como destaques musicais nacionais e internacionais: “Thou Swell“, de Taryn Szpilman, Nan i Palmeira e Iuri Cunha (tema de locação: Maison Dorée); “Cicatriz” de Paula Fernandes (tema de Lucinda e Inácio); “Mês de Maio” de Almir Sater (tema de Inácio); “O que Dizer de Você” do duo brasileiro Outroeu (tema de Lena e Giuseppe); “Meu Coração está Amando” na voz de Gustavo Mioto (tema de Angélica e Lucas); “A Outra Metade” de Chico Pessoa (tema de Nicota e Geraldo); “After You’ve Gone“, outra canção de Salvador Sobral; entre outros sucessos. Desta vez, a capa do álbum foi estampada por Tony Ramos e Mariza Orth, que realizaram os papeis de José Augusto Correia Guedes e Celeste Hermínia, respectivamente.

Ainda, outras duas trilhas foram lançadas por ocasião da boa repercussão da novela como a Trilha sonora instrumental, com música original de Nani Palmeira e Iuri Cunha e a Trilha sonora complementar, com o título de “Serenata” e composta por Alexandre Guerra com canções como “Amor Simples”, “Ponte para a Solidão” , “Nem o Tempo Desfaz“, entre outras.

Celeste Hermínia / Mafalda (Marisa Orth) e José Augusto (Tony Ramos) nos bastidores de Tempo de Amar. Elenco estelar e um enredo de época que refletia na atualidade, foram diferenciais positivos do enredo. (Foto: Reprodução/Marília Cabral/TV Globo)

Audiência

A novela fechou com uma média final de 23 pontos no Ibope da Grande São Paulo (quando se esperava 20), tendo enfrentado a pior época para um programa do fim de tarde: horário de verão, a estação em si, as festas de fim de ano e carnaval.

Fonte: Site Teledramaturgia.

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