Livremente inspirada em filmes como Hair (de Milos Forman, 1979), Papai Pernilongo (de Jean Negulesco, 1955) e Presente de Grego (de Charles Shyer, 1987), a novela Estrela-Guia estreava há exatos 23 anos pela Rede Globo com uma trama que cumpriu bem o seu objetivo de entreter, sem a necessidade de prolongar o enredo. Muito por conta de sua protagonista, a cantora Sandy, que cumpria uma agenda de show extensa na época do folhetim. Produzida pela emissora no horário das 18 horas, de 12 de março a 16 de junho de 2001, em 83 capítulos, e escrita por Ana Maria Moretzsohn, com direção de núcleo de Denise Saraceni, a obra foi sucesso de público e ficou marcada como a “novela da Sandy“, uma vez que foi especialmente idealizada para a cantora protagonizar. Contudo, a emissora carioca nunca deixou que a produção fosse viabilizada para uma possível reprise pela sessão vespertina Vale a Pena Ver de Novo. O enredo só retornou 18 anos depois, através do Viva, canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo e em definitivo pelo Globoplay, desde junho de 2020. Assim, vale relembrar algumas curiosidades, bastidores e a repercussão dessa novela nostálgica que possuía uma estrela em ascensão e um elenco de grandes nomes da nossa teledramaturgia.
Resumo
No começo da década de 1980, Bob (Marcos Winter) e seu amigo Tony (Guilherme Fontes) trabalhavam em uma corretora de valores. Em férias na Califórnia, Bob conheceu e se apaixonou por Catherine (Maitê Proença), que foi concebida e criada em uma comunidade hippie. Casados, Bob se desfez de tudo o que tinha e comprou, no interior de Goiás, uma fazenda, que o casal batizou de Jagatah (em sânscrito, “Universo”). Neste local, eles fundaram a comunidade “Arco da Aliança”. Para a filha do casal, chamada de Cristal, Bob chamou seu amigo Tony para ser o padrinho da recém-nascida.
Bob, agora com o nome “novo” de Hanuman (em hindu, uma entidade sagrada), e Catherine, agora Kalinda (Kali, um dos nomes da deusa hindu Sakti), abrigam pessoas aptas a viver com abnegação e a qual todos acham que a virada do milênio restaurará esperanças de paz entre os homens. Eles habitam em harmonia com a natureza, não possuem dinheiro nem riquezas, e tudo é repartido igualmente. Neste território, Cristal é a “estrela-guia” da comunidade e com sua voz belíssima, entoa mantras que repetem as normas de harmonia em que todos acreditam.
Aos 17, quando perde os pais, Cristal reencontra o padrinho Tony, que não via há quinze anos. Ele, na posição de seu tutor, vai a Goiás encontra-la para viver no Rio de Janeiro. Tenso por conta da vida na cidade, Tony possui quase vinte anos mais que Cristal. Há aproximadamente três anos, namora, ainda que com pouco interesse – a mimada e frívola socialite Vanessa Rios (Carolina Ferraz), que não mede escrúpulos e o poder do dinheiro para mantê-lo preso. Ela é viúva e mãe de Gisela (Thaís Fersoza), adolescente indisciplinada com quem nutre um conflito.
No decorrer da trama, Tony terrmina percebendo, assim como Cristal, que estão apaixonados um pelo outro. Ele fica confuso e se culpa por este forte sentimento. Assustado, Tony procura em Jagatah por Purunam (Nelson Xavier), um tipo de líder no Arco da Aliança e, com o auxílio dele e da comunidade, possibilita o encontro dos dois para que Tony declare seu amor.
Ao perceber que Cristal ameaça a sua relação com Tony, Vanessa vai realizar as maiores armações para tirar a jovem de perto dele, contando com o auxílio de sua quase futura sogra, Carlota (Rosamaria Murtinho), e depois, formando uma aliança com a “perua country” e sem escrúpulos Daphne Pimenta (Lilia Cabral), esposa do fazendeiro Alaor Pimenta (Sérgio Mamberti). Entre os planos de Daphne está expulsar a comunidade do Arco da Aliança e, para isso, ela não vai medir esforços de utilizar o filho Carlos Charles (Rodrigo Santoro), um rapaz de caráter contestável.
Produção
Após várias especulações, o ator Guilherme Fontes foi chamado para interpretar Tony, o par romântico de Sandy na novela. Conforme informado no seu perfil, Tony teria de ser dezoito anos mais velho que Cristal (Sandy), uma vez que, no enredo, ele era tutor da garota, amigo do falecido pai dela. O ator, que estava há quatro anos ausente da TV, estava à época comprometido com os problemas de seu filme Chatô, o Rei do Brasil (lançado anos depois, em 2015).
O elenco fez workshops sobre astrologia, antropologia, mantras e sociedade alternativa para entender bem a filosofia sobre a vida e a rotina de seus personagens.
Mônica Torres e Fernanda Rodrigues tiveram noções de fabricação de joias e treinaram a prática de jogar tarô. Já Lília Cabral, Sérgio Mamberti e Nizo Neto aprenderam noções básicas de hipismo com a veterinária Gisela Ferraz, responsável pelos cavalos do folhetim.
A novela teve cenas realizadas na cidade goiana de Pirenópolis e Anápolis, as duas localizadas no estado de Goiás. A segunda cidade, inclusive, serviu de locação para a Fazenda da Rainha, cenário de Alaor (Sérgio Mamberti) e Daphne Pimenta (Lília Cabral).
O batizado de Cristal (Sandy) foi feito em Lençóis, na Bahia, e as cenas do primeiro encontro de Bob (Marcos Winter) e Catherine (Maitê Proença) foram gravadas em São Francisco, na Califórnia (EUA).
Ainda, para ilustrar o ambiente dos personagens, a produção de arte contou com a consultoria do esotérico Pedro Tornaghi, que conduziu até o estratégico posicionamento de objetos e a disposição de símbolos, cores, flores e tecidos, cuidadosamente estudados para compor os cenários.
Bastidores e curiosidades
“A novela da Sandy”, como ficou conhecida, aproveitando a popularidade da dupla Sandy e Júnior Lima, grande sucesso musical na época. Os cantores vinham da experiência como atores no seriado dominical Sandy & Jr., desde 1999. Eles continuaram gravando a série mesmo após o fim da novela: Sandy & Jr. terminou sua exibição em março de 2003, depois de quatro temporadas. (Site Teledramaturgia)
A novela permaneceu somente três meses em exibição, finalizando com 83 capítulos. Uma novela feita para ser curta e não atrapalhar a agenda de shows de Sandy e Júnior. A autora, Ana Maria Moretzsohn, conseguiu assim mostrar uma trama sem aquele período no enredo onde nada acontece, mantendo um público cativo.
Algumas inspirações para a autora foram filmes como Hair (de Milos Forman, 1979), Papai Pernilongo (de Jean Negulesco, 1955) e Presente de Grego (de Charles Shyer, 1987). (Site Memória Globo)
Os destaques no elenco foram Carolina Ferraz, como a frívola vilã Vanessa, Lília Cabral, que interpretou a “perua country” Daphne Pimenta, e Rodrigo Santoro vivendo o playboy Carlos Charles.
Júnior Lima também atuou em Estrela-Guia, em um papel menor: Zeca, um malabarista de rua.
A revelação da trama foi Thaís Fersoza, ainda novata em televisão, fazendo uma interpretação segura à sua personagem, Gisela.
A novela foi o primeiro trabalho dos atores Sérgio Marone e Graziela Moretto. Também foi a primeira novela na Globo de Thiago Fragoso após uma participação especial no seriado adolescente Malhação, em 1996.
Abertura
Embalada por uma nova versão da romântica “Imagine”, originalmente interpretada por John Lennon e, desta vez, na voz marcante de Paulo Ricardo, a abertura de Estrela-Guia apresentava imagens que remetiam ao esoterismo mesclado com uma forte luz entre uma figura e outra. Ao final, é apresentada montanhas, uma ponte e aves em direção a cidade, que precede o entendimento que significa a mudança de vida da protagonista Cristal (Sandy) depois da morte dos pais. Vale ressaltar que o tema da abertura foi alterado nas reapresentações da novela no Viva e no Globoplay, a qual foi inclusa a canção “Feel My Heart”, de Adi Goldstein.
Trilha Sonora
Com sonoplastia de Octávio Lacerda Neto, produção musical de Sérgio Saraceni e direção musical de Mariozinho Rocha, a trilha única de Estrela-Guia mesclava canções nacionais e internacionais. Entre os destaques da trilha do enredo estavam: “Imagine“, de Paulo Ricardo (tema de abertura) “Just The Way You Are”, de Barry White (tema de Vanessa); “Por um Triz“, de Lulo Scroback (tema de Gisela); “Estrela da Terra“, a frenética “Rebelião”, do grupo mineiro Skank com a participação de Andreas Kisser (tema de Carlos Charles), além da bela “Amor de Índio“, do grupo Roupa Nova (tema de Cristal e Tony) e a clássica “Como Nossos Pais” de Elis Regina (tema do núcleo de Jagatah); entre outras composições. A capa do álbum apresentava somente o logo da novela, sem nenhum artista do elenco da trama como a maiorias das capas habituais de novelas da época.
Por que foi Esquecida?
Segunda novela solo de Ana Maria Moretzsohn para o horário das 18h depois da bem sucedida Esplendor, a “novela da Sandy” permaneceu somente três meses no ar, com um total de 83 capítulos e relativo sucesso. Contudo, a trama nunca foi escolhida para uma possível reprise em televisão aberta, através da faixa vespertina Vale a Pena Ver de Novo. Em 30 de novembro de 2003, o colunista Daniel Castro, então no jornal Folha de S. Paulo, disse que, depois de anunciar, a Globo tinha desistido de trazer de volta a novela estrelada pela cantora Sandy. No começo, a reapresentação ocorreria entre janeiro e março de 2004 no Vale a Pena Ver de Novo. Contudo, no mesmo período, a Globo negociava a renovação do contrato com Sandy e Jr, com a intenção de trazer de volta a série dominical estrelada pela dupla. Mas, naquele momento, os artistas estavam focados na carreira internacional e resistiam à ideia de voltar a dedicar quatro dias na semana às gravações da atração.
Então, em razão da negativa da dupla, a Globo terminou desistindo de reapresentar a trama de Ana Maria Moretzsohn. Conforme noticiou a Folha de S. Paulo, a emissora não quis realizar “propaganda grátis” da dupla e engavetou a reprise.
Reprises
No entanto, mesmo esquecida pela Globo, Estrela-Guia foi reprisada através do canal Viva (TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo) de 08 de abril a 31 de julho de 2019, às 11h45 (com reprise do último capítulo em dois dias consecutivos). Esta apresentação coincidiu com a volta aos palcos de Sandy e Júnior, em 2019, após 12 anos de separação, com a turnê “Nossa História” pelo Brasil, em comemoração aos 30 anos da dupla.
Também, em julho de 2020, a novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma de streaming da Globo), no mesmo mês que a série documental Sandy e Júnior, a História, que apresentava os bastidores da turnê da dupla de Campinas, foi disponibilizada no streaming da emissora.
Fonte: Site Teledramaturgia, Memória Globo e TV História.
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