Cultura Pop: Ilha das Bruxas (1991)

Primeira e única minissérie escrita pelo ator Paulo Figueiredo, a minissérie Ilha das Bruxas estreava há exatos 33 anos pela extinta Rede Manchete (1983-1999), no que viria a ser uma das obras mais sombrias apresentadas pela emissora de Adolpho Bloch (1908-1995). Baseada na obra do pesquisador catarinense Franklin Cascaes (1908-1983) e exibida de  4 de março a 28 de março de 1991, em 16 capítulos, a trama soturna dirigida por Henrique Martins foi marcada pela temática pouco habitual e inovadora para a época, com o enredo central envolvendo cultos de bruxas e o sobrenatural. Além disso, um elenco de nomes promissores e consagrados, que incluía astros como Irving São Paulo, Mirian Pires, Daniela Camargo, Wanda Kosmo, Umberto Magnani, André Gonçalves, Julia Lemmertz, Isaac Bardavid, entre muitos outros, foram pontos positivos do folhetim do começo da década de 1990. Assim, vale relembrar um pouco desta produção cult da nossa cultura pop, e que primou pelo requinte, originalidade e a ousadia, marcas registradas da extinta emissora carioca.

A atriz Desirée Vignolli foi Domingas em Ilha das Bruxas, minissérie exibida pela extinta Rede Manchete. Clima sombrio de mistério e suspense ao longo de seus capítulos foram alguns diferenciais do enredo de 1991. (Foto: Reprodução/TV Manchete)

Resumo

Os mistérios sobre uma lenda na Ilha de Santa Catarina, a qual a herança da colonização açoriana leva a população a render cultos às bruxas. Em 1919, Pedro (Irving São Paulo) é um jovem pescador noivo de Alice (Daniela Camargo), filha de Giuliano (Eduardo Conde) e Alma (Denise Del Vecchio) e neta da dominante Ludovica (Mirian Pires). O noivado dele é motivo de inveja para Washington (Nelson Freitas), que possui como pai o agricultor Geraldo (Umberto Magnani), o homem mais poderoso da região.

Entretanto, Pedro é o centro da ganância de uma força maior: Selena (Dedina Bernadelli), uma jovem bruxa que sai durante a noite para enfeitiçá-lo e cativa-lo. Mas Selena esconde um grande segredo, que faz com que ela fique estreitamente unida a Ludovica, a líder das bruxas da Ilha de Santa Catarina.

Ludovica manipula Aquilina (Maria Helena Dias), Domingas (Desirée Vignolli) e Mariana (Ana Cecília) e uma massa de mulheres rebeladas contra a opressão masculina, que se reúnem na floresta para fazer rituais pagãos e bruxarias para assolar os homens com seus feitiços. Assim, afim de rechaçar essa bruxaria, Ludovica se defronta com o poder de Constância (Wanda Kosmo), uma bruxa boa, e o Doutor Benzedeiro (Isaac Bardavid), pai de Pedro e o curandeiro da vila.

Produção

Como diversas minisséries da TV Manchete na época, Ilha das Bruxas possuía várias cenas externas. Neste caso, a essência da trama era o encanto rural da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis), a qual a direção de arte teve o requinte de refazer um vilarejo da época de 1910.

O figurino das bruxas foi apoiado em vestimentas antigas vindas da região dos Açores, uma vez que os açorianos auxiliaram para colonizar a região de Florianópolis.

Bastidores e curiosidades

Daniel Couri, formado em Jornalismo e fã de cultura pop e obscuridades em geral, disse em seu blog, “Pop Fantasma“, que apesar de sua produção modesta, Ilha das bruxas conseguiu manter um raro clima sombrio de mistério e suspense ao longo de seus capítulos, remanescente dos antigos filmes de terror, um feito não muito usual em séries brasileiras de TV na época. Porém, a Manchete gostava de ousar em sua teledramaturgia e não poupou em abordar temas polêmicos em Ilha das bruxas: cenas fortes retratando rituais de magia negra, bebês de verdade tendo seu sangue sugado, pragas das bruxas envolvendo cobras, aranhas e morcegos, além de cenas picantes de sexo. “Tudo isso deixou a trama mais pesada, mas inegavelmente assustadora“, pontuou o jornalista.

Propaganda de lançamento de Ilha das Bruxas destacava o elenco e o enredo “sinistro” da minissérie de 1991. Escrita por Paulo Figueiredo, minissérie primou pelo requinte apesar da produção modesta. (Foto: Reprodução/TV Manchete)

A concepção do roteiro nasceu quando a jornalista Bebel Orofino Schaefer, pesquisando sobre bruxaria, decidiu unir tramas que o artista plástico Franklin Cascais (1908-1983), pessoa célebre em Florianópolis, contava e, assim, transformá-las no projeto do que, pensava, seria um capítulo do seriado Fronteiras do Desconhecido. “Ofereci o trabalho ao Atílio Riccó [então, diretor de dramaturgia da TV Manchete], mas ele achou que, em vez de um episódio de série, a história valia uma série própria.”, destacou em entrevista à Revista Manchete na época da estreia da minissérie.

Bebel realizou o argumento e as pesquisas, para que o autor Paulo Figueiredo delimitasse os perfis dos personagens.

O elenco é ótimo. Entre veteranos e rostos pouco conhecidos, alguns jovens em início de carreira também participaram da minissérie, como André Gonçalves, em seu primeiro papel da TV, e o então novato Nelson Freitas“, afirmou Daniel Couri.

Abertura

Com música original de Carlos Cruz e Luciano Alves, a abertura de Ilha das Bruxas possuía todo um aspecto soturno, assim como a temática central da minissérie, calcada em mostrar ao público um clima sombrio de mistério e suspense no decorrer dos seus capítulos. Assim, uma lua cheia era entremeada por uma fumaça rosa (que aparentava ser fruto de algum tipo de feitiço). Enquanto isso, um coro feminino ecoa durante toda a vinheta. No final, a lua cheia é focalizada e abertura é encerrada.

Trilha Sonora

Notável a ausência de uma trilha sonora cantada, já que as músicas incidentais se resumiam a cantos e gemidos de mulheres, o que dava um tom soturno à produção, condizente com a proposta da minissérie. (Site Teledramaturgia)

A veterana Mirian Pires fez a influente Ludovica em Ilha das Bruxas. Elenco de nomes promissores e consagrados foram alguns dos diferenciais do enredo sombrio que completa 33 anos em 2024. (Foto: Reprodução/TV Manchete)

Reprises

Apresentada inicialmente de 4 a 28 de março de 1991, em 16 capítulos (de segunda a quinta-feira, às 22h30), Ilha das Bruxas foi editada e reprisada de 06 de abril a 01° de maio de 1992, em 23 capítulos (de segunda a sábado, às 19h30).

A minissérie também foi reapresentada de 21 de novembro a 16 de dezembro de 1994, em 20 capítulos (de segunda a sexta-feira, às 19h30).

Fontes: Sites Teledramaturgia e Pop Fantasma.

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