Nostalgia da TV: Vidas Opostas (2006/07)

Produzida e exibida pela Record TV, a novela Vidas Opostas estreava há 17 anos pela emissora do bispo e empresário Edir Macedo, como mais uma trama marcante realizada pela emissora, com alta dose de violência mas também com muito romance e um retrato realista do Rio de Janeiro com todas as suas mazelas e caos urbano. O folhetim, que foi ao ar entre 21 de novembro de 2006 e 27 de agosto de 2007, em 240 capítulos, contava a história de amor entre Miguel (Léo Rosa), um homem rico e aventureiro apaixonado por escalada, e Joana (Maytê Piragibe), uma jovem pobre que trabalha como guia de esportes de aventura e mora na comunidade do Torto, no Rio de Janeiro. Escrita por Marcílio Moraes, com a colaboração de Antônio Carlos de Fontoura, Joaquim Assis, Luiz Carlos Maciel, Melissa Cabral e Paula Richard, sob direção de Edgard Miranda e Vicente Barcellos e direção geral de Alexandre Avancini, a novela possuía no elenco nomes como Maytê Piragibe, Léo Rosa, Heitor Martinez, Lavínia Vlasak, Marcelo Serrado, Lucinha Lins, Nicola Siri e Raul Gazolla, que fizeram parte dos papéis centrais da produção. Por isso, vale relembrar o enredo, bastidores e curiosidades desta trama nostálgica que marcou a história da teledramaturgia da Record TV durante a segunda metade dos anos 2000.

Maytê Piragibe (Joana) e Léo Rosa (Miguel) foram os protagonistas de Vidas Opostas, novela da Record TV que completa 17 anos de sua estreia em 2023. (Foto: Reprodução/Record TV)

Enredo

Miguel (Léo Rosa) é um homem rico, apaixonado por escalada e aventureiro, que almeja futuramente se entregar a este hobby. Já Joana (Maytê Piragibe) é uma guia de esportes de aventura jovem e sem recursos que vive na comunidade do Torto, no Rio de Janeiro. Assim, ainda que tenha um noivado com uma moça elegante e milionária de alta classe social, a frívola Erínia (Lavínia Vlasak), Miguel se encanta por Joana, e possui seu interesse correspondido por ela. Joana, por sua vez, já teve um relacionamento amoroso com Jeferson (Ângelo Paes Leme), que se transformou em traficante de drogas, foi encarcerado e passou quatro anos na prisão. Ele ficou livre exatamente quando Miguel terminou o noivado para se entregar ao seu amor por Joana.

Então, o meliante começa a chefiar uma quadrilha e se transforma no comandante da boca de fumo. Ele deseja Joana novamente, mesmo que ela não queira e, se for necessário, ameaçará a vida de Miguel. Por sua vez, Erínia, a ex-noiva de Miguel, não aceita o fim do relacionamento e fará o que for preciso para separar o casal. O cenário fica ainda mais difícil quando o lugar de Jeferson na quadrilha de traficantes é ocupada pelo seu irmão Jacson (Heitor Martinez), um indivíduo tão perigoso quanto ele e que está inclinado a tomar para si tudo o que já foi de seu irmão um dia, inclusive Joana.

A mãe de Miguel, Ísis Campobello (Lucinha Lins), é viúva e dona das organizações que o falecido marido lhe deixou. Ela morava sozinha desde a partida dele, até a volta de um grande amor na juventude, o italiano Bóris Sanchez (Nicola Siri), há trinta anos tido como morto. Ele vai auxiliá-la a amparar o filho e a encarar os inimigos que a rondam: o vice-presidente Mário (Cecil Thiré), que trai sua confiança e arma uma cilada para pegar seu dinheiro; Félix (Roger Gobeth), um advogado mentiroso; e Maria Lúcia (Flávia Monteiro), uma parente que não tem dúvidas em se juntar aos que confabulam contra a milionária.

Ainda, a rede de intrigas envolve uma disputa entre a honestidade e a corrupção dentro da Justiça e da Polícia, onde, de um lado, se encontra o cruel delegado Denis Nogueira (Marcelo Serrado), um psicopata que engana a todos, que pensam que ele é um “homem de bem”, elegante e inteligente. Do outro, o justo promotor Leonardo (Luciano Szafir), que enfrenta os inimigos da lei e precisa prestar contas para as três mulheres que flagelam sua vida, a mãe Lisinha (Íris Bruzzi), a filha Carla (Juliana Lohman) e a ex-esposa Patrícia (Baby Xavier), além da delegada Maria do Carmo (Raquel Nunel), a qual se apaixona.

A trama acompanha ainda a rotina dos moradores do Torto e mostra com veracidade o mundo dos marginais, a vivência nos presídios, as gangues e guerras entre quadrilhas, tudo isso mesclando amor e violência, riqueza e pobreza, sonho e realidade, honestidade e corrupção, heroísmo e vilania, ordem e caos.

Lavínia Vlasak interpretou Erínia, noiva do protagonista Miguel (Léo Rosa) em Vidas Opostas. Escrita por Marcílio Moraes e com direção geral de Alexandre Avancini, novela foi um grande sucesso da emissora do Bispo Macedo. (Foto: Reprodução/Record TV)

Produção

As cenas da fictícia comunidade do Morro do Torto foram realizadas na comunidade Tavares Bastos, centro do Rio de Janeiro. A calmaria do lugar ocorria devido a esta possuir um batalhão da polícia militar e, também, por estar perto do Palácio das Laranjeiras (sede do Governo Fluminense) e do Palácio do Catete (antiga sede do Governo Federal). Era uma das comunidades mais pacatas do Rio de Janeiro, daí a escolha em realizar as gravações no local. As tomadas aéreas (de helicóptero) eram feitas dentro da favela da Rocinha.

Enquanto Maytê Piragibe realizou aulas de alpinismo para representar sua personagem, Heitor Martinez, habitual em fazer tipos de galã, necessitou passar por uma intensa caracterização para ficar inidentificável no papel do mafioso Jacson.

Bastidores e curiosidades

Realizando oposição às novelas globais, que retratavam um Rio de Janeiro atraente, como uma cidade “sem defeitos”, a proposta de Vidas Opostas, na concorrência, Record TV, era exatamente o oposto: expor a cidade como ela verdadeiramente é, com seus problemas sociais, pobreza e violência, em divergência com a faixa mais abastada da população. O enlace entre o rapaz rico, da Zona Sul, com a jovem moradora da comunidade deu a tônica do folhetim.

O autor Marcílio Moraes relatou para Flávio Ricco e José Armando Vannucci em entrevista para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”: “Como tínhamos uma liberdade maior para propor temas, levei aos diretores [da Record] a ideia de uma novela na favela, num contraponto à velha máxima da Cidade Maravilhosa.”

Nasceram personagens reais, assim como a comunidade onde parte do enredo se desenvolvia. Na tela, personagens bem humanizados, com seus acertos e erros, certezas e dúvidas, amores e ódios. “Jamais faríamos aquilo na Globo”, enfatizou Marcílio Moraes.

Direção competente e boa interpretação de atores em um texto cativante, Vidas Opostas foi bastante julgada por retratar uma violência poucas vezes mostrada em telenovelas. O resultado final foi o melhor possível. Atuações marcantes, como dos antagonistas feitos por Heitor Martinez (Jacson) e Marcelo Serrado (Nogueira), marcaram o folhetim.

Vidas Opostas foi a primeira trama das atrizes Gabriela Durlo, Bianca Salgueiro, Roberta Santiago e Cinara Leal e dos atores Léo Rosa, Bukassa Kabengele, Leandro Léo e Daniel Dalcin.

Abertura

Com o clássico “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, em uma versão instrumental feita por Léo Gandelman como música-tema, a abertura da novela apresentava em imagens os dois lados do Rio Janeiro e as suas exorbitantes diferenças sociais, em um jogo de espelhos que reproduzia situações paradoxais. Ao término da vinheta, os espelhos mostravam o logotipo, que revelava uma duplicação simétrica e espelhada do título do enredo, de maneira a corroborar a ideia da oposição.

Heitor Martinez (foto acima) foi um dos destaques da trama como o vilão Jacson, um traficante da pesada que passa na novela a comandar a boca de fumo da Comunidade do Morro do Torto, no Rio de Janeiro. (Foto: Reprodução/Record TV)

Prêmios

Por suas interpretações na novela, Marcelo Serrado e Jussara Freire venceram o prêmio entregue pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como o melhor ator e a melhor atriz em televisão no ano de 2007. Jussara ganhou ao lado de Camila Pitanga (por Paraíso Tropical, da Globo), e Marcelo venceu por sua interpretação em Mandrake, série da HBO, junto com Wagner Moura (por Paraíso Tropical). Ainda, Vidas Opostas ganhou o Troféu Imprensa de melhor novela de 2007, dividindo a honra com Paraíso Tropical.

Trilha Sonora

Chico Buarque foi o responsável por toda a trilha sonora de Vidas Opostas, a pedido de Márcio Vip Antonucci, produtor musical da trama e amigo pessoal do compositor. As músicas eram de sua autoria e ficaram na voz de outros cantores, em versões originais ou regravações. Chico cantou somente duas canções: “Ode aos Ratos” e “Porque Era Ela, Porque Era Eu”.

Exibição

A Record apenas resolveu pelo horário de exibição de Vidas Opostas (22 horas) restando vinte dias para o início. A emissora possuía dúvidas se apresentava sua novela às 21 horas, quando concorreria justamente com a produção do horário nobre da Globo (no período era Páginas da Vida), ou às 22 horas, quando a concorrência era com a “novela das dez” da Band (Paixões Proibidas, que estava começando também na época).

A novela foi classificada como “imprópria para menores de 14 anos” pelo Ministério Público, devido aos seus assuntos violentos, com cenas de tráfico e uso de drogas. Por conta disso, a produção foi impedida de ser exibida antes das 21 horas.

Audiência

A Record TV, por mais de uma vez, venceu a Globo em audiência durante a apresentação de Vidas Opostas. O mesmo já havia ocorrido anteriormente com a novela Prova de Amor, da mesma emissora e exibida entre 2005 e 2006. O fato aconteceu por duas semanas seguidas, em capítulos apresentados às quartas-feiras (01 e 07 de fevereiro de 2007), no horário onde a concorrente, TV Globo, exibia o futebol.

A novela marcou seu melhor desempenho em audiência no último capítulo, numa segunda-feira, dia 27 de agosto de 2007: 25 pontos de média, com 40% de share (participação). O canal ficou em primeiro lugar no ibope, na frente da Globo, durante 44 minutos. “Sabia que a audiência seria alta, mas foi além das minhas expectativas“, ponderou Marcílio Moraes.

Léo Rosa (Miguel) e Maytê Piragibe (Joana) em imagem de divulgação de Vidas Opostas. Trama exibida pela Record superou a expectativas da emissora e chegou a ficar na liderança do Ibope em algumas oportunidades. (Foto: Reprodução/Record TV)

Reprise

Vidas Opostas foi reprisada entre 28 de março e 11 de junho de 2012, às 21 horas, mas dessa vez, não houve sucesso em sua reapresentação. Por conta disso e também pela baixa repercussão, a Record a encurtou o máximo que conseguiu para alterar a programação. Assim, dos 240 capítulos originais foram exibidos somente 53.

Fonte: Site Teledramaturgia.

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