Mofos & Cults: Gaivotas (1979)

Há exatamente 44 anos, terminava pela extinta Rede Tupi (1950-1980) a novela Gaivotas, uma trama que possuía o suspense como o grande filão da trama, com destaque particular para Márcia Real, como a mestra Idalina. Escrita por Jorge Andrade e dirigida por Antonio Abujamra, Henrique Martins e Edson Braga, a novela foi apresentada no horário das 21 horas, de 21 de maio a 30 de outubro de 1979, em 140 capítulos e também é marcada por conter um dos melhores elencos já reunidos pela TV Tupi para uma novela, além de uma das melhores estruturas criadas pelo autor Jorge Andrade, em seu primeiro trabalho fora da concorrente, Globo, onde escreveu as novelas “Os Ossos do Barão” (1973) e “O Grito” (1975), anteriormente. Por isso, vale relembrar a produção, bastidores e curiosidades deste clássico folhetinesco e atemporal da Tupi, que nos presenteou com uma produção requintada e um grande elenco de nomes como Rubens de Falco, Yoná Magalhães, Cleyde Yaconis, Altair Lima, Marcia Real, Paulo Goulart, Isabel Ribeiro e John Herbert entre os personagens principais do enredo.

Yoná Magalhães (Maria Emília) e Rubens de Falco (Daniel) foram os protagonistas de Gaivotas, novela da extinta TV Tupi que completa 44 anos do seu final em 2023. (Foto: Reprodução)

Enredo

Daniel (Rubens de Falco) reúne em sua mansão, amigos de escola após trinta anos. Seu objetivo é descobrir os mistérios que relacionaram, de maneira trágica, a formatura de 1949, da onde ele saíra como principal suspeito e fora ridicularizado pelos colegas de classe. Alguém colocou um bilhete em seu bolso no exato instante em que a turma tirava uma foto. O bilhete em questão denunciava uma professora, Norma (Selma Egrei), que aliciava seus alunos. A professora não teve coragem de bater de frente com a sociedade após ter sido desmoralizada e atentou contra a própria vida, se jogando em um bonde e todos terminaram culpando Daniel por sua morte.

Nos dias atuais, Daniel é um homem de mente aberta, antigo menino pobre que estudou gratuitamente em um externato para milionários e, posteriormente, tornou-se uma das pessoas mais ricas do estado de São Paulo. Já seus antigos amigos, depois de trinta anos, tomaram rumos bem diferentes. Maria Emília (Yoná Magalhães), seu antigo amor de adolescência, continua arrogante mesmo com a ruína de sua família e casou-se com o trapaceiro Henrique (John Herbert). Ângela (Isabel Ribeiro), ainda um doce de pessoa, continua solteira e desejando um amigo dos tempos de colégio, mas que se tornou um padre, Alberto (Altair Lima).

Ninguém sabia a razão da reunião. Vingança ou somente o propósito de instruir os seus colegas como se elevar financeiramente? Os problemas e os dramas de cada um despontam nesse reencontro, ocasionados pela presença de um segredo pregresso. Os ânimos ficam exaltados com o misterioso assassinato de Henrique (John Herbert). No fim, é desvendado que os culpados são os jovens Mariana (Débora Seabra), filha de Daniel, e seu amigo Geraldo (Haroldo Botta). Eles tinham conhecimento que Henrique estava extorquindo Daniel e que almejava tomar para si a mansão onde moravam. Mariana observou a conversa e decidiu matar Henrique, tendo Geraldo como seu comparsa.

Elenco da novela Gaivotas, exibida pela TV Tupi em 1979: Rubens de Falco (Daniel), Abrahão Farc (Júlio), Wilson Fragoso (Rubens), Elizabeth Gasper (Mônica), Serafim Gonzalez (Paulo), Paulo Goulart (Carlos), Paulo Hesse (Fernando), Altair Lima (Alberto), Yoná Magalhães (Maria Emília), Márcia Real (Idalina) e Isabel Ribeiro (Ângela). (Foto: Reprodução)

Produção

As cenas externas da novela foram realizadas na Fazenda do Barreiro, da família Mesquita, localizado em Louveira, interior de São Paulo. Nos estúdios da Vila Guilherme, foram retratadas as mesmas portas e janelas da casa padrão, recriando os ambientes interiores da fazenda. (“De Noite Tem… Um Show de Teledramaturgia na TV Pioneira”, Mauro Gianfrancesco e Eurico Neiva)

Bastidores e Curiosidades

Um dos melhores elencos já reunidos pela TV Tupi para uma novela e uma das melhores estruturas armadas pelo autor Jorge Andrade, em seu primeiro trabalho fora da Globo. (Site Teledramaturgia)

O principal filão era o suspense. Um grande trabalho e um particular destaque para Márcia Real, como a mestra Idalina. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Em 1979, a Rede Tupi  já estava  em uma das suas últimas crises financeiras e administrativas, que culminaram  na cassação dos direitos de transmissão em  1980.  Ainda assim, a emissora tentava a todo custo manter sua audiência e apostava na teledramaturgia. Assim, juntou um elenco de  grandes nomes da Rede Globo  e escalou Jorge Andrade, autor que havia escrito boas novelas na concorrente, que apresentou a trama de Gaivotas, uma das melhores estruturas dramaturgas com base no suspense armadas para uma novela, a primeira do autor fora da Globo. (Fonte: e10blog.blogspot.com)

Imagem de divulgação da novela Gaivotas apresentava os seus protagonistas Daniel (Rubens de Falco) e Maria Emília (Yoná Magalhães) como destaques. (Foto: Reprodução)

Como Idalina, Márcia Real viveu uma personagem bem mais velha do que ela:
“Foi preciso me despojar de qualquer vaidade. Afinal, mal passei dos 40 e a velha Idalina tem pelo menos 70. Procurei puxar no andar, na voz, no olhar. Assumi a personagem para valer, com toda a minha garra. O sacrifício valeu a pena”, disse a atriz em entrevista ao Jornal do Comércio publicada em 01/11/1979, assim que a novela terminou. (TV Pesquisa PUC-Rio). Na realidade, a atriz possuía 50 anos quando interpretou Idalina no folhetim.

Jorge Andrade elaborou o personagem negro mais bem posicionado das novelas da Tupi: Otávio, interpretado pelo ator Gésio Amadeu, executivo das empresas do personagem central, Daniel (Rubens de Falco) e seu amigo pessoal. A questão do racismo também foi levantada no enredo.

Prêmios

Por Gaivotas, Jorge Andrade venceu o troféu da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor “texto de novela” de 1979. Também, Rubens de Falco foi agraciado com o prêmio de melhor ator (ao lado de Paulo Autran, por Pai Herói, e Roberto Bonfim, por Cabocla) e Cleyde Yáconis foi a vencedora como a melhor atriz do ano (em companhia de Fernanda Montenegro, por Cara a Cara, Nicette Bruno, por Como Salvar Meu Casamento, e Regina Duarte, pela série Malu Mulher).

Abertura

Ao som de “Libertango”, de Astor Piazzolla, a abertura da novela Gaivotas mostrava, basicamente, uma fotografia como destaque. Em cada frame da imagem, um recorte de cada integrante era ressaltado. A fotografia em questão possuía relação direta com o enredo, que tinha como pontapé inicial a reunião de amigos de escola após trinta anos afim de descobrir mistérios do passado. Com o decorrer da trama, houve uma segunda abertura do folhetim, com poucas mudanças entre uma e outra, onde somente o logotipo foi alterado. Em sua primeira vinheta, o letreiro aparecia na cor branca e, na segunda, foi alterada para a cor azul.

Yoná Magalhães em cena como Maria Emília, de Gaivotas. Novela de Jorge Andrade com direção geral de Antônio Abujamra tinha como ponto inicial uma reunião de amigos de escola após 30 anos. (Foto: Reprodução)

Trilha Sonora

A trilha sonora da novela possuía somente músicas do compositor e bandoneonista argentino Astor Piazzolla.

Fonte: Site Teledramaturgia

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