Produzida e exibida pela RecordTV, a novela Pecado Mortal estreava há 10 anos pela emissora do Bispo Macedo como uma grande aposta do canal, mas que acabou com a audiência e a repercussão bem abaixo do esperado, mesmo bem avaliada pela crítica especializada do gênero. Marcada por uma trama com diálogos rápidos e entremeados por sarcasmo, humor de cunho sexual e/ou duplo sentido e corpos quase nus, características de obras “Lombardianas”, o enredo precisou se ajustar durante a novela por conta de diversos empecilhos nos bastidores desde o elenco até a sua direção. Exibida entre 25 de setembro de 2013 e 30 de maio de 2014, em 176 capítulos, a obra escrita por Carlos Lombardi, com colaboração de Emílio Boechat, Margareth Boury, Mário Viana, Nélio Abbade e Renê Belmonte, e a direção geral de Alexandre Avancini, também é lembrada por uma narrativa envolvente e um elenco afiado, de nomes como Fernando Pavão, Simone Spoladore, Paloma Duarte, Vitor Hugo, Betty Lago, Jussara Freire, Luiz Guilherme e Denise Del Vecchio nos papéis centrais. Por isso, vale relembrar a trama, bastidores e curiosidades desta produção repleta de ação e humor, e que já faz parte dos ótimos trabalhos da teledramaturgia do começo da década passada.
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Enredo
A história transcorre no final da década de 1970, um período que marcou a história do Rio de Janeiro, principalmente ao que concerne à criminalidade no Brasil. O uso de drogas se espalha pela sociedade brasileira transformando a estrutura de poder entre os mafiosos. Se antigamente os morros eram comandados por patrões do jogo do bicho, foi a partir do final dos anos 1970 que o poder passou para as mãos de traficantes.
Anos antes, em 1941, Stella (Marcela Barrozo), para salvar a própria vida, deu seu filho recém nascido para Donana (Maytê Piragibe), que fugiu com a criança. Em 1977, Stella (Betty Lago) retorna à procura de seu herdeiro que lhe fora roubado por Donana (Jussara Freire).
Assim, aparece Carlão (Fernando Pavão), que é na verdade Marco Antônio Vêneto, porém, decide renunciar a família para morar afastado do mundo do pai, o poderoso bicheiro Michelle Vêneto (Luiz Guilherme), o marido de Donana. Ele casou-se com a promotora de justiça Patrícia Almeida (Simone Spoladore), e os dois vivem felizes com dois filhos pequenos, quando Carlão é indiciado por importunar as crianças da escola infantil onde é sócio.
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Produção
A novela foi estabelecida pelo seu autor, Carlos Lombardi, como um melodrama de ação com algumas pitadas de humor – diverso de seus trabalhos na Globo, centrados pela comédia de ação. A viabilidade de escrever algo diferente de suas habituais comédias na Globo foi o que incentivou Lombardi a mudar para a concorrente.
Ainda assim, Pecado Mortal esteve e fixou-se dentro do que se aguardava de uma obra de Lombardi: diálogos rápidos e entremeados por sarcasmo, humor de cunho sexual e/ou duplo sentido, corpos quase nus, relações familiares recheadas por conflitos e, grande gama de ação, perseguição e luta.
Capítulo de estreia promissor, mostrando a primeira fase, na década de 1940, com os antecedentes dos protagonistas. Roteiro, direção, fotografia e reconstituição de época impecáveis.
Pecado Mortal foi a única novela de Carlos Lombardi na RecordTV e a quarta emissora que trabalhou fora da Globo, onde ficou por 31 anos.
Bastidores e audiência
Pecado Mortal, apesar de bem avaliada pela crítica especializada, teve audiência ainda pior que as massacradas três tramas anteriores da RecordTV (Máscaras, Balacobaco e Dona Xepa). A média ao fim do enredo no Ibope da Grande São Paulo foi de 6 pontos, igualando com as menores médias entre as novelas desde a volta da dramaturgia da emissora, em 2004.
Para prender a atenção da audiência, Lombardi até deu maior ênfase ao romance e o apelo familiar, com várias cenas amorosas entre os personagens centrais Carlão (Fernando Pavão) e Patrícia (Simone Spoladore) e sua família.
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Em uma estratégia para impulsionar o primeiro time da emissora, a novela foi reordenada na grade, a partir de 03 de fevereiro de 2014. Pecado Mortal saiu da faixa das 22h30 para a das 21h10, concorrendo diretamente com a estreia da novela do horário nobre da concorrência, Globo, que na época estreava Em Família. Uma clara evidência da falta de carinho e atenção da emissora com sua principal novela diante de um desempenho distante do esperado. A alteração de horário não funcionou e o Ibope não apresentou melhoras.
Bastante lesado diante das circunstâncias, Lombardi se adaptou para levar sua novela pra frente. E os obstáculos começaram com o elenco, que contou com o habitual casting da Record, vindo da minissérie José do Egito (que ainda estava sendo exibida quando a novela começou). A produção foi dirigida por Alexandre Avancini, com algumas contratações e com atores da “companhia lombardiana de comédia” – elenco que já realizou trabalhos anteriores com o novelista como Betty Lago, Heitor Martinez, Tatyane Goulart, Bianca Byngton, Gero Pestolazzi, Carlos Bonow, Luiz Guilherme, Mário Gomes e Cláudio Heinrich.
Devido a falta de atores no elenco da emissora, atores e diretores foram realocados. O ator Marcos Pitombo, por exemplo, não ficou com o papel de Ramiro para entrar na próxima novela do canal, Vitória.
A atriz Mel Lisboa pediu dispensa da novela em fevereiro de 2014, usando como justificativa razões profissionais. Ela almejava maior tempo livre para ensaiar um musical no teatro sobre a cantora Rita Lee. A solicitação causou um mal estar entre ela e a produção. Carlos Lombardi tentou fazer com que ela continuasse no enredo, diminuindo o número de cenas e sugerindo junto à direção que as gravações de Mel não interferissem nos ensaios da peça. Mas não houve jeito e o autor teve de matar a personagem, o que não estava em seus planos. Lombardi chegou a queixar-se em sua conta no Twitter. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)
Durante o mesmo período da saída de Mel Lisboa e do novo horário da novela, o diretor geral, Alexande Avancini, foi remanejado para outras atrações da RecordTV, deixando Pecado Mortal sob a responsabilidade de seus diretores assistentes.
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A atriz Betty Lago, que fazia o papel de Stella, uma das personagens centrais da novela, se manteve ausente da obra por um tempo longo por motivo de saúde, atrapalhando a trajetória de sua personagem. Por conta dessas adaptações todas, Lombardi ainda necessitou deixar de lado a ótima personagem de Jussara Freire, a perversa Donana, que tinha grandes confrontos com Stella. As duas também formavam um triângulo amoroso maduro, com Michelle Vêneto (Luiz Guilherme).
O ator Victor Hugo foi a grande revelação da novela. Desde o começo, uma interpretação segura e persuasiva. O elenco teve outras excelentes performances, com Paloma Duarte (Doroteia), Simone Spoladore (Patrícia), Gustavo Machado (Danilo), Carla Cabral (Laura), Luiz Guilherme (Michelle) e Denise Del Vecchio (Das Dores).
Primeira novela do ator Bernardo Velasco.
Abertura
Com a canção “Street Life”, clássico da Era Disco, a abertura compactava em uma cena congelada o enredo policial da produção, onde a câmera transitava em uma sequência difícil, repleta de efeitos, objetos e pessoas, que aludia com as leis naturais da física.
A vinheta utilizou o recurso bullet time – observado anteriormente na abertura da novela Sete Pecados (2007), da Globo -, onde são inseridos rotoscopia de fotografias que cobrem todos os ângulos de uma cena com congelamento de imagens em movimento. A técnica usualmente mistura filmagens em live-action com steadycam e inclusões hiper-realistas em computação gráfica.
Trilha Sonora
A trilha sonora única de Pecado Mortal reuniu clássicos da música brasileira mescladas com sucessos internacionais em suas principais faixas. Destaque para o tema de abertura, “Street Life”, de Laudia Tanzin e também para as trilhas “I Just Wanna Stop”, em uma versão interpretada por Maurício Manieri (tema de Carlão e Patrícia); a contagiante “Dois pra Lá, Dois Pra cá”, na voz de Elis Regina (tema de Stella); “Charme do Mundo”, interpretada por Marina (tema de Leila), o clássico “I Will Survive”, cantada por Issy Gordonentre, entre outras canções. A capa do álbum possuía apenas o logo da novela na capa.
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Reprise
A novela foi reprisada pela Rede Família, emissora que pertence ao grupo Record, entre março e novembro de 2020.
Fonte: Site Teledramaturgia e livro “Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, de Fábio Costa.