Baila Comigo no Globoplay: 25 curiosidades sobre o clássico

Uma das produções mais esperadas pelo projeto “resgate de clássicos” do Globoplay, a novela Baila Comigo, de Manoel Carlos, retorna hoje (28/08), definitivamente pela plataforma de streaming da Rede Globo. Produzida e exibida pela emissora, em sua tradicional faixa das 20/21 horas, de 16 de março a 26 de setembro de 1981, em 163 capítulos, essa trama inesquecível marcou pelo grande sucesso popular, em uma história solar e realista, uma crônica de costumes do começo da década de 1980, além de ter sido a primeira novela com uma protagonista de nome “Helena”(Manoel Carlos utilizaria a mesma alcunha em todas as suas novelas posteriores globais). Ainda, uma direção inspirada de nomes como Roberto Talma (também diretor geral) e Paulo Ubiratan e um elenco de grandes talentos como Tony Ramos, Lílian Lemmertz, Raul Cortez, Susana Vieira, Betty Faria, Natália do Valle, Lídia Brondi e Fernando Torres nos papeis principais, garantiram o êxito da narrativa. Por isso, vale relembrar 25 curiosidades desta novela marcante, com os devidos motivos para acompanha-la novamente dentro da plataforma on-demand global.

Tony Ramos interpretou os gêmeos Quinzinho (foto) e João Victor em “Baila Comigo”. Sucesso de 1981 retorna hoje no Globoplay. (Foto: Josemar Ferrari/ TV Globo)

1- Após a taciturna e melodramática Coração Alado (1980-81), a Globo almejava outra vez um enredo com a estética e estilo de Água Viva, novela de sucesso exibida no ano anterior. Assim, a pretensão seria uma trama solar, realista, trazendo uma crônica de costumes do começo da década de 1980. Com o texto rebuscado de Manoel Carlos, Baila Comigo se consolidou como um dos grandes êxitos da televisão em 1981.

2- Baila Comigo foi a primeira novela como autor solo de Manoel Carlos na faixa nobre da Globo. O autor já tinha realizado novelas bem sucedidas às 18 horas, como Maria Maria e A Sucessora (entre 1978 e 1979), e também foi coautor de Gilberto Braga em Água Viva (1980).

3- Os primeiros capítulos do folhetim tiveram cenas realizadas no Rio Grande do Sul, uma vez que em Porto Alegre se situava um dos núcleos do enredo. Próximo do término da novela, uma equipe foi a Veneza, na Itália, e Atenas, na Grécia, rodar cenas da viagem de Quim (Raul Cortez), Débora (Beth Goulart) e Caê (Lauro Corona).

4- A cena mais esperada da novela foi o encontro dos gêmeos Quinzinho e João Victor (interpretados por Tony Ramos), que não sabiam da existência um do outro, após diversos desencontros durante todo o enredo. Os irmãos se olharam pela primeira vez no término do capítulo 146 (restando somente 17 capítulos para o fim do folhetim), apresentado em 05 de setembro de 1981.

5- Segundo o site Memória Globo, para realizar a cena, em tempos onde a tecnologia ainda não possuía os recursos atuais, o vídeo foi repartido em duas partes, onde metade concentrou-se nas cenas de Quinzinho e a outra metade para as de João Victor. Enquanto o primeiro falava, com a ajuda de um dublê (Victor Lopes), só a sua metade ficava visível. A outra parte apenas se abria quando era a vez de João Victor. Gravada as tomadas, uniam-se as partes e o público via a conversa entre os irmãos.

Debora (Beth Goulart) e Caê (Lauro Corona) em imagem de divulgação de “Baila Comigo”. Novela lançou tendências durante a narrativa. (Foto: Reprodução/TV Globo)

6- Lílian Lemmertz fez parte, ao lado de Tony Ramos, de uma das cenas mais importantes da novela, quando Helena diz toda a verdade ao filho Quinzinho: que Plínio (Fernando Torres) é o seu pai adotivo, enquanto Quim (Raul Cortez) é o seu pai de sangue e que João Victor é seu irmão gêmeo. As cenas foram exibidas entre os capítulos 141 e 142, nos dias 31 de agosto e 01° de setembro de 1981.

7- Fernanda Montenegro estava inicialmente cotada pelo autor para interpretar o papel de Helena. Entretanto, a direção optou por escalar Lílian Lemmertz para fazer a personagem. Em razão disso, Manoel Carlos elaborou um papel especial para Fernanda: a atriz Silvia Toledo. Ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes), Manoel Carlos relatou outra versão da história. O novelista disse que a personagem Silvia Toledo já existia e que Fernanda preferiu abdicar da protagonista para fazer o papel menor, e que, só após isso, Lílian Lemmertz foi chamada.

8- Tony Ramos foi reverenciado pela crítica televisiva pelo desafio de fazer o duplo papel dos irmãos idênticos, recorrendo somente à caracterização e a artifícios técnicos de voz, postura corporal e respiração para interpretar personalidades tão opostas.

9- Destaque para o casal Plínio e Helena, realizados com sensibilidade por Fernando Torres e Lílian Lemmertz, respectivamente. A atriz fez a primeira da série de “Helenas” escritas por Manoel Carlos em seus trabalhos que vieram em sequência na própria Globo. A última das Helenas de Maneco, inclusive, foi feita por Júlia Lemmertz, filha de Lílian, na novela Em Família (2014), 33 anos depois da Helena de Lilian.

10- Reginaldo Faria, que realizou o papel do médico homeopata Saulo Martins, se recorda que procurou a assessoria de uma médica para interpretar seu personagem. Por conta do papel, o ator passou a realizar tratamento homeopático. Da mesma maneira, a busca pela Medicina Homeopática aumentou entre o público com a exposição na novela. Contudo, o personagem Saulo, sem maiores funções no enredo do folhetim, ficava sem função a cada capítulo e o fato incomodou seu intérprete. Em entrevista à revista Sétimo Céu, em maio de 1982, Reginaldo Faria confidenciou: “Não tive uma boa atuação nem o reconhecimento esperado pelo meu trabalho e minha capacidade como ator. E, para mim, acima do dinheiro, está a minha satisfação com o trabalho. Não é interessante fazer um trabalho com má vontade, mas sim vibrar dentro dele.”

Quim (Raul Cortez), Silvia (Fernanda Montenegro) e Plínio (Fernando Torres) foram personagens centrais de “Baila”. Segredos guardados e elenco de estrelas foram destaques da novela. (Foto: Nelson Do Rago /TV Globo)

11- Bem como Maneco lançou em Baila Comigo a sua primeira Helena, também começou sua trajetória com este folhetim a um tipo característico de papel frequente em sua obra: a garota mimada, inconveniente, inconsequente, egoísta e sem papas na língua. Mira Maia, interpretada por Lídia Brondi, é a pioneira de outros personagens pouco amistosos do autor como a Joice (Carla Marins) de História de Amor, Laura (Vivianne Pasmanter) de Por Amor, Íris (Deborah Secco) de Laços de Família, Dóris (Regiane Alves) de Mulheres Apaixonadas e Isabel (Adriana Birolli) de Viver a Vida.

12- A relação entre o negro Otto (Milton Gonçalves) e a branca Letícia (Beatriz Lyra) chamou a atenção para o problema do preconceito racial. Após a exibição da cena de um beijo entre os dois personagens, a atriz chegou a ser hostilizada na rua. (Site Memória Globo)

13- A censura do Governo Federal afetou o ótimo desenrolar da novela. Diversas foram as interferências de Manoel Carlos para adaptar o texto às preferências da turma do Palácio do Planalto. Em entrevista, o autor reclamou argumentando outras influências dos censores: “O maior problema com a novela é a censura, que cortou todo o relacionamento dos personagens interpretados por Raul Cortez e Fernanda Montenegro, absolutamente necessários ao seguimento da história. Também impediu o tiro levado pelo personagem do Carlos Zara. Deixa que um marido seja enganado durante 60 capítulos mas corta sua vingança obrigando um salto no enredo que se tomou quase incompreensível para o público.” (Jornal do Brasil, 05/07/1981, TV Pesquisa PUC-Rio)

14 – Manoel Carlos criou duas personagens — as irmãs Fauna e Flora — que deveriam aparecer, no máximo, a partir do trigésimo capítulo da novela. Os nomes de suas intérpretes, Fernanda Torres e Narjara Turetta, foram creditados na abertura desde o início. No entanto, só foram aparecer em Baila Comigo no capítulo 92. A razão: a Globo não tinha meios de realizar mais cenários para a novela (a casa e o restaurante de comida natural da família França) e o autor teve que aguardar até que isso pudesse acontecer. (Revista Cláudia ou Revista Nova, agosto de 1981, extrato do blog “Porcos, Elefantes e Doninhas”)

15- Um dos temas mais promissores no começo retratados na novela desapareceu sem maiores explicações: os problemas associados ao sexo na maturidade, debatidos pelo casal Helena e Plínio (Lílian Lemmertz e Fernando Torres).

Lilian Lemmertz foi a primeira Helena do autor Manoel Carlos na novela de grande sucesso e repercussão exibida em 1981. Atriz foi premiada por sua atuação no folhetim. (Foto: Nelson Di Rago/TV Globo)

16- O personagem Guilherme Fonseca foi desenvolvido de maneira bastante diferente do que previa a sinopse original da novela e do que foi proposto ao ator Cláudio Cavalcanti, seu intérprete. Conforme o inicialmente planejado, Guilherme se aliaria à vilã Marta (Tereza Rachel) em uma vingança pessoal contra Quim (Raul Cortez), já que este abandonaria a mulher para unir-se a Helena (Lílian Lemmertz), que ficaria viúva de Plínio (Fernando Torres). Porém, o público não gostou de saber da morte de Plínio, um dos personagens mais queridos da novela, e a reação fez com que o autor o mantivesse vivo durante toda a trama. Isso desviou a rota do personagem Guilherme, que ficou sem função na história, desagradando Cláudio Cavalcanti. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)

17- A produção da novela ordenou a criação de uma academia completa – a academia de dança e ginástica de Caio (Carlos Zara) – cenário que abrangeu 300 metros quadrados, grande parte dos estúdios da novela. Em razão disso, a moda dos bailarinos do filme se popularizou no Brasil por intermédio do folhetim, como as polainas de lã e collants utilizados por Betty Faria e os dançarinos na trama, e as
as faixas ou lenços torcidos na testa, utilizados tanto por Betty quanto Lauro Corona como acessórios no enredo.

18- O primeiro título imaginado por Manoel Carlos para sua novela foi Quadrilha, uma alusão ao célebre poema de Carlos Drummond de Andrade que canta o amor em cadeia: “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim…”. O poema chegou a ser mencionado na novela pelo personagem Plínio (Fernando Torres). Para o nome definitivo foi decidida pela música “Baila Comigo”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, mas a gravação suave de Rita não ilustrou a abertura, onde o bailarino Lennie Dale (um dos fundadores do Dzi Croquettes) orquestrava uma rápida coreografia. A resolução para manter a música e o título foi confiar aos arranjadores Robson Jorge e Lincoln Olivetti uma nova versão (instrumental) mais ágil, com base eletrônica, a qual embalou a abertura. (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vicent Villari)

19- O papel de Joana Lobato, interpretada pela atriz e bailarina Betty Faria, não possuía maior função em Baila Comigo a não ser lançar a dança moderna.

Lidia Brondi foi Mira Maia em “Baila Comigo” e inaugurou a galeria de personagens mimadas e detestáveis de Manoel Carlos (Foto: Reprodução/TV Globo)

20- A capa do álbum internacional de Baila Comigo foi ilustrada com uma imagem romântica de Reginaldo Faria e Natália do Valle. No começo, estava previsto que os atores formassem um par romântico no enredo, Saulo e Lúcia, o que terminou não ocorrendo por conta das diversas alterações de destino para os personagens que o autor Manoel Carlos se viu forçado a realizar. Soou inusitado a foto do disco em relação ao que se viu na novela, uma vez que Saulo somente demonstrou um leve interesse sobre Lúcia, se declarando para ela no final da trama, porém, sem a devida reciprocidade dela, uma vez que ela amava Quinzinho (Tony Ramos).

21- A APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) concedeu a Tony Ramos e Fernando Torres o prêmio de melhores atores da televisão em 1981 (ao lado de Rubens de Falco, pela novela Os Imigrantes, da TV Bandeirantes). Ainda, Lílian Lemmertz foi a vencedora como a melhor atriz do ano (em companhia de Fernanda Montenegro, por Brilhante, Yoná Magalhães, por Os Imigrantes, e Kate Hansen, pelos tele romances da TV Cultura). Tony Ramos também venceu na categoria de melhor ator no Troféu Imprensa em 1981.

22- O folhetim foi a estreia na Globo da atriz Lílian Lemmertz. Também foi a primeira novela na Globo de Fernanda Montenegro e Fernando Torres (como ator, pois ele já tinha participado de produções da emissora como diretor, no começo dos anos 1970).
Ainda, foi a primeira novela dos atores Fernanda Torres, Cláudia Costa, Marcus Alvisi e Fábio Pillar.

23- Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Baila Comigo, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

24- Baila Comigo foi a primeira novela brasileira que estreou na França (com o título Danse Avec Moi). Resumida em 55 capítulos, a obra teve o seu início no país europeu em outubro de 1984, no canal TF-1, com audiência satisfatória, sendo comercializada também para mais de 30 países.

Quinzinho (Tony Ramos) e Lúcia (Natália do Vale) em cena de ” Baila Comigo”. A única reprise da novela ocorreu apenas na televisão fechada. (Foto: Reprodução/TV Globo)

25- A novela foi reapresentada uma única vez no Brasil, 37 anos após sua apresentação original, através do Viva (canal de TV por assinatura do Grupo Globo), entre agosto de 2018 e fevereiro de 2019, às 14h30 (com reprise à 0h45).

Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

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