Os Flops que Amamos: Sinal de Alerta (1978/79)

Há exatamente 45 anos, estreava pela Rede Globo no horário das 22h, a novela Sinal de Alerta. Produzida e exibida pela emissora de 31 de julho de 1978 a 26 de janeiro de 1979, em 116 capítulos, a produção ficou marcada pela falta de repercussão e audiência, e pela deterioração do horário, que perdia público ano após ano e que foi extinto para novelas inéditas temporariamente depois da trama. Também, a entrada do horário gratuito concedido ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) – entre setembro e novembro de 1978 – condicionou a emissora a apresentar a novela às 23 horas, contribuindo para a rejeição de parte do público com o folhetim.

Sulamita Montenegro (Vera Fischer) e Tião Borges (Paulo Gracindo) em cena de “Sinal de Alerta”, novela de Dias Gomes que completa 45 anos em 2023. (Foto: Reprodução/Acervo Globo)

Escrita por Dias Gomes, auxiliado por Walter George Durst nos 30 capítulos finais, e dirigida por Walter Avancini, Jardel Mello e Paulo Ubiratan, a narrativa abordava sobre os males urbanos como a poluição e a vida difícil dos trabalhadores, porém, só conseguiu a repulsa dos poderosos, que se viram no empresário Tião Borges (Paulo Gracindo), proprietário da fábrica poluidora, e principal vilão da trama. Apesar disso, vale destacar o elenco de peso da narrativa, que possuía estrelas como Paulo Gracindo, Yoná Magalhães, Vera Fischer, Jardel Filho, Isabel Ribeiro e Carlos Eduardo Dolabella entre os papeis centrais. Assim, vale relembrar a sinopse, curiosidades e bastidores da novela, e entender os motivos do seu revés em sua apresentação original pelo horário das 22h global.

Enredo

Nordestino, Tião Borges (Paulo Gracindo), ingressou no Rio de Janeiro ainda muito novo e sem dinheiro. Com o tempo, ele adquiriu fortuna de maneira abrupta e ficou conhecido por todos. Carismático, extrovertido e falastrão, tornou-se um empresário bem-sucedido, mas em compensação, orgulhoso e prepotente. Sua principal organização, a Fertilit, produz fertilizantes e inseticidas poluindo o bairro onde está instalada e, assim, estimula a revolta dos operários e moradores da região.

Separado há cinco anos da individualista Talita (Yona Magalhães), Tião Borges almeja o divórcio para contrair matrimônio com a jovem Sulamita Montenegro (Vera Fischer), de uma família burguesa carioca. Mas Talita, uma moça inteligente, não aceita conceder-lhe o divórcio. Ela é Jornalista e proprietária do jornal Folha do Rio, e baseada nos negócios do ex-companheiro, empreende com pulso firme uma verdadeira campanha contra a empresa do ex-marido.

Sulamita mantém um noivado com Tião Borges, porém, é vigiada de perto pela mãe Melinda (Vanda Lacerda) e as tias beatas Coló (Carmem Silva) e Cotinha (Mara Rúbia). Mas ela termina relacionando-se com Rudi Caravaglia (Jardel Filho), e engravida dele, chocando sua família. Rudi chega até Tião Borges motivado em realizar um roteiro para um filme sobre sua vida, com o amigo Chico Tibiriçá (Chico Tibiriçá), recém-premiado diretor de cinema.

Os funcionários da Fertilit se revoltam contra a direção da empresa e realizam passeatas de protesto capitaneadas por Consuelo (Isabel Ribeiro), uma operária, e Nilo Bastos (Eduardo Conde), jovem violento e sonhador que reside no bairro, sem profissão própria e emprego fixo. Ele é casado com Vera (Bete Mendes), funcionária da Fertilit que necessita do emprego, por isso não participa das passeatas. Porém, Nilo termina apaixonado por Selma (Renata Sorrah), uma professora de classe média que colabora com a sua causa.

Adelaide (Ruth de Souza) e Consuelo (Isabel Ribeiro) em cena de “Sinal de Alerta”. Trama problemática exibida em 1978 tratava sobre os males urbanos como a poluição e a vida difícil dos trabalhadores. (Foto: Reprodução/ Acervo TV Globo)

Produção

As gravações externas foram realizadas na cidade de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro, e em vários bairros da capital fluminense: na Lagoa ficava a fachada da casa de Talita (Yoná Magalhães); no Jardim Botânico, a casa da família de Sula (Vera Fischer); em Ipanema, o prédio onde morava Rudi (Jardel Filho); no Catumbi, o jornal Folha do Rio, no prédio onde funcionava a Rio Gráfica Editora; e no Andaraí ficavam a Fertilit e a vila operária, na antiga fábrica de tecidos Confiança. (O Globo, 01 de agosto de 1978, pesquisa por Sebastião Uellington Pereira)

O fictício jornal Folha do Rio era elaborado especialmente para a novela, assim como os telejornais que propagavam os acontecimentos referentes ao enredo. A produção desses telejornais era esmerada e gravadas no estúdio de jornalismo da TV Globo, onde eram editados, revertidos para videocassete e apresentados nos televisores de cena, durante as gravações dos capítulos.

Situada em Petrópolis, a mansão de Tião Borges (Paulo Gracindo) representava o estilo colonial brasileiro. Com gramados amplos, a construção contava com três entradas independentes e 280 metros de jardim em sua frente.

Os animais de estimação dos personagens explicitavam a ordem de gravação de algumas cenas. Os cachorros de Talita (Yoná Magalhães) e Consuelo (Isabel Ribeiro) não podiam entrar no estúdio após os gatos de Coló (Carmem Silva) e Cotinha (Mara Rúbia) passarem por ali. Isso porque, com o cheiro dos felinos no estúdio, a equipe de produção não conseguia conter os cães.

Bastidores e Curiosidades

Dias Gomes, o autor de Sinal de Alerta, ao enfrentar os males urbanos como a poluição e a vida difícil dos trabalhadores, conseguiu a repulsa dos poderosos, que se viram como o empresário Tião Borges (Paulo Gracindo), proprietário da fábrica poluidora e vilão da trama.

O enredo do folhetim foi ambientado em um bairro do Rio de Janeiro, porém, a motivação para Dias Gomes veio do bairro Veleiros, na Zona Sul de São Paulo, a qual, de acordo com uma pesquisa do autor, tinha uma vila operária na época padecia de uma poluição ocasionada por fábricas. Segundo entrevista de Dias Gomes ao jornal O Globo de 31 de julho de 1978, o subúrbio onde a Fertilit estava instalada não era anunciada na novela “para não desvalorizá-lo, pois este é o problema que enfrentam os moradores do bairro paulista que pesquisei”.

Selma (Renata Sorrah), Nilo Bastos (Eduardo Conde) e Vera (Bete Mendes) estamparam a capa da revista “Amigão” da época de exibição da novela. Triângulo amoroso foi um dos destaques do folhetim. (Foto: Reprodução)

Figuras célebres como o arquiteto Oscar Niemeyer e Ruth Christie, então presidente da Campanha Popular em Defesa da Natureza, concederam depoimentos durante a novela sobre a questão ecológica e a importância da preservação do ecossistema.

Depois de Sinal de Alerta (começo de 1979), a Globo apresentou no horário uma reapresentação da novela Gabriela (de 1975) e, posteriormente, estreou os seriados nacionais, que passaram a ocupar a faixa das 22h: Malu Mulher, Plantão de Polícia e Carga Pesada, entre outras atrações da linha de shows da emissora.

Em 1983, com a estreia de Eu Prometo, de Janete Clair, às 22 horas, cogitou-se que a Rede Globo estivesse retornando com a faixa das dez da noite para novelas. Na realidade, o canal estava atendendo o pedido da autora de escrever seu último folhetim. Janete morreu em novembro daquele ano, e Eu Prometo foi finalizada por Glória Perez, sendo a única novela das dez da noite da década de 1980.

Vera Fischer representou grávida de sua filha Rafaela, com o ator Perry Salles. Em razão disso, sua personagem, Sulamita, também engravidou.

Sinal de Alerta foi a primeira novela das atrizes Angelina Muniz e Dulce Conforto e dos atores Eduardo Conde e Fernando Eiras. Também foi o primeiro folhetim na Globo da atriz Betina Viany e a primeira novela onde Paulo Ubiratan foi creditado como diretor.

Os temas ecologia e poluição socioambiental já tinham sido falados pelo autor em sua novela O Espigão, exibido em 1974.

Abertura

A abertura de Sinal de Alerta foi inovadora: não tinha uma música-tema, porém, uma sonoplastia original para ilustrá-la, com sons e ruídos. O propósito era relatar o caos urbano a que se tencionava a obra.

Na verdade, utilizou-se música concreta, uma técnica experimental de composição, criada pelo francês Pierre Schaeffer, a partir da edição de áudio conectado a partes de sons naturais e/ou industriais, como objetos diversos, de baldes a serras elétricas, ou provenientes da natureza, como água corrente no rio, vento nas folhas e trovões.

Já as imagens da abertura lembram o estilo gráfico das animações de Terry Gilliam para a série Monty Phyton’s Flying Circus (1969-1974). Segundo Rudi Böhm, o material básico era fotografia de stop-motion e filmagens de time-lapse em fotografia.

Yoná Magalhães como Talita Bastos em “Sinal de Alerta”, obra com baixa repercussão e audiência exibida às 22h. Foi a última novela no horário nos anos 1970. (Foto: Reprodução/Nelson Di Rago/Globo)

Prêmios

Apesar de não ter ido bem em audiência, Sinal de Alerta foi a vencedora da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como a melhor novela de 1978. Também, Eduardo Conde foi eleito como o melhor ator revelação do ano (ao lado de Lauro Corona, pela novela Dancin´ Days).

Trilha Sonora

Com sonoplastia de Paulo Ribeiro e Adilson dos Santos, pesquisa de repertório de Arnaldo Schneider, direção de Produção de Guto Graça Mello e direção musical de Otávio Augusto e Júlio Medaglia, a novela Sinal de Alerta possuía duas trilhas sonoras (nacional e internacional). Entre os destaques da trilha sonora nacional estavam as canções: “Panorama Ecológico”, de Erasmo Carlos; “Rita Baiana”, por Zezé Motta; “Lero Lero”, de Edu Lobo (tema de Chico); “O Silêncio é de Ouro”, da dupla Sá & Guarabira (tema de Nilo); “Os Outros que se Danem Football Club”, de Nelson Gonçalves (tema de Tião), “Tiro Cruzado (Crossfire)”, de Sérgio Mendes (tema dos embates entre Tião e os operários), entre outras.

Já a trilha internacional da obra tinha como destaques as músicas “A Distant Time”, de Freya Crane (tema de Sulamita); “Lay Down Sally”, de Eric Clapton; “Times Are Changing, de Daniel Gerard; “Love’s in You, Love’s in Me”, parceria entre Giorgio Moroder e Chris Bennett; “Goodbye Girl”, de David Gates; “Still The Same”, de Bob Seger, entre outras. A capa dos dois álbuns foi ilustrada com figuras de máscaras respiratórias. A nacional, envolta da máscara, a logo e o fundo preto e a capa internacional, por sua vez, ilustrada por uma máscara em cima da areia.

Exibição

No mesmo dia da estreia de Sinal de Alerta na Globo (31 de julho de 1978), a TV Tupi apresentou uma nova novela: o remake de O Direito de Nascer, no horário das 19h30. Já no mesmo dia onde foi exibido o último capítulo de Sinal de Alerta (26 de janeiro de 1979), terminava também, na Globo, o sucesso das oito da noite, Dancin´ Days, de Gilberto Braga.

Por que não deu certo?

Dias Gomes, autor de novelas de sucesso absoluto no horário das 22h como O Bem-Amado (1973) e O Espigão (1974), fazia naquele ano de 1978 sua última novela do núcleo das 22 horas da Globo. Contudo, sua produção não fez sucesso e tão pouco conseguiu repercussão e audiência. Uma das causas levantadas ficou por conta da deterioração do horário. Outra, pela entrada do horário gratuito concedido ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) – entre setembro e novembro de 1978, fato que condicionou a emissora a apresentar a novela às 23 horas. Em novembro, com o término do horário político, foi apresentado um compacto em dez capítulos do que havia ocorrido na novela do início até então. Ou seja, durante duas semanas, assim que retornou para as 22 horas, não houve exibição de capítulos inéditos. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes).

Tião Borges (Paulo Gracindo) e Sulamita Montenegro (Vera Fischer) em cena de “Sinal de Alerta”. Papel de destaque no enredo e diversos problemas com a estética da trama foram predominantes para a falta de interesse do público pelo folhetim. (Foto: Reprodução/ Acervo TV Globo)

Em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes foi taxativo na crítica à novela: “Houve outros problemas. O maior deles: Paulo Gracindo como capitão de indústria, mas ao estilo dos seus coronéis já conhecidos. Ou serão as sufocantes cenas da vila esfumaçada (que Dias queria editadas em preto e branco)? Além do mais, personagens como Consuelo (Isabel Ribeiro), que liderava movimentos contra a poluição, ou Vera (Bete Mendes), operária da fábrica, ficariam melhor em uma Fertilit do ABC (parque industrial paulista) que em praças cariocas.” Depois da retomada da novela, para ajudar o autor Dias Gomes, foi convocado Walter George Durst, que colaborou nos trinta capítulos finais. No final das contas, a obra não convenceu e o horário das 22h para novelas acabou extinto (houve tentativas de retornar a faixa em 1983, com Eu Prometo e em 1990, com Araponga, mas sem sucesso). Sendo assim, a obra que alertava sobre os males urbanos da poluição e a vida difícil dos trabalhadores não convenceu e dificilmente será reapresentada em televisão aberta ou fechada. Contudo, se as fitas foram preservadas, talvez um dia entre para o catálogo do Globoplay, plataforma de streaming da TV Globo.

Fontes: Site Teledramaturgia e livro “Memória da Telenovela Brasileira”, de Ismael Fernandes.

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