Cultura Pop: Carinhoso (1973/74)

Uma das grandes novelas da teledramaturgia brasileira, a novela Carinhoso completou no último dia 2, exatos 50 anos de sua estreia como a primeira obra autoral de Lauro César Muniz na Globo. Produzida e exibida pela emissora carioca entre 2 de julho de 1973 e 21 de janeiro de 1974, em 174 capítulos, a novela é até hoje considerada uma das maiores tramas românticas do renomado autor, com um relativo sucesso durante a sua exibição original. Escrita por Lauro, baseada na peça Sabrina Fair – A Woman of the World, de Samuel Taylor, de 1953, e dirigida por Daniel Filho e Walter Campos, a obra foi tão marcante para a sua época que foi reapresentada mais duas vezes na mesma década (anos 1970), em 1974 e em 1978, na mesma faixa que hoje é conhecida como Vale a Pena Ver de Novo, às 13h30. Por isso, vale relembrar essa produção de sucesso da nossa cultura pop, e que tinha nomes como Regina Duarte, Cláudio Marzo, Marcos Paulo, Rosamaria Murtinho, Gilberto Martinho, Célia Biar, Débora Duarte, Marco Nanini e Herval Rossano nos papeis centrais.

Humberto (Cláudio Marzo) e Cecília (Regina Duarte) foram os personagens principais da novela “Carinhoso”, obra de Lauro César Muniz que completa 50 anos em 2023. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Enredo

A aeromoça Cecília (Regina Duarte), buscando esquecer as decepções e os problemas ocasionados por Eduardo (Marcos Paulo), resolve morar em Nova York. Eduardo é um playboy, filho dos patrões do pai dela, Felipe (Gilberto Martinho), motorista da milionária família Vasconcelos Lima. Se passam pouco mais de três anos, e Cecília retorna ao Rio de Janeiro determinada a conquistar novamente seu grande amor, mesmo com a discordância de todos – especialmente do irmão mais velho de Eduardo, Humberto (Cláudio Marzo), apaixonado pela moça.

Ainda, nesse meio tempo, outro homem atravessa o caminho de Cecília. É Santiago Morales (Herval Rossano), um argentino abastado que ela conheceu em Nova York e que vem ao Brasil para tentar ganhar seu coração. No entanto, como está dividida entre Eduardo e Humberto, Cecília afirma a Santiago que ama outro homem. Com o tempo, ela acaba mais próxima de Humberto, por conta da neurótica Marisa (Débora Duarte), apaixonada por Eduardo, e que utiliza de todos os artifícios possíveis para ganhar o seu amor.

Assim, Cecília vai passar por diversos empecilhos para a sua felicidade conjugal, como uma carta misteriosa da irmã de Santiago, um casamento não planejado, uma tragédia com um dos seus amores e a descoberta da paixão por um pretendente inesperado.

Produção

Pela primeira vez nas novelas foram utilizadas câmeras portáteis, alugadas nos Estados Unidos, para produzir as cenas dirigidas por Daniel Filho em vários pontos turísticos de Nova York. O novo equipamento, muito mais prático de ser transportado, deu dinamismo as gravações externas. A experiência positiva levou a Globo a aposentar o equipamento antigo e abraçar em definitivo as novas câmeras.

A mansão onde se realiza a maior parte do enredo era situada em São Conrado, bairro da zona sul do Rio de Janeiro.

Para fazer o papel da secretária Ivone, Rosamaria Murtinho coloriu os cabelos de louro. A personagem utilizava minissaias e vestidos bem curtos, uma tendência de moda na década de 1970.

Fúlvio Stefanini (Sérgio) e Rosamaria Murtinho (Ivone) em cena de “Carinhoso”. Produção de sucesso lançou moda na época com o figurino de Ivone, que incluía minissaias e vestidos curtos. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Curiosidades e Bastidores

Carinhoso foi a primeira novela original de Lauro César Muniz na Globo. O autor começou no canal em 1972, quando ocupou o lugar de Bráulio Pedroso na trama de O Bofe.

A trama de Carinhoso foi baseada na peça Sabrina Fair – A Woman of the World, de Samuel Taylor, encenada no ano de 1953. A peça também serviu de base para o filme Sabrina, comédia romântica de 1954, dirigida por Billy Wilder. O novelista Lauro César Muniz relata que teve o zelo de escrever ao dramaturgo informando-lhe que tinha se inspirado no triângulo amoroso da sua peça para escrever uma telenovela, mesmo supondo que sua história fosse somente um pouco parecido com o enredo original.

Para Lauro César Muniz, Carinhoso foi tão bem produzida e conquistou resultados tão expressivos que poderia alcançar a marca de 200 capítulos muito facilmente, sem dano para a obra. Mas a novela precisou ser finalizada antes do que o autor pensava, porque Regina Duarte informou que esperava um filho. A partir do momento onde a gravidez foi se tornando bastante perceptível, ficou elevado o número de cenas da atriz com cenas em close, onde uma dublê passou a realizar os planos longos. Regina já tinha atuado grávida em 1971, quando nasceu seu filho André durante a novela Irmão Coragem.

Cecília, personagem de Regina Duarte, foi especialmente escrito para a atriz. Na novela, ela fazia novamente par romântico com Cláudio Marzo, um dos casais mais emblemáticos da televisão brasileira. Anteriormente, os dois fizeram dobradinhas em folhetins como Irmãos Coragem (1970) e Minha Doce Namorada (1971).

A trama não possuía um alicerce relevante a não ser os desencontros amorosos dos personagens, que se comportavam todos com fragilidade e insegurança. Apesar disso, a novela registrou um relevante sucesso. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

No começo, Herval Rossano participaria apenas de nove capítulos de Carinhoso, porém, seu papel, Santiago Morales, conquistou a simpatia da audiência e o ator/diretor ficou no enredo até os últimos capítulos da produção como o grande vilão da novela.

Cecília (Regina Duarte) e Eduardo (Marcos Paulo) em cena de “Carinhoso”. Trama dirigida por Daniel Filho e Wálter Campos foi a primeira obra onde foram utilizadas câmeras portáteis, uma inovação para a época. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Carinhoso foi a primeira novela da atriz Irma Alvarez. Também foi o início na Globo dos atores Mauro Mendonça e Fúlvio Stefanini, que já tinha feito Cavalo de Aço no mesmo ano em uma participação especial.

O primeiro título pensado para a novela foi O Divertido Jogo do Amor. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa). Contudo, seu nome definitivo veio de uma música: o choro “Carinhoso”, composto por Pinxinguinha em 1917 e letrado por João de Barro em 1936. Daniel Filho afirmou em seu livro “O Circo Eletrônico”: “Carinhoso teve esse nome porque a gente resolveu colocar a música de Pinxinguinha como abertura. Boni estava profundamente apaixonado pelo excelente trompete que tocava o Márcio Montarroyos e saímos em busca do título, que tinha que ser romântico. Boni disse: ‘Por que não Carinhoso?”.

Abertura

Alguns dos pontos turísticos mais marcantes de Nova York apareceram na abertura: Central Park, Greenwich Village, World Trade Center, Times Square, Empire State Building e Estátua da Liberdade. Uma curiosidade é que a letra “C” do logotipo da novela, que preenche toda a tela da TV e a qual aparecem as imagens de Nova York, faz alusão a uma janela de avião, uma vez que a personagem central da obra é aeromoça.

No encerramento da novela, ao invés dos cartões-postais nova-iorquinos, eram retratadas as paisagens cariocas. Diversas aberturas de novelas do começo dos anos 1970 duravam cerca de 2 minutos. Com os créditos do elenco passando em câmera lenta na tela, e a música tema suave, a sensação passada era a de que a abertura de Carinhoso não acabava: possuía uma duração de 2 minutos e 24 segundos – a mais extensa entre as novelas da Globo que se sabe até os dias atuais. A média hoje é por volta de 1 minuto.

Prêmios

Por seu personagem em Carinhoso, Regina Duarte foi a vencedora como a melhor atriz de 1973 através do Troféu Imprensa. Mas, durante a entrega do troféu, no programa de Silvio Santos (que naquela período era apresentado na Globo), a atriz cedeu o troféu a Eva Wilma, sua adversária, em reconhecimento ao seu desempenho como as gêmeas Ruth e Raquel na novela Mulheres de Areia, da TV Tupi.

Lúcia Alves como Leda Maria em “Carinhoso”. Produção de sucesso possuía grandes sucessos em sua trilha sonora. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Trilha Sonora

A primeira trilha sonora da novela possuía grandes sucessos como “Mentira”, de Marcos Valle (tema de Paulo); “As Moça”, de Osmar Milito e Trama (tema de Eduardo); “Priscila”, de Fernando Leporace (tema de Ivone e Paulo); “Posso Ver o Mundo pela Janela”, de Trama; e o clássico “Manhattan”, de Márcio Montarroyos (tema de Cecília e Santiago), entre outras. Montarroyos, inclusive, gravou especialmente para a novela outras seis canções (todas inclusas no lado B do disco nacional).

Já a trilha internacional do enredo apresentava grandes gravações como: “Music And Me”, do rei do pop Michael Jackson (tema de Cecília e Eduardo); “Skyline Pigeon”, do genial Elton John (tema de Eduardo e Marisa); “For Once In My Life”, uma parceria de Gladys Knight & The Pips (tema de Cecília e Humberto); “Free For All”, da Free Sound Orchestra (tema de Cecília); “Manhattan”, agora na voz de Sally Baldwin (tema de Cecília e Santiago); “For Better”, interpretada por Chrystian (tema de Ivone e Paulo), entre outras. As capas dos dois álbuns da novela apresentava um “C” maiúsculo que representava a inicial da palavra “Carinhoso”, junto com o nome da obra entre as pontas da letra e os atores principais do folhetim coloridos no interior do sinal gráfico em destaque.

Em 2001, a Som Livre lançou novamente a trilha sonora nacional de Carinhoso, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano posterior foram comercializados os os primeiros CDs de novelas).

Humberto (Cláudio Marzo) e Cecília (Regina Duarte) nos bastidores da novela. Folhetim das 19h foi a primeira novela de Lauro César Muniz na Globo e marcou época na televisão brasileira. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Reprises

‘Carinhoso’ foi reprisada pouco após o seu final, em 1974, às 13h30. Também foi reapresentada, pela segunda vez, entre 20 setembro de 1978 e 18 maio de 1979, também às 13h30, no horário que posteriormente passou a se chamar Vale a Pena Ver de Novo, e que existe até hoje.

Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

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