Há exatos 44 anos, estreava pela Rede Globo um dos seriados mais marcantes da sua história: a versão original de Carga Pesada (1979-1981). Idealizado para mostrar aos brasileiros a diversidade cultural do pais, a atração tinha como personagens centrais os caminhoneiros Pedro (Antônio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia), que juntos, passavam por diversas aventuras viajando pelas estradas brasileiras. Exibida, originalmente, de 22 de maio de 1979 até 2 de janeiro de 1981, todas as terças-feiras, às 22h, a trama teve uma continuação com ainda mais sucesso, protagonizado pelos mesmos atores e exibida de 29 de abril de 2003 à 7 de setembro de 2007. Em ambas as versões, a trama é recordada com carinho pelo público em geral. Por isso, vale relembrar essa grande obra da cultura pop que atravessou gerações e encantou a audiência com uma narrativa cotidiana e que primou pela simplicidade e muitas aventuras, presente em todos os episódios da série.
Sinopse
Carga Pesada mostrava as aventuras dos caminhoneiros Pedro (Antonio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) e, através deles, apresentava a diversidade cultural do país. Tudo começa quando os dois adquirem em sociedade um dos mais caros e bem-aparelhados caminhões do mercado. Afim de quitar as prestações mensais do veículo, a dupla se locomove com cargas pesadas em extensas viagens por meio de estradas de terra ou trajetos temporários. Dividindo a direção, os dois precisam lidar com inúmeros problemas como atoleiros, enchentes, e dificuldades relativos a contratempos com dinheiro e assaltos. O seriado, em sua primeira fase, também falava sobre mazelas sociais, como a reforma agrária e o trabalho escravo no Brasil.
Apesar de uma convivência nem sempre pacífica, muito por conta de suas diferenças de personalidade, Pedro, um aventureiro que se orgulha de não ter patrão e mulherengo e Bino, um homem sensato e flexível, se amam como irmãos. São dois caras de grande índole que vivem para o trabalho e que, por diversas vezes, se arriscam para auxiliar o próximo.
Produção
Alterações de elenco semanalmente, convidados e figurantes eram presença constante em Carga Pesada. Geralmente, cada episódio possuía cerca de 30 pessoas participando, e as gravações perduravam, em média, por três dias.
Algumas cenas eram realizadas nos estúdios Herbert Richers, no Rio de Janeiro, porém, quase 90% dos episódios foram produzidos em externas, várias delas durante a noite. Ainda que nas tramas, Pedro e Bino viajassem por diversos estados do Brasil, cada episódio era rodado em uma estrada do estado do Rio de Janeiro. Os autores faziam alusões ao local a qual se passava o enredo por intermédio de indicações de cunho cultural e de comportamento.
A produção exigia muita logística, porque muitas externas eram realizadas em regiões distantes do centro de produção da Globo, obrigando a um planejamento para o deslocamento de equipamentos e de toda a estrutura técnica. (“Biografia da Televisão Brasileira”, Flávio Ricco e José Armando Vannucci)
Curiosidades e Bastidores
Carga Pesada mostrava aos brasileiros a diversidade cultural do pais. Sua estreia na TV Globo ocorreu em meados de 1979, depois do sucesso de público e crítica de Ciranda Cirandinha, escrita por Paulo Mendes Campos e dirigida por Daniel Filho. A minissérie abriu portas para o lançamento do projeto Séries Brasileiras, com seriados que entrariam no universo do Brasil contemporâneo. As aventuras dos caminhoneiros Pedro (Antonio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia), retornaram em 2003, depois uma passagem de tempo de 22 anos, onde a dupla percorria, novamente, as estradas do país.
O seriado foi baseado em Jorge, um Brasileiro, episódio do Caso Especial apresentado em 1978. A trama era uma adaptação realizada pelo escritor Oswaldo França Júnior do seu romance de mesmo nome. No Caso Especial, Antonio Fagundes interpretava um caminhoneiro que atravessava o interior de Minas Gerais para levar uma carga, a qual tinha que percorrer diversos obstáculos durante a viagem. Paulo José, diretor do Especial, opinou diretamente com Boni, então diretor de operações da Rede Globo, para realizar um seriado que fosse retratado a vida dos caminhoneiros no tema de uma das séries brasileiras.
Amigos dentro e fora das telas, Antônio Fagundes e Stênio Garcia tinham como hábito brincar de imaginar casos problemáticos um para o outro nas oportunidades onde escreviam roteiros de Carga Pesada. Stênio Garcia se recorda que, no episódio A Barricada, escreveu uma cena onde Pedro estava preso com dois foragidos da prisão dentro de um caixote cheio de cebolas, enquanto Bino, no volante do caminhão, buscava atravessar barreiras policiais. A situação ficou ainda pior quando, em determinado momento, os bandidos resolveram “degustar” as cebolas do caixote, tornando os diálogos quase impossíveis de serem convertidos em cenas. Posteriormente, Antonio Fagundes revidou, escrevendo um enredo onde os dois caminhoneiros estavam emperrados em um mangue, sem alimento algum. Bino, então, foi o grande “herói” do episódio ao adentrar na lama para pescar caranguejos.
Os atores Antonio Fagundes e Stênio Garcia passaram a viver de maneira intensa a rotina dos caminhoneiros durante as gravações do seriado. Os dois almoçavam e bebiam nos mesmos bares que os motoristas e dirigiam os caminhões de verdade. Assim, não passou muito tempo e Pedro (Antonio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) se tornaram um sucesso. Os globais recebiam centenas de cartas de caminhoneiros mostrando sua admiração por eles pois, segundo os motoristas, o seriado ajudou a relatar sobre as suas vidas nas estradas.
Antônio Fagundes e Stênio Garcia escreveram 12 dos 54 episódios da primeira versão de Carga Pesada. A dupla de atores foram exímios nos tipos de seus personagens, Pedro e Bino. Além do próprio seriado, que retornou em 2003, eles voltaram a realizar parcerias artísticas juntos nas novelas Corpo a Corpo (1984-1985), O Dono do Mundo (1991) e O Rei do Gado (1996).
Prêmios
Por sua interpretação como o caminhoneiro Bino, Stênio Garcia venceu o prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como melhor ator de 1980 (ao lado de Jardel Filho, pela novela Coração Alado). Em 1979, o ator José Dumont, por sua participação no seriado, levou a estatueta de revelação na TV em 1979 (em companhia de Narjara Turetta, por Malu Mulher).
Abertura
Ao som de uma versão instrumental da canção “O Frete”, de Renato Teixeira, a primeira abertura do seriado mostrava diversos caixotes sendo empilhados, enfileirados e colocados em uma boleia de um caminhão. Uma lona é alocada em cima das caixas por figurantes e amarradas ao veículo com cordas resistentes. Ao final, o motor é acionado e o caminhão segue viagem com um letreiro grande atrás escrito em fontes fortes “Carga Pesada”.
Trilha Sonora
A partir de uma pesquisa feita com caminhoneiros do Brasil inteiro por Rubens A. Bastos e Arnaldo Schneider, o diretor musical Guto Graça Mello escolheu para a trilha sonora de Carga Pesada onze músicas de grande sucesso. “O Frete”, canção de Renato Teixeira e tema de abertura, foi composta particularmente para o seriado e marcou a atração. Também foram faixas importantes da trilha “Eu Vou Partir”, do trio sertanejo Os Filhos de Goiás; “Caminheiro”, do cantor Sérgio Reis; “New Whisky, New Cerveja” da dupla Rock e Ringo; “A Vida do Viajante”, clássico de Gonzaguinha e Luiz Gonzaga; “Motorista de Caminhão”, de Léo Canhoto e Robertinho, entre muitas outras.
Reprises
A série foi reprisada em duas oportunidades: 5 episódios em março de 1990, durante o Festival 25 Anos da TV Globo; e mais 5 episódios em 1995, no Festival 30 Anos.
Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.
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