Nostalgia da TV: Plumas e Paetês (1980/81)

No próximo dia 25 de abril, uma grande novela das sete da Rede Globo completará 42 anos do seu final. Nesse dia, foi ao ar o último capitulo da novela Plumas e Paetês, mais uma obra de sucesso absoluto de público e crítica de Cassiano Gabus Mendes com a colaboração de Sílvio de Abreu. Exibida no tradicional horário das 19 horas entre 8 de setembro de 1980 a 25 de abril de 1981, em 191 capítulos, essa narrativa nostálgica sobre uma “impostora” foi marcada pelo enorme sucesso e repercussão, e também por ter sido uma das primeiras tramas a utilizar o universo da moda como pano de fundo, assim como outros enredos posteriormente. Além disso, uma direção competente e segura de Gonzaga Blota e Reynaldo Boury aliado a um elenco de nomes de peso como Elizabeth Savalla, Cláudio Marzo, José Wilker, Maria Cláudia, Angelina Muniz, Neuza Amaral, José Lewgoy,  John Herbert, Paulo Goulart, Eva Wilma, Maria Helena Dias, entre outros, garantiram o sucesso do folhetim. Por isso, vale relembrar a história, bastidores e curiosidades desta obra irresistível que marcou o horário noturno global.

Elizabeth Savala interpretou Marcela no sucesso “Plumas e Paetês”. Novela de Cassiano Gabus Mendes completa 42 anos do seu final em 2023. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Sinopse

Marcela (Elizabeth Savalla),uma moça que reside no interior de Minas Gerais, tem sua vida totalmente alterada quando sofre um acidente de carro em sentido a São Paulo, sendo ela a única sobrevivente. Assim, ela entra em contato com a família do motorista, Osmar (Stepan Nercessian), um amigo. Em um grande engano dos familiares do rapaz, ela é confundida com Júlia (Cristina Aché), a noiva do moço, que também faleceu no trágico acidente. Gestante e querendo esquecer do seu passado em Minas Gerais, e para não ficar sozinha sem nenhum auxílio em uma cidade a qual não conhece ninguém, Marcela se manifesta como a noiva de Osmar. Assim, a jovem começa a usufruir de todos os privilégios da abastada família, que tem como referência materna de liderança Bruna (Neuza Amaral), uma mulher elegante que a recebe com suspeitas, e pelo cortês Gustavo (José Lewgoy).

Edgar (Cláudio Marzo), o primogênito de Bruna e Gustavo, encanta-se pela falsa cunhada. Contudo, para poderem viver esse amor improvável, Marcela precisa acertar as contas com um amor de Minas do passado: Paulo (José Wilker), o pai de sua bebê. Paulo a conheceu em uma boate de strip-tease, a qual Marcela se apresentava como Roseli. Mas ela desconhecia o fato de que ele próprio não dizia a verdade sobre sua real identidade: Paulo é na verdade Renato, namorado da modelo Amanda (Maria Cláudia), que tinha se tornado sua amiga em São Paul, com quem ela compartilhava um apartamento com outras duas modelos, Dorinha (Mila Moreira) e Veroca (Lúcia Alves).

Uma outra importante parte da novela se desenvolve a partir da trama de Rebeca (Eva Wilma), uma empresária milionária que se encontra coagida a tomar posse da confecção que recebeu do marido depois do seu falecimento. Inapta inicialmente para mover os negócios do cônjuge, a viúva começar a ser assediada de maneira incansável por seu assessor Márcio (John Herbert). Porém, ela descobre o amor genuíno de Gino (Paulo Goulart), segurança em sua fábrica. Ainda, Rebeca costuma controlar a vida amorosa de seu único filho, o irresponsável Jorge Luís (Paulo Guarnieri), impedindo seu relacionamento com a humilde Nadir (Solange Theodoro), copeira da empresa, e com Veroca, modelo gananciosa que desfilava com suas peças.

Produção

Toda a trama se desenvolve em São Paulo. No enredo, eram revelados os principais locais da moda na capital. O desfile mostrado no primeiro capítulo foi feito em uma requintada casa noturna da cidade, o Gallery.

Marcela (Elizabeth Savala) e Edgar (Cláudio Marzo) em cena da novela. Autor do enredo foi substituído por Silvio de Abreu durante o folhetim. (Foto: Reprodução/TV Globo)

O figurinista Marco Aurélio empenhou-se em elaborar estilos bem diversos para as personagens da novela. Dorinha (Mila Moreira) possui uma personalidade forte, e suas roupas ressaltam o humor leve e original. Já Lídia (Sura Berditchevsky) se martiriza por falta de altura e possuir pouco jeito para desfilar. Com isso, ela termina dando abertura para uma face mais cômica: ela opta por tudo o que está sendo tendência, mesmo desconhecendo se o utensílio combina com seu tipo corpóreo. Amanda (Maria Cláudia) trilha uma linha opulenta, enquanto Veroca (Lúcia Alves) utiliza um estilo mais sensual e atrevido. Proprietária de uma fábrica de jeans, Rebeca (Eva Wilma) personificou o mundo de confecção e produção de moda. A executiva usava trajes baseados em roupas clássicas, simples, com peças básicas aprofundados por toques refinados.

Bastidores e Curiosidades

Em Plumas e Paetês, Cassiano Gabus Mendes uniu novamente a dupla de atores Eva Wilma e John Herbert, que fizeram par romântico no seriado Alô Doçura, de 1953, na TV Tupi, produção escrita e dirigida pelo autor. Silvio de Abreu substituiu o novelista quando restavam somente 42 capítulos para o término do folhetim. O fato ocorreu porque Cassiano Gabus Mendes sofreu um infarto e necessitou se ausentar da trama.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), Silvio de Abreu relatou que Cassiano, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, o chamou para dar continuidade a novela. Neste depoimento, Silvio ressalta ter estado a frente de Plumas e Paetês a partir do capítulo 103 (diferente do citado acima). Ele se reuniu com sua esposa, Maria Célia, afim de ficar por dentro de tudo que havia ocorrido no folhetim naquele momento em apenas um fim de semana. O casal leu os mais de cem roteiros naqueles dias (eles não acompanhavam a novela). Em uma semana, Silvio enviou 6 capítulos à produção da trama.

O enredo principal de Plumas e Paetês era sobre o drama de Marcela (Elizabeth Savala), que adentra em uma família abastada tomando a identidade de outra pessoa. A história da obra era muito parecida com a da novela A Intrusa, exibida pela TV Tupi em 1967.

John Herbert interpretou Márcio em “Plumas”. Ator reviveu parceria com antiga colega de cena na trama das 19h. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Foi a primeira vez que Cassiano Gabus Mendes conseguiu estabelecer uma narrativa em sua terra natal, São Paulo, na Globo. Suas novelas anteriores, à mando da emissora, se localizaram no Rio de Janeiro. Naquele momento, não era a primeira vez que uma obra das sete da Globo era situada na capital paulista. Contudo, foi a primeira ocasião onde as ambientações paulistanas foram em larga escala utilizadas em uma novela das sete, um costume que se tornou corriqueiro na faixa desde então. Foram usados como locação para Plumas e Paetês diversos locais que estavam em voga na capital paulista e que mostravam os padrões da sociedade de consumo do período retratado na novela.

Um destaque da trama foi Lúcia Alves. Ela interpretou a hilária manequim (modelo) Veroca, que chamou para si toda a atenção do público ao batalhar com a humilde Nadir (Solange Theodoro) pelo amor e o dinheiro do playboy conquistador Jorge Luís (Paulo Guarnieri).

Maria Cláudia tinha sido preterida por Débora Duarte para interpretar a personagem Catucha, um dos papéis principais da novela das oito daquele momento, Coração Alado. Ainda assim, a atriz não saiu de “mãos vazias” pois conseguiu interpretar Amanda, uma das modelos centrais de Plumas e Paetês.

O cantor, compositor e produtor musical americano Davitt Sigerson, aproveitando o êxito de sua música “I Never Fall in Love” (da trilha internacional da novela), esteve no Brasil e realizou uma participação na novela para cantar seu hit em uma festa. (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vicent Villari)

José Wilker voltava a interpretar personagens em novelas depois de uma pausa de quatro anos. O seu último papel foi em Anjo Mau, em 1976, também de Cassiano Gabus Mendes, onde o ator tivera problemas com o diretor (Régis Cardoso).

Estreia de Eva Wilma e Paulo Guarnieri na Globo. Os dois vinham de novelas da TV Tupi (que acabara suas atividades em 18 de julho de 1980, pouco antes do início da trama).

Dorinha (Mila Moreira) e Veroca (Lúcia Alves) em cena da novela. Núcleos paralelos fizeram sucesso no folhetim. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Plumas e Paetês também foi o único trabalho na Globo do então ator e músico Heraldo Galvão, irmão de Fábio Jr., pai do ator Guilherme Boury (fruto do matrimônio com a atriz e escritora Margareth Boury).

O final do folhetim apresentava um desfile na Gallery, requintada casa noturna de São Paulo no período, com a presença ilustre do costureiro Clodovil Hernandes, entre outros. Ao término da obra, o cantor e bailarino Ronaldo Resedá interpretou a música-tema de abertura da novela enquanto as modelos do elenco desfilavam.

Antes de se lançar como atriz, Silvia Pfeifer apareceu na abertura da novela. Modelo de renome na época, ela apareceu na vinheta ao lado de Carla Pádua e outras modelos realizando poses, caras e bocas.

Foi criado por Hans Donner e sua ex-mulher Sylvia Trenker, artistas gráficos, o alfabeto que derivou o logotipo da novela. Inclusive, a ilustração da capa do álbum “Plumas e Paetês Internacional” é de Sylvia, que elaborou no período diversos desenhos replicados em vinhetas da Globo como, por exemplo, a abertura do programa TV Mulher.

O universo da moda também serviu de cenário para outras produções, como as novelas Ti-ti-ti (1985-1986 e 2010), Top Model (1989-1990), Um Anjo Caiu do Céu (2001), Verdades Secretas (2015), entre outras tramas.

Plumas e Paetês foi comercializada para vários países, entre os quais estão: Espanha, Estados Unidos, Itália e Venezuela.

O primeiro título imaginado para a novela foi Carrossel de Ilusões(“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Prêmios

Por seu personagem no folhetim, Paulo Guarnieri venceu a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como ator revelação na TV em 1981 (em companhia com o então garoto Ulisses Bezerra, pela novela Os Imigrantes, da TV Bandeirantes).

Amanda (Maria Cláudia) e Paulo/Renato (José Wilker) nos bastidores de “Plumas e Paetês”. Enredo apresentava o mundo da moda como pano de fundo. (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Remake

Em 2010, Maria Adelaide Amaral adaptou Ti-ti-ti, novela de Cassiano Gabus Mendes exibida entre 1985 e 1986, em uma nova versão desta narrativa. Às obras da Ti-ti-ti original, uniram-se a personagens e tramas de Plumas e Paetês. Da trama, a autora retirou o enredo de Marcela/Renato/Edgar e também a trama do casal Rebeca e Gino. No remake, estes personagens foram interpretados, respectivamente, por Ísis Valverde, Guilherme Winter, Caio Castro, Christiane Torloni e Marco Ricca.

Reprise

Plumas e Paetês retornou no Vale a Pena Ver de Novo, às 13h45, entre janeiro a setembro de 1983. A novela praticamente não foi editada para essa reapresentação, o que era incomum na época. De seus 191 capítulos originais, teve aproximadamente 180 na faixa da tarde global. Parte da novela e dos personagens de Plumas e Paetês foi aproveitada no remake de Ti-Ti-Ti, em 2010, adaptada por Maria Adelaide Amaral, antiga colaboradora de Cassiano Gabus Mendes.

Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

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