Esquecidas pelo VPVDN: Pé na Jaca (2006/07)

Baseado na lenda do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda para a criação de alguns personagens do núcleo principal da trama, a novela “Pé na Jaca” começava há 16 anos pela TV Globo como mais uma trama ‘espirituosa’ de Carlos Lombardi, regada a corpos desnudos e apelo erótico, uma das marcas registradas do autor. Com a direção de núcleo de Ricardo Waddington, a produção foi exibida pela emissora no tradicional horário das 19 horas de 20 de novembro de 2006 a 16 de junho de 2007, em 179 capítulos, e também foi marcada pela repercussão abaixo da meta pretendida pela emissora, onde divergências entre autor e direção ficaram evidentes no resultado final do folhetim. Talvez, por conta disso, a produção seja mais uma mais uma na lista das novelas esquecidas pela sessão vespertina “Vale a Pena Ver de Novo”. Assim, vale relembrar a produção, bastidores e curiosidades deste enredo lúdico que tinha nomes como Murilo Benício, Juliana Paes, Deborah Secco, Marcos Pasquim e Fernanda Lima nos papéis principais do enredo.

Lance/Tico (Marcos Pasquim), Guinevere (Juliana Paes), Arthur (Murilo Benício), Beth (Deborah Secco) e Maria Bô (Fernanda Lima) nos bastidores de “Pé na Jaca”. Novela é mais uma na lista das tramas esquecidas pelo Vale a Pena Ver de Novo. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Sinopse

Há vinte e cinco anos, cinco crianças encontraram-se ocasionalmente na beira de um rio no interior de São Paulo, mais precisamente em Deus me Livre, próximo de Piracicaba. Naquele dia, eles brincaram sem ligar para as diferenças sociais que possuíam, e que mais cedo ou mais tarde podiam os afastar, e tinham a confiança que aquela amizade duraria eternamente.

Com o passar dos anos, o tempo os afastou de alguma maneira e eles nunca mais se encontraram (exceto por dois deles), desde que aquelas férias terminaram. Vinte e cinco anos depois, Arthur (Murilo Benício) passava férias na fazenda do tio plantador de jacas; Maria (Fernanda Lima) era a filha do dono da fazenda; Elizabeth (Deborah Secco), era a filha da costureira; Guinevère (Juliana Paes), a filha de uma empregada; e Tico (Marcos Pasquim), filho de um dos colonos da fazenda.

Assim, depois de mais de duas décadas, os cinco cresceram e o destino os deixou novamente no mesmo lado e eles terminaram colocando “o pé na jaca”, com atitudes e sentimentos que os levaram para o buraco, ou seja, sem saída ou em alguma encrenca.

Então, afim de um recomeço, estão todos de volta ao ponto inicial de suas histórias juntos, sem a inocência dos velhos tempos e afastados da amizade que afirmaram um dia.

Produção

Pé na Jaca teve cenas realizadas em Paris, como as tomadas do reencontro de Lance (Marcos Pasquim) e Maria (Fernanda Lima). As gravações contaram com mais de 50 cenas de ação. Em uma delas, inclusive, Lance pula da Pont des Arts num barco de turismo que passa pelo rio Sena.

Para essa gravação foram chamados 70 profissionais da TV Globo, entre elenco, equipe técnica, figurinistas, maquiadores e produtores. Além deles, uma equipe de uma produtora de Paris também guiou as gravações. Pontos turísticos da cidade, como o Museu do Louvre, a Torre Eiffel, a Place des Vosges e o Arco do Triunfo também serviram de locação para o enredo.

Um grande aporte foi acionado para realizar as gravações fora do país. No total, os profissionais da TV Globo transportaram aproximadamente uma tonelada de equipamentos e quase 800 kg de roupas e acessórios para as cenas produzidas no estrangeiro.

Marcos Pasquim foi o mulherengo Lance em “Pé na Jaca”. Ator foi “figurinha” frequente nos últimos trabalhos de Carlos Lombardi na Globo. (Foto: Reprodução/TV Globo)

A cidade de São Paulo também serviu de locação para a trama. A mansão de Arthur (Murilo Benício) e Vanessa (Flávia Alessandra) ficava localizada no Morumbi, bairro nobre da capital paulista. Também foram feitas cenas na raia de remo da Universidade de São Paulo, Parque Villa-Lobos e no Mercado Municipal.

Município fictício da produção, a cidade cenográfica de Deus me Livre, projetada em uma área de 2500m² na Central Globo de Produção (Projac), dispunha de prédios, fazendas, corretora de imóveis, o parque de diversões de Cigano (Chico Anysio) e o sítio do tio José (Leonardo Villar).

Bastidores e curiosidades

Carlos Lombardi se baseou na lenda do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda para elaborar alguns personagens do núcleo central da trama: Arthur (Murilo Benício), Guinevere (Juliana Paes) e Lance (Marcos Pasquim). Já Elizabeth e Maria, interpretadas por Deborah Secco e Fernanda Lima, foram inspiradas, respectivamente, em Elizabete I, conhecida como “a rainha virgem”, e sua prima bastarda, Maria Stuart, a rainha da Escócia. (Site Memória Globo)

Durante a produção, Carlos Lombardi criou diversas alusões a seriados norte-americanos. Alguns deles foram Lost, Battlestar Galactica, Heroes e Monk.

Apesar da audiência aquém da esperada para o horário na época (em torno dos 30 pontos), Pé na Jaca conquistou uma legião de fãs alheios às críticas da mídia, que acusou o autor Carlos Lombardi de insistir no apelo erótico e abusar de torsos desnudos, fórmula perpetuada em trabalhos anteriores. (Site Teledramaturgia)

Não era o desejo de Fernanda Lima realizar a trama devido as críticas que lhe foram impostas por seu trabalho no ano anterior, Bang Bang (2005), seu início como atriz. Ela foi convencida, após muita insistência de Mário Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo no período. Ao final, Fernanda consentiu ao convite de interpretar a personagem Maria, uma das protagonistas do folhetim.

Fernanda de Freitas (Lilinha) e Deborah Secco (Beth) posam juntas durante festa de divulgação para a imprensa da novela. Semelhança entre as atrizes, que foram irmãs durante o folhetim, foi destaque na época. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Murilo Benício foi um dos pontos altos da produção como o divertido Arthur Fortuna, um cara desengonçado e norteado de tiques. O ator afirmou que foi influenciado pelos atributos de dois amigos para criar o perfil estabanado do personagem. A forma de falar foi elaborado a partir de Evandro Mesquita, ator a qual o modo de falar carioca é carregado em excesso. Também, o hábito de mexer compulsivamente as mãos foi baseado em Pedro Cardoso que, de acordo com Benício, se movimenta bastante durante as conversas. O escritor Carlos Lombardi relatou ainda que se inspirou nele mesmo para realizar muitas das características do papel.

Comparadas pela semelhança entre as duas, Fernanda de Freitas e Deborah Secco interpretaram as irmãs Lilinha e Beth, respectivamente. O fato das duas atrizes serem bastante parecidas foi inclusive comentado por diversos veículos de comunicação na época, inclusive na própria Globo quando Fernanda participou do programa Video Game, apresentado por Angélica.

Um ponto triste marcou a novela. A atriz e comediante Nair Bello gravou cenas do começo de Pé na Jaca. Porém, quando a novela foi ao ar, ela já estava hospitalizada, com a saúde bastante debilitada. Assim, sua personagem, Gioconda, passou a ser feita por Arlete Salles, que regravou as cenas já realizadas pela atriz. Nair Bello partiu em 17 de abril de 2007, antes do término da trama.

Várias atrizes alteraram o visual para interpretar as suas personagens. As madeixas de Juliana Paes, Deborah Secco e Flávia Alessandra foram escurecidas para os seus personagens no enredo e Fernanda Lima clareou as pontas e cultivou as raízes mais escuras para interpretar Maria, modelo internacional relacionadas às últimas tendências da moda. Ainda, Betty Lago, que fez o papel de Morgana, adquiriu uma extensa mexa branca em volta aos seus fios pretos, visual criado a partir da figura da madrasta da Branca de Neve.

Abertura

A abertura de Pé na Jaca mostrava vacas e outros animais de fazenda se movimentando e dançando em duas patas, como humanos. Produzida em animação 3D pela equipe da Videographics, pertencente a TV Globo, em parceria com a produtora Seagulls Fly e o estúdio Consequência, os animais dançavam enquanto tocava Ridin’high, de Cole Porter, em versão de Aldir Blanc, particularmente gravada para a novela em interpretação de Zizi Possi.

Trilha Sonora

Além do tema de abertura, “Eu Ando Ok (Rdin’ High)” na voz de Zizi Possi, outras canções embalaram a trama. As músicas “Lenda” da cantora Céu (tema de Maria), a dançante “Você Vai Estar na Minha” da Negra Li (tema de Tico); a romântica “Ainda Bem” de Vanessa da Mata (tema de Gui); Infinito Particular” de Marisa Monte (tema de Elizabeth) o remix de “Espirais” da atriz/cantora Marjorie Estiano, entre outras, fizeram parte da trilha sonora nacional do folhetim. A capa foi estampada pelos animais animados que aparecem na abertura da novela, que teve apenas uma trilha sonora musical.

Arthur (Murilo Benício), Beth (Deborah Secco), Maria Bô (Fernanda Lima), Lance/Tico (Marcos Pasquim) e Guinevère (Juliana Paes) foram os cinco protagonistas de “Pé na Jaca”, novela de Carlos Lombardi com direção de Ricardo Waddington. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Por que foi esquecida?

Novela que ficou abaixo da média esperada para o horário, Pé na Jaca conquistou uma legião de fãs após sua passagem original pela faixa das 7 da noite da TV Globo. Mesmo insistindo no apelo erótico e colocando corpos descobertos em 1 a cada 2 cenas, a produção cumpriu bem o papel de entreter parte do público, que ainda deseja reve-la na sessão vespertina Vale a Pena Ver de Novo. Mas esse estilo apegado ao sensual, pode também ter sido um dos pontos que impediram a sua volta na sessão de reprises da tarde. Aliado a isso, também tem o fator autor, já que poucas obras de Lombardi já retornaram em algum momento (até hoje, somente Vereda Tropical, Bebê a Bordo e Quatro por Quatro tiveram uma segunda exibição pela emissora). Ainda, em entrevista, ao realizar uma análise sobre o folhetim, Lombardi revelou que não curtiu muito a direção de Pé na Jaca (núcleo de Ricardo Waddington). Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo), disse: “Acho que realizei bem a ideia, mas não gostei tanto da direção. Houve coisas muito boas e coisas das quais não gostei. Como a cidade cenográfica. Não parecia uma cidade do interior de São Paulo. Por isso, Pé na Jaca não foi das minhas novelas mais bem realizadas. Mas foi bem interpretada. A novela teve um elenco bem escalado e a direção de atores era legal. Por outro lado, foi uma das novelas em que menos fiz cenas de ação. Não que os diretores de externa fossem ruins, mas eles não tinham experiência com cenas desse tipo. (…) Talvez por causa disso eu tenha transformado Pé na Jaca em uma novela mais ‘radiofônica’ do que é o meu normal.”

Contudo, mesmo com essas ressalvas, a obra é bem quista no geral pelo público, que sente curiosidade em rever a obra, seja em televisão aberta, como também para entrar na íntegra através do Viva ou no catálogo do Globoplay, plataforma de streaming da emissora.

Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

Deixe um comentário