Estrelas da TV: Fernanda Montenegro

Grande dama do cinema e da teledramaturgia brasileira, a atriz Fernanda Montenegro está completando hoje (16/10), 93 anos de vida. Nascida em Campinho, subúrbio carioca, no ano de 1929, com o nome de batismo de Arlette Pinheiro Esteves da Silva, a nossa artista começou cedo na carreira. Em televisão, mais precisamente, foi a primeira atriz contratada pela TV Tupi, em 1951, lugar onde estrelou dezenas de teleteatros, com a direção Fernando Torres (seu marido), Sérgio Britto e Flávio Rangel. Já em telenovelas, uma das nossas principais expoentes em atuação iniciou em 1954 como protagonista de A Muralha, pela RecordTV, além de protagonizar outras produções da casa.

Fernanda Montenegro, atriz de sucesso em teatro, cinema e televisão, está completando hoje 93 anos de vida. (Foto: Divulgação)

A mãe de Cláudio Torres (cineasta, 60 anos) e Fernanda Torres (atriz, 57 anos), ainda passou por outras emissoras durante sua extensa carreira, em trabalhos de excelência na Band, TV Cultura, RecordTV e Globo (Rede de televisão a qual permanece desde 1981até hoje), além de mostrar seu desempenho e interpretações marcantes pelas extintas TV Excelsior, TV Rio e Rede Tupi. Vale ressaltar que Fernanda Montenegro é a única brasileira indicada ao Oscar de Melhor Atriz, e também a única atriz nomeada pela principal premiação norte-americana por uma atuação em língua portuguesa, por sua performance como Dora em Central do Brasil (1998). Não bastasse isso, nossa grande dama foi a primeira brasileira a ganhar o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz pela sua comovente atuação como dona Picucha em Doce de Mãe (2012), e,atualmente, em 2022, foi a primeira mulher a ocupar a 17° cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Assim, para comemorar essa data festiva e prestar uma homenagem para esta maravilhosa e excelente intérprete que tanto nos alegrou e emocionou com seus grandiosos trabalhos em televisão, fizemos uma lista com 10 personagens marcantes de Fernanda Montenegro, um dos nossos orgulhos e uma das maiores atrizes que tivemos até hoje.

10- Jacutinga (Renascer, 1993)

Fernanda foi Jacutinga no sucesso “Renascer” de Benedito Ruy Barbosa. Mesmo em uma participação especial, a estrela conseguiu um grande destaque na novela. (Foto: Reprodução/Globo)

Em “Renascer”, fenômeno de audiência exibido em 1993, Fernanda fez apenas uma participação especial, mas que foi o suficiente para deixar sua marca no folhetim clássico escrito por Benedito Ruy Barbosa, quando conquistou público e crítica em uma composição forte e determinada. Na novela, nossa diva é dona do bordel local que abriga Maria Santa (Patrícia França) como filha. Pessoa de caráter admirável e sábia, é quem realiza os partos da mulher de José Inocêncio (Antonio Fagundes), inclusive o último herdeiro, a qual Maria Santa não resiste e morre. Acolhe Mariana (Adriana Esteves) quando a moça aparece na vida do coronel.

9- Bete Gouveia (Passione, 2010-11)

Em “Passione” novela de Sílvio de Abreu exibida entre 2010 e 2011, Fernanda conseguiu imprimir sua marca como a discreta viúva Bete Gouveia, mulher de Eugênio (Mauro Mendonça). Mãe de três filhos, Saulo (Werner Schünemann), Gerson (Marcello Antony) e Melina (Mayana Moura), ao longo do enredo, ela descobre que também é mãe de Antonio Mattoli, o Totó (Tony Ramos), por conta de um relacionamento com Olavo (Francisco Cuoco), anterior ao seu casamento com Eugênio. No entanto, ela pensa que Totó está morto, porém, na realidade, ele foi entregue por Eugênio a uma família italiana. Ao descobrir a verdade, Bete procura saber onde se encontra o filho desconhecido. Mesmo em um papel um pouco aquém do seu talento, Fernanda mostrou muita firmeza e sagacidade dando vida a uma mulher forte e generosa, que procura ser justa em todas as suas ações. Nona posição na nossa lista!

8- Chica Newman (Brilhante, 1981-82)

Em um de seus primeiros trabalhos pela Rede Globo, nossa grande dama realizou um dos seus melhores desempenhos em televisão até então. Em “Brilhante” novela de Gilberto Braga exibida entre 1981 e 1982, Fernanda foi a dominadora e mãe possessiva Chica Newman, profundamente ligada ao marido Vitor (Mário Lago) e mãe de Isabel (Renée de Vielmond) e Inácio (Dennis Carvalho). No enredo, sua personagem nasceu milionária e possuía uma mentalidade ainda mais aristocrática do que a do marido, mas que, ainda assim, se relaciona amorosamente com seu motorista, Carlos (Cláudio Marzo). Neste papel de grande relevância na história, dona Fernanda conseguiu imprimir todo seu talento e garantiu a maioria das premiações do ano em um papel difícil mas que para o seu gabarito, serviu apenas para solidificar a sua trajetória no gênero telenovela.

7- Olga Portela (O Dono do Mundo, 1991-92)

Fernanda Montenegro como a cafetina de luxo Olga Portela da novela “O Dono do Mundo”. Jogo de cintura em cena foi marca registrada da atriz na interpretação da personagem. (Foto: Reprodução/Globo)

Fernandona foi um dos grandes destaques de “O Dono do Mundo”, trama escrita por Gilberto Braga com a direção geral de Dennis Carvalho, em 1991, ao interpretar Olga Portela, uma cafetina de luxo que possui há muitos anos uma vida abastada, sem ser rica por completo. Por conta disso, viaja muito, e tem relações públicas importantes as quais a tem como figura de proa em sua lista de convidados para eventos sociais. Olga, na realidade, prepara encontros em seu apartamento, principalmente nos finais de tarde, onde vários homens de negócios sabem que podem encontrar uma companhia feminina interessante. Com esse personagem cheio de camadas, Fernanda Montenegro conquistou público e crítica através de uma mulher que não era uma mocinha tradicional mas tampouco era vilã e que tinha segredos obscuros que foram revelados ao longo do enredo. Com o papel, a atriz venceu o Troféu Imprensa de melhor atriz em 1992 pelo seu desempenho e graças ao seu jogo de cintura em cena (como esquecer da cena onde o castiçal quebrou durante uma gravação ao lado dos atores Antônio Calloni e Letícia Sabatella e Fernanda continuou a encenação como se nada tivesse acontecido). Só os maiores conseguem isso!

6- Leonarda Furtado/Naná (Cambalacho, 1986)

Em mais uma parceria de sucesso com Sílvio de Abreu, Fernanda Montenegro interpretou com maestria a hilária Naná, grande trapaceira da trama e que tem como cúmplice dos seus “cambalachos” o seu compadre, Jerônimo Machado (Gianfrancesco Guarnieri), mais conhecido como Gegê. A trambiqueira é uma mulher nervosa e afobada, mas também é muito inteligente, divertida e amiga de todos. No enredo, ela recolhe várias crianças de rua para criar em sua casa e ainda precisa arrumar tempo para o serviço doméstico e para seus golpes. Assim, graças a este importante personagem, que caiu nas graças do público e da crítica, Fernandona mostrou que consegue interpretar com excelência todos os tipos de papeis, desde a mais rica até o mais humilde. Graças ao seu desempenho no papel, nossa diva da TV venceu o Troféu Imprensa de 1987 de melhor atriz.

5- Vó Manuela (Riacho Doce, 1990)

Em “Riacho Doce”, minissérie exibida em 1990 e baseada na obra de José Lins do Rego com adaptação de Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretzhon, Fernanda Montenegro esteve em estado de excelência interpretando uma respeitada líder espiritual da comunidade onde vive, que pretende que seu neto Nô (Carlos Alberto Riccelli) herde seu lugar. Para isso, ela não permite que o rapaz se relacione com mulheres e faz com que ele feche seu corpo para o amor, graças aos seus poderes místicos. Sua interpretação como Vó Manuela foi tão convincente que a atriz acabou sendo temida não somente por todos do lugarejo fictício, mas pelo público em geral que sentia calafrios sempre que a atriz entrava em cena. Um dos papéis mais lembrados de Fernanda em televisão e quinto lugar na nossa lista.

4- Bia Falcão (Belíssima, 2005-06)

Fernanda Montenegro deu vida à maquiavélica Bia Falcão, antagonista de “Belíssima”. Papel de grande importância na história é até hoje lembrado por conta de memes que circulam na internet. (Foto: Reprodução/Globo)

Em “Belíssima”, outra novela de Sílvio de Abreu, nossa dama do teatro interpretou outra antagonista de sucesso. Na trama exibida entre 2005 e 2006, ela foi a arrogante Bia Falcão, matriarca da família Assunção, uma mulher elegante e de brio, que criou os netos Júlia (Gloria Pires) e Pedro (Henri Castelli) depois do falecimento prematuro de sua filha, Stella, fundadora da Belíssima. Sua elegância e firmeza nos negócios permitiram que administrasse a empresa até que Júlia (Gloria Pires) estivesse pronta para assumir a presidência. Interfere diretamente na vida amorosa dos netos, até mesmo depois da morte de Pedro, fazendo de tudo para prejudicar quem ousa atravessar o seu caminho. Assim, com este personagem marcante, que virou meme na internet posteriormente, Fernanda venceu o APCA de melhor atriz em 2005 e comprovou que quanto mais o tempo passa, mais o seu talento se multiplica. Um grande momento da veterana em televisão e mais um trabalho de destaque da artista em novelas globais.

3 – Picucha (Doce de Mãe, 2012)

Mais recentemente, Fernanda Montenegro fez mais um personagem de grande valia na carreira. Em “Doce de Mãe”, exibida em 2012, ela viveu Picucha, viúva de Fortunato (Francisco Cuoco), mãe de quatro filhos e avó de cinco netos. Com 85 anos de vida, é divertida e encara bem a velhice. No entanto, tudo muda em sua vida quando ela resolve morar em uma casa geriátrica, mas com o tempo, volta atrás em sua ideia inicial depois de perceber que está envelhecendo afastada da família.

Com este papel de grande importância em sua trajetória, Fernanda Montenegro conseguiu uma proeza e tanto. Em 2013, a atriz foi a primeira brasileira a ganhar o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz pela sua entrega comovente como dona Picucha. Um feito raro e que somente uma atriz do gabarito de Fernandona consegue depois de tantos anos prestados a teledramaturgia. Terceiro lugar na nossa lista!

2- Charlô/Altamiranda (Guerra dos Sexos, 1983)

Fernanda Montenegro e Paulo Autran em cena de “Guerra dos Sexos”, novela de 1983. Parceria do casal foi um dos pontos altos do folhetim clássico escrito por Sílvio de Abreu. (Foto: Reprodução/Globo)

No grande clássico “Guerra dos Sexos”, de Sílvio de Abreu, Fernandona esteve em estado de graça como Charlô, uma mulher feminista, exigente e ativa, que ama fazer apostas, especialmente as que envolvem o primo Otávio (Paulo Autran), um machão que tem a visão de mundo totalmente oposta com a dela. Graças a esse papel, Fernanda Montenegro ganhou de vez o coração dos noveleiros, com uma personagem revolucionária e a frente do seu tempo. Como esquecer a cena do café da manhã onde ela e Autran jogam comida um no outro? Essa, com certeza, é uma das mais lembradas e icônicas cenas da história da televisão brasileira.

O próprio autor da obra, Sílvio de Abreu destacou com entusiasmo o excelente trabalho da atriz e seu parceiro de cena, e como eles não tinham pudor em realizar todas as peças de humor pastelão possíveis com a mesma grandeza que fariam uma cena dramática: “Na medida em que você coloca atores da grandeza de um Paulo Autran e uma Fernanda Montenegro levando torta na cara, levar torta na cara passa a ser uma coisa importante e possível na telenovela, mesmo que, a princípio, isso espante todo mundo.” Um dos maiores momentos da atriz no gênero e que até hoje está eternizado na mente e no coração dos fãs da nossa diva da TV.

1- Dora (Central do Brasil, 1998)

Fernanda Montenegro como Dora, protagonista do longa “Central do Brasil”. Aclamada pela crítica, ela chegou a ser indicada ao Oscar de melhor atriz pelo papel. (Foto: Reprodução/Globo)

O primeiro lugar na nossa lista não poderia ser outro. Apesar de não ser um personagem de novela (mas poderia perfeitamente ser), temos que concordar que Dora, do filme “Central do Brasil” (dir. Walter Salles, 1998) é uma das interpretações mais marcantes, tocantes e de uma entrega sem igual de Fernanda Montenegro. No enredo do longa, sua personagem é uma professora aposentada que trabalha como escritora de cartas para analfabetos na Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ela frequentemente perde a paciência com seus clientes e muitas vezes não envia as cartas que escreve guardando ou rasgando-as, em alguns casos. Contudo, tudo isso muda quando ela conhece Josué (Vinícius de Oliveira), um pobre garoto com nove anos que nunca conheceu seu pai, Jesus, mas sonha com esse reencontro. Sua mãe, Ana (Sôia Lira), contrata os serviços de Dora para poder enviar uma carta ao progenitor do garoto, porém, no momento em que a mãe e o menino deixam a estação, ela é atropelada por um ônibus e morre às vistas do filho, que fica desabrigado. Assim, Dora leva o garoto para sua casa e depois quase perde-lo para um casal que mata as crianças que supostamente adota para comercializar seus órgãos no mercado negro, consegue recupera-lo e fica em dúvida sobre se responsabilizar pelo menino. No fim das contas, ela termina decidindo levá-lo ao nordeste, com o objetivo de encontrar a casa de seu pai e ali deixa-lo. Um trabalho de excelência em atuação de Fernanda e que resume bem a capacidade que ela tem de emocionar e fazer o público se apaixonar por sua arte através de suas personas. Graças a esse papel, Fernanda Montenegro venceu inúmeros prêmios e até hoje é a única artista feminina, com uma personagem em língua portuguesa, a concorrer ao Oscar de melhor atriz. Um feito raro e que só astros da grandeza da nossa dama da teledramaturgia pode alcançar.

E para você, qual personagem da nossa aniversariante faltou na lista? Conte nos comentários!

Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

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