Esquecidas pelo VPVDN: Salomé (1991)

Livremente inspirada no romance homônimo de Menotti del Picchia, a novela Salomé terminava há 31 anos pela TV Globo com uma caprichada trama épica do autor Sérgio Marques com a direção geral e de núcleo de Herval Rossano. Produzida e exibida pela emissora no tradicional horário das 18 horas de 3 de junho a 4 de outubro de 1991, em 107 capítulos, esse folhetim é marcado pela repercussão abaixo do esperado pela emissora na época (a faixa vinha do sucesso de “Barriga de Aluguel”), e pelo fato de ter sido toda gravada antes de sua estreia, o que geralmente prejudica algumas produções por não haver possibilidade de alteração do enredo quando o público não aceita alguns rumos dados pelo autor para alguns personagens ou narrativas. Talvez, por conta disso, a produção seja mais uma mais uma na lista das novelas esquecidas pela sessão vespertina Vale a Pena Ver de Novo. Assim, vale relembrar a produção, bastidores e curiosidades deste enredo lúdico que tinha nomes talentosos como Patrícia Pillar, Petrônio Gontijo, Imara Reis, Suzy Rêgo, Edwin Luisi, Rubens de Falco, Flávia Monteiro e Carlos Alberto nos papéis principais.

Patrícia Pillar (Salomé) caracterizada como Salomé. Trama de Sérgio Marques, inspirada no romance homônimo de Menotti Del Picchia, foi totalmente gravada antes de sua estreia. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Sinopse

A personagem principal da trama é Salomé (Patrícia Pillar), mulher à frente de seu tempo que, com muita ousadia e obstinação, choca a sociedade de Paris ao mostrar um número de dança com véus onde aparece seminua. Assim, não demora para a notícia chegar ao Brasil, deixando aflitos sua mãe, Santa (Imara Reis), e seu padrasto, Antunes (Carlos Alberto). Apreensivos com a honra da jovem, eles resolvem que a moça deve abandonar a cidade parisiense e o pai, Antunes, viaja para trazer Salomé de volta ao seu país. Contudo, ela somente admite retornar a sua terra natal se seus melhores amigos, Berta (Suzy Rêgo) e Ruggero (Matheus Carrieri), se juntarem a ela. Antunes consente, e todos realizam o embarque juntos. Já no Brasil, Salomé começa a residir na fazenda Pindorama, em São Paulo, local em que sua mãe aguarda ansiosa por sua volta. Devidamente instalada, ela conhece Duda (Petrônio Gontijo), homem pelo qual se apaixona instantaneamente. Duda era dono da fazenda Pindorama, porém, seu pai, o coronel Venâncio (Herval Rossano), atolado em dívidas, foi induzido a vender a propriedade para Antunes. Venâncio se suicida logo em seguida devido ao sofrimento de perder a propriedade, local de grande valia para ele. Um tempo depois, Duda retornou à fazenda. Sem trabalho, ele começa um romance em segredo com Santa.

Produção

O mote central da novela foi o romance Salomé, publicado em 1940 por Menotti Del Picchia. O livro foi inspirado na passagem da bíblia onde a dançarina Salomé solicita ao rei Herodes a cabeça do profeta João Batista.

Os primeiros capítulos da obra reproduziam a Paris da década de 1930, numa produção esmerada de reconstituição de época.

Herval Rossano almejava produzir essa novela em 1978 e pretendia ter Gilberto Braga como autor do folhetim. Porém, como Braga tinha sido promovido para o restrito grupo de autores que escreviam pra o horário nobre da TV Globo, com Dancin’ Days, o projeto foi engavetado. A concepção para a realização do enredo foi colocado em prática somente em 1989, quando resolveram retomar a proposta da obra épica. A novela estreou em 1991.

Foram providenciados 30 cenários diversos para a novela, concedendo ao diretor a chance de utilizar mais de 150 ambientes diferentes. A equipe de produção de arte da trama trabalhou em uma pesquisa minuciosa para a triagem de móveis, objetos de luxo e cardápios utilizados nas cenas.

Salomé (Patrícia Pillar) e Duda (Petrônio Gontijo) em cena da novela. Requinte na produção e esmerada reconstituição de época foram marcas registradas da obra. (Foto: Reprodução/TV Globo)

As gravações feitas na Fazenda Pindorama foram realizadas em outra propriedade, localizada em Vista Alegre, Valença, no Rio de Janeiro. Alguns cenários interiores foram gravados nos estúdios da Cinédia, em Jacarepaguá (bairro da zona oeste do Rio de Janeiro), e em mansões de Petrópolis (RJ). Já algumas externas foram projetadas em Paris, capital francesa.

A personagem Salomé (Patrícia Pillar) possuía mais de 70 peças de roupa em seu figurino. O capricho na concepção abrangia até as roupas íntimas dos personagens.

Curiosidades e Bastidores

No início, a proposta para Salomé era que a trama tivesse somente 60 capítulos. Contudo, a recusa de Boni, então vice-presidente de operações da emissora, mudou os planos para o folhetim que teve sua história adicionada em mais 47 episódios, sendo finalizada com 107 capítulos. Sendo assim, a novela é uma das mais breves já produzidas para o horário das 18h.

Salomé foi completamente gravada antes de ir ao ar, assim como foi feito na novela Pacto de Sangue, também exibida no horário das 18h, em 1989, e com a direção de Herval Rossano.

Mudanças de valores, agitação política, legitimação da MPB e do futebol foram algumas características dos anos 1930 retratadas na novela como pano de fundo para a história (Site Teledramaturgia).

Salomé lançou o autor Sérgio Marques como novelista. Graças a exibição da novela, o romance Salomé retornou às livrarias, conquistando um imenso sucesso de vendas. A obra foi publicada no ano de 1940, e não era reeditada desde 1975.

Maurício Sherman foi inicialmente escalado e começou a gravar como o banqueiro americano MacGregor. Porém, problemas de saúde o afastaram da produção, o que fez com que o diretor Herval Rossano escalasse Rubens de Falco para o papel. A novela já estava com gravações adiantadas e De Falco teve de gravar 26 capítulos em cinco dias. (O Globo, 16/06/1991, TV Pesquisa PUC-Rio)

Lilia Cabral interpretou Ernestina em “Salomé”. Sua personagem era considerada louca na trama por esperar pelo marido que foi assassinado. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Salomé foi comercializada para diversos países, entre os quais estavam: Costa Rica, Guatemala, Nicarágua, Paraguai, Portugal, República Dominicana, Rússia e Venezuela.

Abertura

Com inspiração no quadro O Beijo (1907), de Gustav Klimt, a abertura da novela, realizada pelo designer Hans Donner, continha um casal fazendo suaves movimentos. Enquanto os dois se abraçavam, várias imagens de mosaicos estilo art déco eram reveladas sobre seus corpos, manchando suas roupas de flores, círculos e outras formas geométricas. Ao fundo, uma composição de cores e padrões. A reprodução dos traços de Klimt foi feita por Gustavo Garnier, e o alfabeto que deu origem à logomarca da novela foi idealizado por Silvia Trenker. A música tema da abertura era “Sombra em Nosso Olhar”, bela interpretação de Selma Reis para a versão de Aldir Blanc do clássico norte-americano “Smoke Gets In Your Eyes”, de Jerome Kern e Otto Harbach. (Memória Globo)

Trilha Sonora

Além do tema de abertura, “Sombra em Nosso Olhar (Smoke Gets in Your Eyes)”, na voz de Selma Reis, outras canções embalaram a novela. As músicas “Fim de Jogo” de Elba Ramalho (tema de Salomé), “Te Amo” do Biafra (tema de Mônica); “O Que é Que Eu Faço” da cantora Joanna (tema de Santa); “Destino” de Patrícia Marques (tema de Carmem) a balada “Faz de Conta” (Make Believe)” de Edson Cordeiro (tema de Salomé e Duda) fizeram parte da trilha sonora nacional do folhetim. A capa foi estampada por Petrônio Gontijo, intérprete do personagem Duda no enredo.

Patrícia Pillar, mais bela do que nunca, como Salomé. Trama épica foi esquecida pelo Vale a Pena Ver de Novo. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Já a trilha internacional de Salomé possuía outras canções clássicas de destaque como “With a Song in My Heart” da cantora Doris Day (tema de Carmem); “I’m Confessin’” de Perry Como (tema de Rita); “Tea For Two” de Sarah Johnson (tema de Berta); “I’m In The Mood For Love” de Johnny Mathis (tema de De Paula e Isolda); e a marcante “As Time Goes By” de Andy Williams (tema de Salomé). A capa da segunda trilha da obra foi estampada por Flávia Monteiro, intérprete de Carolina na trama.

Por que foi esquecida?

Novela caprichada e despretensiosa do então novato autor Sérgio Marques para o tradicional horário das 18h, Salomé acabou passando despercebida pela faixa e até hoje nunca foi lembrada para a sessão de reprises da TV Globo, Vale a Pena Ver de Novo. Um dos fatores para a história nunca ter sido reapresentada, pode ter sido por ter sido preterida por tramas de maior apelo popular ou mais recentes. Além disso, a pouca repercussão da trama protagonizada por Patrícia Pillar (que vinha do fenômeno “Barriga de Aluguel” no horário anteriormente) e o fato da narrativa já ter sido toda gravada antes de sua estreia, sem as rotineiras alterações realizadas pelos autores para alterar enredos ou personagens que não cativaram a audiência, podem ajudar a explicar o motivo para o “esquecimento” da atração. Ainda assim, a trama é bem avaliada pelos noveleiros, que sentem curiosidade em rever a obra, seja em televisão aberta, como também para entrar na íntegra através do Viva ou no catálogo do Globoplay, plataforma de streaming da emissora.

Fontes: Memória Globo e Teledramaturgia.

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