Sinhá Moça (1986) no Globoplay: 20 curiosidades sobre o clássico

Clássico da teledramaturgia brasileira e baseada no romance homônimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, a versão original da novela Sinhá Moça retorna hoje (12/09), definitivamente pelo Globoplay, plataforma de streaming pertencente à Rede Globo. Produzida e exibida originalmente pela emissora de 28 de abril a 14 de novembro de 1986, em 172 capítulos, a trama foi escrita e adaptada por Benedito Ruy Barbosa e colaboração de Edmara Barbosa e Edilene Barbos, com a direção de Reynaldo Boury e Jayme Monjardim, e ficou marcada pelo grande sucesso com uma trama bem amarrada sobre amor e liberdade, capricho nos figurinos, e uma bela, minuciosa e delicada produção de arte. Além disso, um elenco afiado, repleto de estrelas globais do primeiro escalão, ajudaram a compor o êxito da narrativa estrelada por Lucélia Santos, Rubens de Falco e Marcos Paulo. Por isso, vale relembrar 20 curiosidades sobre a novela com os devidos motivos para assisti-la novamente através da plataforma on-demand global.

Lucélia Santos (Sinhá Moça) e Marcos Paulo (Rodolfo) foram os protagonistas de “Sinhá Moça”. Clássico exibido às 18h, em 1986, retorna hoje no Globoplay. (Foto: Reprodução/TV Globo)

1- Segundo Nilson Xavier escreveu no site Teledramaturgia, Sinhá Moça foi uma espécie de reedição de Escrava Isaura (produzida exatos dez anos antes, em 1976), tamanha era a semelhança entre as duas. As obras eram de cunho abolicionista, retratando portanto a mesma época e temática central. O vilão era interpretado por Rubens de Falco nas duas novelas: Leôncio e o Barão de Araruna. E a mocinha era Lucélia Santos: Isaura e Sinhá Moça, que sofriam nas mãos de seus respectivos algozes.

2- Com uma esmerada produção, a novela cativou a audiência discorrendo sobre amor e liberdade. A obra se desenvolvia no decorrer de um período de dois anos, finalizando no dia da Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888.

3- A produção marcou pelos figurinos caprichados e a bela produção de arte. Para isso, foi idealizada uma primorosa pesquisa de época, desenvolvendo todos os detalhes referentes a vestimentas, adereços e decoração de cenários. A trama marcou também por ter sido o primeiro trabalho do figurinista Paulo Lois. Ele relatou que todos os figurinos foram produzidos pela equipe de costura da própria Globo.

4- As cenas de Sinhá Moça foram feitas em locações externas diversas: no distrito de Conservatória; na Fazenda Veneza, situada na cidade de Itatiaia (as duas na região serrana do Rio de Janeiro); e também em São João del Rei (MG).

5- Uma cidade cenográfica foi projetada em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, para as gravações da novela. Já os estúdios da Herbert Richers, no bairro carioca da Tijuca, também serviram de locação para a gravação das cenas em estúdio do folhetim.

6- O experiente diretor Reynaldo Boury ficou a cargo das imagens em estúdio do enredo. Seu parceiro, Jayme Monjardim, em uma de suas primeiras experiências como diretor, tomou conta das cenas externas da produção.

Ana do Véu (Patrícia Pillar) e Mário (Tarcísio Filho) nos bastidores da novela. Capricho no figurino e na produção de arte foram alguns dos destaques do folhetim. (Foto: Reprodução/TV Globo)

7- Em um trabalho em parceria com a equipe de iluminação, Monjardim modernizou ao mostrar belíssimas cenas durante a obra. Tudo foi aproveitado nas locações, desde os jardins da fazenda, até as trilhas no meio da mata. Um excelente jogo de luz e sombra.

8- Uma curiosidade interessante é que, antes mesmo do seu início, 50 países já estavam motivados em adquirir a novela, fascinados pelo tema e pela atriz Lucélia Santos que, junto do ator Rubens de Falco, conquistaram o mundo com o fenômeno Escrava Isaura (1976). Quinze anos depois da sua estreia, em 2001, Sinhá Moça já havia sido vendida e exibida para 63 países, entre eles Austrália, Bélgica, China, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Itália, Rússia, Suécia, Suíça, Turquia e Venezuela. Em algumas nações, inclusive, foi exibida por volta de 3 vezes.

9- A saudosa atriz Ruth de Souza, que já havia interpretado um personagem de destaque em uma versão de Sinhá Moça para o cinema (produção da Vera Cruz e dirigida por Tom Payne, em 1953), relatou que estava ansiosa para ser chamada para atuar na trama. Mal sabia ela que Benedito Ruy Barbosa a convidou para dar vida a velhinha Nhá Balbina, papel de grande relevância que realizava a maioria das suas cenas com o personagem de Grande Otelo (Justo), ambos caducos.

10- Graças ao seu papel em Sinhá Moça, Lucélia Santos interpretou pela primeira vez uma heroína romântica forte, corajosa e decidida. Sobre a novela, Benedito ressaltou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo: “Era uma história curta, que não rendia uma novela. Mas disse ao Boni [superintendente da Globo] para comprar os direitos que eu inventaria o resto. Se era para fazer uma novela que tratasse de escravidão, teria que ser algo bem feito. (…) me deram carta-branca. A autora Maria Dezonne Pacheco Fernandes, ainda estava viva, mas não houve problemas.”

Sinhá Moça (Lucélia Santos) e Adelaide (Solange Couto) em cena da trama. Adaptada por Benedito Ruy Barbosa, novela foi um grande sucesso no Brasil e no exterior. (Foto: Reprodução/TV Globo)

11- Na época, Benedito Ruy Barbosa foi convocado para escrever uma novela às pressas e, por conta disso, teve a ideia de adaptar o livro de Maria Dezzone Pacheco Fernandes. O conceito da obra nasceu durante uma reunião para debater uma novela que começaria a ser feita em breve. De acordo com o autor, ele utilizou o romance original somente como inspiração para originar a trama, uma vez que divergia de alguns pontos.

12- Sinhá Moça foi bem desenvolvida na adaptação de Benedito. O novelista utilizou oito personagens do livro, elaborou mais trinta e ainda introduziu alguns elementos do filme da Vera Cruz, como o Irmão do Quilombo, que na verdade era o mocinho Rodolfo (Marcos Paulo), um ativo abolicionista, que se disfarçava à noite para libertar os escravos das fazendas.

13- A novela recebeu vários títulos, em consonância com o país onde era apresentada: “Little Missy” nos Estados Unidos, “Mademoiselle” na França, “Niña Moza, El Camino De La Libertad” na Espanha e “La Padroncina” na Itália. Quando foi exibida na Nicarágua, a novela chegou a parar uma guerra civil, a Revolução Sandinista, quando por volta de 100 mil televisores assistiam a trama no horário estabelecido em que foi exibida.

14- Para dar vida aos personagens centrais do folhetim, a emissora visou logo os nomes de Lucélia e Rubens, justamente mirando no mercado internacional. Para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes), o autor desabafou: “Se pudesse, teria escolhido a Giulia Gam para a protagonista. (…) Infelizmente a Globo não deixou. A Lucélia encheu o saco durante a novela. A certa altura, chegou a dizer que não serviria de escada para os outros [atores].”

15- Fábio Jr. foi o primeiro a ser chamado para o papel do mocinho abolicionista Rodolfo, mas não quis argumentando ter compromissos na sua carreira de músico. Assim, Marcos Paulo assumiu o seu lugar.

Cândida/Baronesa (Elaine Cristina) e Sinhá Moça (Lucélia Santos) em cena da trama. Parte importante da história brasileira foi contada durante a narrativa global. (Foto: Reprodução/TV Globo)

16- Artistas negros que participaram da minissérie Tenda dos Milagres, exibida no ano anterior (1985), foram chamados para o folhetim. Entre os destaques estavam Solange Couto, Tony Tornado, Antônio Pompeo, Joel Silva, Dhu Moraes e Milton Gonçalves.

17- Alguns problemas ocorreram durante as gravações da obra. Um exemplo foi quando um enxame de abelhas avançou em Lucélia Santos e Marcos Paulo, onde eles estavam numa gravação em externa; também pode ser citado o tombo de cavalo sofrido por Rubens de Falco, após saber que sua montaria estava sem ferraduras. Ainda, o ator Raymundo de Souza foi levado para o hospital com 41 graus de febre, onde permaneceu internado com pneumonia depois de recitar em cena um poema de Castro Alves. Pra completar, uma gripe severa contraída por Benedito Ruy Barbosa no meio da novela adiou alguns capítulos do enredo.

18- Sinhá Moça marcou por ter sido o primeiro trabalho de alguns talentos que viriam a ficar reconhecidos pelo público posteriormente. Além deter sido a primeira novela da atriz Luciana Braga e do ator Raymundo de Souza em novelas na Globo, também foi o papel de estreia do ator Nizo Neto e da então garota Lizandra Souto (com 11 anos na época). Ainda, foi a primeira incursão em televisão do ator Alexandre Morenno, que realizava figuração como um dos escravos da fazenda Araruna.

19- Vinte anos depois, em 2006, Sinhá Moça ganhou uma nova versão na própria Globo, com atualização de Edmara e Edilene Barbosa, filhas de Benedito Ruy Barbosa, e direção de Ricardo Waddington. O remake da trama, dessa vez, teve como personagens centrais os atores Débora Falabella e Danton Mello. Já os personagens Barão de Araruna e Cândida, foram interpretados por Osmar Prado e Patrícia Pillar, e Reginaldo Faria e Lu Grimaldi fizeram os personagens Fontes e Inez, respectivamente. Com o papel de Pai José, o ator Milton Gonçalves voltou a viver o mesmo personagem na segunda versão da novela, na segunda metade dos anos 2000.

Lucélia Santos (Sinhá Moça) e Marcos Paulo (Rodolfo) em cena de Sinhá Moça. Obra foi reapresentada em duas oportunidades antes de retornar no streaming. (Foto: Reprodução/TV Globo)

20- Sinhá Moça foi reprisada duas vezes desde o seu término original. Entre 15 de março e 02 de julho de 1993, a trama esteve em cartaz na sessão vespertina Vale a Pena Ver de Novo, em 80 capítulos. Já em 2018, mais de 20 anos depois, a obra ganhou um segundo repeteco no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo), sendo exibida na íntegra, entre 29 de janeiro e 18 de agosto de 2018, às 14h30 (com reprise à 01h15).

Fontes: Sites Memória Globo e Teledramaturgia.

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