Os Flops que Amamos: O Amor Está no Ar (1997)

Há exatamente 25 anos, terminava pela Rede Globo em seu tradicional horário das 18h, a novela O Amor Está no Ar. Produzida e exibida pela emissora de 31 de março a 5 de setembro de 1997, em 137 capítulos, a trama foi marcada pela rejeição de parte do público e problemas em sua direção. Escrita por Alcides Nogueira, com colaboração de Bosco Brasil e Filipe Miguez, supervisão de texto de Sílvio de Abreu e direção de núcleo de Wolf Maya, a narrativa centrada em um triângulo amoroso envolvendo mãe e filha até teve um começo promissor, mas se perdeu no meio do caminho e acabou como uma das piores médias de audiência para o horário, mesmo com uma produção caprichada e um elenco repleto de estrelas como Betty Lago, Natália Lage, Rodrigo Santoro, Georgiana Góes, Luis Mello, Lady Francisco, Natália do Valle e Nicette Bruno nos papeis principais. Ainda assim, vale relembrar a sinopse, curiosidades e bastidores da novela, e entender os motivos do seu revés em sua estada pelo horário das 18h global.

Sofia (Betty Lago) e Léo (Rodrigo Santoro), os protagonistas da novela “O Amor Está no Ar”, produzida pela Rede Globo no horário das 18h em 1997. (Foto: Reprodução/Rede Globo)

Sinopse

A trama acontece na tranquila e fictícia cidade de Ouro Velho. Depois do falecimento do marido, o aristocrata Victor Souza Carvalho (Wolf Maya), Sofia (Betty Lago) fica responsável pelos negócios da empresa Estrela Dourada, que inspeciona o turismo aquático na represa da cidade. Porém, sua sogra, Úrsula (Nicette Bruno), não aprova a situação, e começa um embate implacável pelo controle dos negócios da família Souza Carvalho, onde Úrsula vai contar com a companhia de um aliado poderoso, o desonesto Alberto (Luis Melo), casado com sua filha Milica (Suzana Gonçalves). Para piorar ainda mais a situação, a irmã de Sofia, Júlia Schnaider (Natália do Vale), retorna da Europa e se alia a Alberto para retirar a irmã da companhia, e sua filha, Luísa (Natália Lage), uma adolescente problemática, é influenciada pela avó paterna. O relacionamento entre mãe e filha se torna ainda mais problemático quando as duas se apaixonam pelo mesmo rapaz, o jovem aviador Léo (Rodrigo Santoro).

Ainda, a trama também discute sobre a possível existência de vida fora da Terra quando Luísa começa a ver luzes estranhas, sons improváveis e, durante um voo de ultraleve, corre atrás de uma (aparente) nave. No decorrer da novela, Luísa se vê de frente com o misterioso João Fernando (Eriberto Leão), que ela julga ser um E.T. e acaba sendo levada por ele.

Produção

A cidade cenográfica de Ouro Velho foi idealizada para as gravações do folhetim, sendo uma das maiores instalações no Projac até então, com uma área total de aproximadamente 40 mil metros quadrados. De acordo com o cenógrafo Keller Veiga, ela foi influenciada por municípios do interior de São Paulo que tinham muita vegetação e uma mistura do estilo colonial com o moderno.

Júlia (Natália do Vale) e Alberto (Luis Melo) em cena da novela. Problemas de audiência e nos bastidores marcaram o folhetim. (Foto: Reprodução/Rede Globo)

O Amor Está no Ar teve cenas realizadas na represa de Jurumirim, próximo de Avaré, cidade a 250 km da capital, São Paulo.

Curiosidades e Bastidores

A novela foi a primeira produção de Alcides Nogueira como autor titular na Rede Globo. Como novidades em seu enredo, o autor abordou a cultura judaica, pouco evidenciada em teledramaturgia até aquele momento. Nogueira também relatou as adversidades de uma família de circo para realizar o seu trabalho.

O último capítulo teve cenas gravadas em Machu Picchu, no Peru. Durante a novela, Luísa (Natália Lage) e Léo (Rodrigo Santoro) fazem uma romântica viagem para a cidade chilena e recebem a improvável visita do extraterrestre João (Eriberto Leão). O misterioso ser de outro mundo diz para ela se preparar para o futuro. Em conversa com a amada, Léo descobre que ela realmente fora abduzida por um período. Léo sempre acreditou que a narrativa dita por Luísa de que foi abduzida era uma desculpa para se separar dele. No final, os dois terminam felizes e João desaparece.

Tramas com seres de outros planetas como pano de fundo de enredo também foram mostrados (de variadas maneiras) nas novelas Os Estranhos (Excelsior, 1969) e Começar de Novo (Globo, 2004), e na série Tarcísio & Glória (Globo, 1988).

O nome da novela foi retirada da canção “Love is in the Air”, originalmente gravada pelo cantor australiano/escocês John Paul Young, em 1977, quando conquistou o estrelato pelo mundo. A música retornou às paradas em 1992 onde, na ocasião, o cantor a regravou especialmente para a trilha do filme “Vem Dançar Comigo” (Strictly Ballroom, de Baz Luhrmann), novamente com grande sucesso.

A produção marcou o retorno à televisão da atriz Suzana Gonçalves, irmã de Susana Vieira, que na época tinha se ausentado das novelas havia 22 anos.

Eriberto Leão, no começo da carreira, interpretou o misterioso João Fernando. Novela das 18h foi responsável por revelar alguns talentos da emissora. (Foto: Reprodução/Rede Globo)

Primeira novela das atrizes Ana Paula Tabalipa (após Malhação), Vera Mancini e Carla Fioroni e dos atores Eriberto Leão e Dan Stulbach (onde na abertura, era creditado como Dan Filip). Também foi o primeiro folhetim na Globo das atrizes Micaela Góes e Cláudia Provedel.

A novela foi comercializada para Portugal, entre outros países.

O primeiro título imaginado para a novela foi Não Estamos Sós(“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Ações Socioeducativas

A novela mostrou de perto o drama da personagem Ester (Monah Delacy), mãe de Sofia (Betty Lago), que precisa enfrentar o câncer de mama após descobrir um tumor maligno no seio. Alcides Nogueira motivou as mulheres a realizarem o autoexame para o diagnóstico antecipado da doença, e evidenciou como funciona o enfrentamento para o tratamento da enfermidade com coragem. Na história, Esther entra em depressão e começa a frequentar um grupo de ajuda que a faz recuperar a vontade de viver.

Abertura

A abertura da novela possuía como enfoque a palavra “amor” escrita em fontes diversas. Com muitas cores quentes, imagens aleatórias e os atores creditados rapidamente durante a vinheta, a equipe de Hans Donner aludia a internet com uma abertura com letreiros vibrantes, inovadora e contagiante. Já o título “O Amor Está no Ar” faz referência ao céu, o espaço, e por conseguinte, ao extraterrestre da história.

Trilha Sonora

A trilha sonora nacional de “O Amor Está No Ar” tinha um tema “gringo” em sua abertura, “Love is in the Air” (Ballroom Mix), de John Paul Young. Entre os destaques estavam “A Mulher em Mim” versão nacional do sucesso “The Woman in Me” de Roberta Miranda (tema da vilã Úrsula); a romântica “Amor, Meu Grande Amor” da banda Barão Vermelho (tema de Alberto); o hit “Abre Coração” do grupo de axé Banda Cheiro de Amor (tema de Camila); “Beija, Me Beija, Me Beija” interpretada por Simone (tema de Guima e Candê) “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” da saudosa Cássia Eller (tema de Léo); “Sempre Junto de Você” de Wander Taffo (tema da jovem Luísa) e “Intimidade” da cantora Zélia Duncan (tema de Júlia). A capa do álbum nacional da novela tinha estampada o ator Rodrigo Santoro, intérprete do personagem Léo no folhetim.

Rodrigo Santoro estampou a capa do álbum nacional de “O Amor Está no Ar”. Sucessos nacionais da época marcaram a primeira trilha sonora do folhetim. (Foto: Reprodução/Rede Globo)


Já a trilha sonora internacional da trama possuía grandes sucessos da época como a balada “Due Innamoratti” da italiana Laura Pausini (tema de Sofia); “The Same Moon” do britânico Phil Collins (tema de Luísa); o hit “Hard To Say I’m Sorry (David Fosters Remix)” parceria do grupo de R&B AZ YET com o cantor/compositor Peter Cetera (tema romântico geral); a irresistível “Please Don’t Go” dos americanos do No Mercy (tema de Rodrigo); a clássica “Bohemian Raphsody” numa nova versão realizada pela girl band The Braids (tema de Isabel) e a balada “In The Name of Love” dueto entre a cantora Karina e o grupo italiano de eurodance Double You (tema de Júlia e Alberto). Desta vez, a capa foi estampada por Natália Lage, intérprete da protagonista Luísa na novela.

Audiência

O Amor Está no Ar acabou amargando uma das menores médias no Ibope para o horário das seis na década de 1990: 26 pontos na Grande São Paulo.

Por que não deu certo?

Mesmo com um bom início, a novela não agradou a audiência em geral e alguns fatores foram levados em conta para o fiasco da obra exibida em 1997. Segundo disse o colunista Nilson Xavier no seu site Teledramaturgia, “Nem mesmo a presença de extraterrestres e a discussão sobre existência ou não de vida em outros planetas foram suficientes para fisgar o telespectador”.

O autor da obra, Alcides Nogueira, comentou em entrevista realizada ao blog “Eu Prefiro Melão” (de Vitor de Oliveira) sobre os problemas da novela: “A trama era bacana, o Silvio de Abreu era o meu supervisor… Mas houve um miscasting horrendo! Ao lado de atores e atrizes que “vestiam” com perfeição os personagens, (…) havia nomes que não tinham nada a ver… e que foram impostos (impostos mesmo) sem que eu ou o Silvio pudéssemos fazer nada. Fora isso, houve um desentendimento sério entre Wolf Maya (diretor do núcleo) e Ignácio Coqueiro (diretor geral), e a coisa respingou na novela. Eu adoro os dois, mas fiquei no meio do tiroteio!”

Luísa (Natália Lage), Léo (Rodrigo Santoro) e Sofia (Betty Lago) nos bastidores de “O Amor Está no Ar”. Novela de Alcides Nogueira discutiu sobre a possível existência de vida fora da Terra e a cultura judaica. (Foto: Reprodução/Rede Globo)

Entretanto, Alcides Nogueira não se isentou da responsabilidade pelo insucesso do folhetim. Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo autor explicou: “Acredito que também houve falta de maturidade da minha parte para tocar em alguns temas, assumo o erro. Eu poderia ter feito uma abordagem diferente. Enfim, a novela não foi aquilo que todo mundo, principalmente eu, esperava que fosse.”

Fontes: Sites Memória Globo, Teledramaturgia.

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