Recentemente reapresentada pelo canal Viva, a novela Páginas da Vida, de Manoel Carlos, retorna hoje (15/08), definitivamente pelo Globoplay, plataforma de streaming da Rede Globo. Exibida de 10 de julho de 2006 a 2 de março de 2007 pela emissora carioca, em 203 capítulos, a trama marcou por retratar temáticas sociais importantes como a síndrome de Down e a bulimia, entre outros, e também devido a algumas polêmicas nos bastidores. Ainda assim, a novela envolveu o público do início ao fim, com um folhetim clássico e envolvente, assim como outras novelas do Maneco, com atuações elogiadas e comoventes de nomes como Lilia Cabral, Regina Duarte, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Marcos Caruso, Fernanda Vasconcellos, Ana Paula Arósio e da pequena Joana Mocarzel. Por isso, vale relembrar algumas curiosidades sobre esse enredo realista com as devidas razões para acompanha-la novamente dentro da plataforma on-demand global.
1- Sexta novela de Manoel Carlos para o horário nobre da TV Globo como autor solo, Páginas da Vida mostrou a rotina diária de personagens de diversas classes sociais e idades tendo com ponto central a discussão sobre a síndrome de Down.
2- A novela destacou uma novidade ao público: ao final de cada capítulo, antes dos créditos finais, era exibido um depoimento de um anônimo relatando um acontecimento marcante de sua vida. O objetivo era relacionar o depoimento a um tema mostrado no capítulo daquele dia. Um dos depoimentos mais impactantes foi o dos pais de João Hélio Vieites, menino de 6 anos assassinado em fevereiro de 2007 depois de um assalto ocorrido dentro do carro de sua mãe, no Rio de Janeiro. Poucos dias depois da morte do filho, Elson Lopes Vieites e Rosa Cristina Fernandes Vieites falaram sobre a violência urbana e a dor sentida com a perda brutal da criança.
3- Uma das particularidades das tramas do autor Manoel Carlos é a inclusão de temas da atualidade em suas novelas. Em “Páginas da Vida”, como em outras histórias retratadas pelo escritor, notícias dos jornais eram discutidas pelos personagens durante um café da manhã ou um almoço de trabalho. Um exemplo foi dado quando era mostrado reportagens reais sobre morte de jovens meninas por conta de distúrbios alimentares, ou quando as freiras do hospital Santa Clara de Assis – as Irmãs Natércia (Bete Mendes), Fátima (Inez Viana) e Zenaide (Selma Reis) – leram uma reportagem sobre a morte do menino João Hélio durante um assalto, acontecimento que deixou o país em choque. Depois do diálogo das irmãs, uma externa aérea do Rio de Janeiro, encerrada com a imagem do Cristo Redentor, sem som, fechou a cena.
4- Esta foi a sétima protagonista com o nome “Helena” idealizada por Maneco em suas novelas. Também tiveram a mesma alcunha as protagonistas de “Baila Comigo” (1981, Lilian Lemmertz), “Felicidade” (1991, Maitê Proença), “História de Amor” (1995, Regina Duarte), “Por Amor” (1997, Regina Duarte novamente), “Laços de Família” (2000, Vera Fischer) e “Mulheres Apaixonadas” (2003, Christiane Torloni). Posteriormente, ainda houve mais duas personagens centrais com o mesmo nome em “Viver a Vida” (2009, Taís Araújo) e Júlia Lemmertz, filha da primeira “Helena” do autor, interpretando o famoso papel na novela “Em Família”, de 2014.
5- A atriz Regina Duarte interpretou uma Helena de Manoel Carlos pela terceira vez. A mãe de Gabriela Duarte já havia feito outras duas personagens centrais com o mesmo nome em 1995, na novela “História de Amor” e em “Por Amor”, de 1997.
6- A atriz Lilia Cabral representou um dos seus melhores papéis em televisão na pele de Marta. Ela e o ator Marcos Caruso, o Alex do enredo, foram protagonistas de algumas das cenas mais fortes do folhetim. Marta era uma vilã com várias camadas, e algumas de suas ações chegaram a ser tidas como absolutamente compreensíveis pelo público, uma vez que somente a personagem trabalhava e sustentava toda a família.
7- Uma das revelações da novela foi Grazielli Massafera, então finalista da quinta edição do reality Big Brother Brasil, em sua primeira experiência como atriz. No enredo a loira interpretou Thelma, uma moça doce e ingênua que se apaixona por Jorge, papel de Thiago Lacerda. Contudo, sua estreia dividiu opiniões. Enquanto parte da crítica elogiou seu desempenho, outra parte dos jornalistas especializados a consideraram inexpressiva e sem carisma.
8- A atriz Joana Mocarzel, que interpretou Clara na novela, foi um dos destaques do folhetim. Joana é filha do cineasta Evaldo Mocarzel, diretor do documentário Do Luto à Luta, que aborda sobre a síndrome de Down. A atriz encantou o público e a crítica e originou a idealização da primeira boneca com características de síndrome de Down produzida no país. Inclusive, em março de 2007, o autor Manoel Carlos foi agraciado com a medalha Pedro Ernesto pela condução na novela sobre o tema.
9- A bulimia, que ganhou força na trama por conta do drama de Giselle (Pérola Faria), foi outra temática que marcou o enredo, com a discussão sobre a exagerada preocupação com o culto ao corpo e à imagem na sociedade atual, levando jovens a deixar a saúde em segundo plano pela procura de um estereótipo de uma pessoa perfeita. Ao descobrir que a filha era bulímica, Anna (Deborah Evelyn) pede ajuda a Helena, médica e amiga da família, que recomenda que ela leve Giselle a um clínico geral, uma nutricionista e a um psicanalista. Com o tratamento, Giselle consegue vencer os problemas com o transtorno alimentar.
10- Páginas da Vida também tratou sobre o alcoolismo através do personagem Bira (Eduardo Lago). De acordo com o autor Manoel Carlos, este é um tema frequente em suas novelas porque ele o considera a maior chaga social que há, por ser uma droga lícita. A novela retratou, ainda, a discriminação racial, evidenciando o preconceito de Gabi (Carolina Oliveira) em relação a Selma (Elisa Lucinda), segunda mulher de seu pai.
11- Páginas da Vida mostrou o parto real da personagem Tatiana (Julia Carrera), fonoaudióloga de Clara (Joana Mocarzel). Ela solicita, em um dos capítulos, que Helena (Regina Duarte) realize seu parto. A atriz Julia Carrera, grávida na vida real, permitiu que o nascimento de sua filha fosse realizado durante a novela das 21h. Ela trouxe ao mundo Valentina, de parto normal, e tudo foi capturado por cinco câmeras. As imagens foram mostradas na obra, mesclando ficção e realidade. Foi a primeira vez que um parto real era evidenciado em uma novela.
12- O final da personagem Angélica (Cláudia Mauro) foi baseado em um fato verídico. Depois de residir no Rio de Janeiro, a personagem resolve retornar para Minas Gerais com sua filha, Gabi (Carolina Oliveira). No meio do trajeto, no entanto, bandidos bloqueiam o ônibus onde as duas viajam, roubam os passageiros e colocam fogo no veículo. Gabi consegue escapar, porém, Angélica morre na tragédia, por conta da violência bárbara sofrida. O acontecimento foi inspirado na madrugada do dia 28 de dezembro de 2006, no Rio de Janeiro, quando um ônibus foi assaltado e incendiado. o resultado deixou mortos e feridos no local.
13 – Em Páginas da Vida, foi utilizada pela primeira vez a speed camera, que concebe 16 mil frames por segundo.
14- Manoel Carlos homenageou o cantor e compositor Tom Jobim durante a novela. Em janeiro de 2007, mês em que o maestro faria 80 anos, um show com o filho e o neto do músico foi o grande destaque na inauguração da nova sala da Ama: a sala Maestro Tom Jobim. Paulo e Daniel Jobim interpretaram algumas canções de sucesso do cantor e compositor, como “Wave”, tema de abertura da novela, “Luiza” e “Águas de Março”.
15- Páginas da Vida teve cenas gravadas em Amsterdã e em outras cidades da Holanda. Os canais que fazem divisa com a cidade, as construções seculares, as praças e os museus da capital holandesa foram palco para os capítulos iniciais do enredo.
16- Por conta de uma virose que afetou suas cordas vocais, o ator Tarcísio Meira precisou se ausentar das gravações da trama por dois meses. Para justificar a saída temporária do personagem, foi dito que ele viajou a Petrópolis, na região serrana do Rio, para solucionar assuntos relativos à casa de campo da família.
17- A novela foi alvo de críticas do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia pela colocação na obra do tema da Aids. A principal dúvida foi a maneira como o médico Diogo (Marcos Paulo) determinou que o paciente Gabriel (Miguel Lunardi) possuía a doença. A polêmica se deu porque antes de analisar o resultado do teste de HIV do paciente, o médico ratificou que ele tinha Aids, com base em sua aparência e em exame clínico superficial. A TV Globo respondeu às críticas, relatando que as reações foram precipitadas, uma vez que a trama do personagem Gabriel estava apenas começando. No decorrer da história, o personagem soropositivo passa a aceitar a doença e a se tratar, por conta do suporte do médico Diogo e da Irmã Lavínia (Letícia Sabatella). No fim da produção, ele finalmente acredita que terá uma vida saudável e feliz.
18- No dia 13 de julho de 2006, a novela mostrou uma cena de striptease, protagonizada por Ana Paula Arósio e Edson Celulari, onde ela ficou nua. Devido a essa cena em específico, o Ministério da Justiça ameaçou classificar a trama como inadequada para menores de 16 anos.
19- Outra polêmica de grandes proporções relacionadas a novela aconteceu no final do capítulo do dia 15 de julho de 2006, onde foi exibido um depoimento concedido pela babá Nelly dos Santos, de 68 anos na época. Durante a entrevista, ela admitiu ter chegado ao orgasmo pela primeira vez aos 45 anos, depois de ter se masturbado ouvindo a música “Côncavo e Convexo”, de Roberto Carlos. Devido ao tabu relacionado ao tema no período da trama e da perda de emprego da babá pela repercussão negativa do ocorrido, ela ameaçou processar a Rede Globo. Inclusive, o polêmico depoimento foi excluído nesse mesmo capítulo durante a reprise no Viva em 2021.
20- Páginas da Vida teve boa parte das suas cenas em externas. Como a obra possuía o Leblon como cenário central, diversas cenas precisaram ser gravadas no próprio bairro. Ademais, foi projetada uma cidade cenográfica dentro da Central Globo de Produção, que apresentava prédios e estabelecimentos comerciais do famoso bairro carioca.
21- Não foi somente a Holanda que serviu como cenário para a trama fora do país. O pequeno Burundi, localizado na África e uma das nações mais pobres do mundo, serviu de locação para algumas tomadas de Páginas da Vida. Lá, foram gravadas as primeiras cenas do médico infectologista Diogo (Marcos Paulo).
22- Fernanda Vasconcellos faria parte do elenco da novela somente até 2 de agosto, quando sua personagem faleceria depois do parto. Mas sua performance foi muito bem aceita pelo autor, que prolongou a sua participação. Fernanda continuou na história como um espírito que possui o objetivo de proteger os filhos.
23- Trocas de elenco marcaram a pré-produção do enredo. Renata Sorrah foi a primeira convidada para fazer o papel de Marta, mas a atriz solicitou a direção realizar outra personagem depois do sucesso da antagonista Nazaré, de Senhora do Destino. A atriz terminou com o papel da promotora Tereza, enquanto a personagem que lhe fora destinado foi para a excelente Lilia Cabral. Já Marcos Caruso ficou com o personagem Alex, depois de ter seu personagem inicial trocado com Zé Carlos Machado, que interpretou o advogado corrupto Nestor. Essa foi uma decisão da direção por acreditar que os dois se encaixariam melhor nos papeis escolhidos posteriormente aos previstos anteriormente.
24- Maneco persuadiu Sônia Braga a entrar para o elenco do folhetim. Para convencer a artista, ele justificou que havia escrito a personagem Tônia particularmente para ela. Foi a primeira novela do início ao fim de Braga depois de 26 anos (sua última produção completa foi em 1980, quando foi protagonista de “Chega Mais”). Desde então, a atriz focou somente no cinema internacional e participações esporádicas no Brasil. Entretanto, anos depois, ela relatou que ficou decepcionada com a baixa exposição e a falta de enredo de seu papel na obra.
25- A composição do visual de cada personagem da trama, desde a maquiagem ao cabelo e cor da pele, foi realizada pela supervisora de caracterização Graça Torres, em dupla com a americana Celeste Randal.
26- A gravadora Som Livre colocou a venda três álbuns da trilha sonora da novela, sendo um nacional, um internacional, e outro com o título Páginas da Vida – Lounge, todos veiculados em 2006.
27- Walmor Chagas e Eva Wilma participaram dos últimos capítulos da novela como o juiz e a promotora que julgaram os processos pela guarda de Clara e Francisco.
28- Em maio de 2007, Páginas da Vida venceu sete categorias do Prêmio Contigo! incluindo a melhor novela de 2006; melhor autor (Manoel Carlos); melhor atriz (Lilia Cabral) e melhor atriz infantil (Joana Mocarzel). Ainda, posteriormente, Lilia Cabral foi indicada ao Emmy Internacional 2007 e venceu os prêmios da APCA e Troféu Imprensa de melhor atriz por sua interpretação como a antagonista Marta.
29- Além de Grazi Massafera (revelada no BBB 5), a produção também foi a primeira novela das atrizes Fernanda Vasconcellos e Marjorie Estiano (reveladas no seriado adolescente Malhação), Sophie Charlotte, Carolina Oliveira (que fez sua estreia como atriz na minissérie Hoje É Dia de Maria), Pérola Faria e Thalita Carauta. E dos atores Armando Babaioff, André Frateschi, Joelson Medeiros, Luciano Chirolli, Rafael Almeida e Gabriel Kaufmann (na época com 5 anos).
30- Em 2008, Páginas da Vida foi lançada no horário nobre do canal Televen, da Venezuela. A novela foi comercializada para vários 20 países, entre eles Portugal, Argentina, Romênia, Bolívia, Equador, Bulgária, Panamá, Costa Rica, Nicarágua e Peru. No Brasil, após 15 anos, a trama retornou na íntegra através do canal Viva, TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo, de 22 de novembro de 2021 à 15 de julho de 2022, na faixa das 23h com reprises às 13h30 do dia seguinte e maratona aos domingos às 18h.
Fonte: Memória Globo.
Blog TV e Novelas 