Esquecidas pelo VPVDN: Desejo Proibido (2007/08)

A novela Desejo Proibido terminava há 14 anos pela TV Globo como mais uma trama rural, leve e despretensiosa do veterano autor Walther Negrão. Produzida  e exibida pela emissora de 5 de novembro de 2007 a 2 de maio de 2008, esse folhetim que teve a direção de núcleo de Marcos Paulo e Ricardo Waddington e direção geral de Luiz Henrique Rios, também é lembrada pela audiência abaixo do esperado, o que ocasionou o seu encurtamento em 30 capítulos. Essa razão, inclusive, pode ter sido um dos motivos para a novela ter sido esquecida pela emissora que não a reapresentou na sessão vespertina Vale a Pena Ver de Novo. Ainda assim, vale relembrar a produção, bastidores e curiosidades deste enredo que tinha nomes talentosos como Fernanda Vasconcellos, Murilo Rosa, Daniel de Oliveira, Eva Wilma, Lima Duarte, Letícia Sabatella e José de Abreu nos papéis principais.

Padre Miguel (Murilo Rosa) e Laura (Fernanda Vasconcellos) viveram um amor impossível na novela “Desejo Proibido”, exibida entre 2007 e 2008. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Sinopse

Em um ambiente de muita devoção e romance, a novela Desejo Proibido apresenta personagens passando pelo seguinte dilema: por que decidir sempre entre dois caminhos? Uma das mais tradicionais e importantes famílias de Passaperto, cidade fictícia de Minas Gerais, é a que pertence a Cândida (Eva Wilma), a maior proprietária de terras cafeeiras da região nos anos 1930. Entretanto, no período que marca a queda histórica do ciclo da cafeicultura, a família de Cândida se viu forçada a comercializar parte de suas terras para o coronel Chico Fernandes (José de Abreu), que resolveu trocar o café pelo gado. Assim, para recuperar os bens de sua família, Cândida deu a mão de sua única filha em matrimônio para o coronel Chico. Deste enlace arranjado nasceu Henrique (Gabriel Kaufmann/ Daniel de Oliveira). O garoto não conviveu com a mãe, que morreu alguns meses depois do parto, vítima de uma febre altamente destrutiva.

Após um período curto de tempo, Chico se casou com Ana (Letícia Sabatella), filha da índia Iraci (Thais Garayp), e esse novo matrimônio causou a ira de Cândida que reprovou a atitude do genro e ordenou que ele escolhesse entre Ana ou Henrique. O fazendeiro decidiu ficar com Ana fazendo a esposa se sentir culpada por ter separado Chico do filho Henrique e também sofre por não conseguir ser mãe. Porém, um dia ela encontra um cesto nas margens de um rio próximo à gruta da Virgem de Pedra. Para sua satisfação, é uma menina recém-nascida, a quem dá o nome de Laura (Fernanda Vasconcellos). Anos depois, a jovem Laura se apaixona pelo padre Miguel (Murilo Rosa) e eles vão precisar passar por muitos percalços para poderem viver esse amor.

No começo da carreira, Grazi Massafera interpretou a doce Florinda na trama escrita por Walther Negrão. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Produção

As primeiras cenas da novela foram gravadas na Estação Luz, em São Paulo, no início de setembro de 2007 e na Estação Carlos Gomes, em Campinas.

A estação de trem foi convertida em cenário para a viagem de Miguel (Murilo Rosa) e Laura (Fernanda Vasconcellos) rumo a cidade fictícia de Passaperto. A gravação das primeiras cenas foram acompanhadas de perto pelos autores Walther Negrão, Jackie Vellego e Renato Modesto.

O estado do Rio de Janeiro, com suas cachoeiras e matas da região serrana, também serviram como locais para as diversas cenas de cavalgadas e encontros importantes, como o do primeiro beijo de Escobar (Alexandre Borges) e Ana (Letícia Sabatella).

As fazendas apresentadas na novela não faziam parte da cidade cenográfica. O sítio Betânia, em Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, foi definido como cenário da fazenda do coronel Chico Fernandes (José de Abreu). Já as cenas externas da propriedade de Cândida (Eva Wilma) foram produzidas em um sítio localizado em Três Rios, também no Rio.

A caracterização do elenco foi fruto de um processo extenso de pesquisa sobre a época onde é ambientada a história e de profundo estudo do perfil dos personagens. O trabalho começou depois da leitura da sinopse da trama e da análise de obras de referência, como Aconteceu Naquela Noite (1934), de Frank Capra, e Indochina (1992), de Régis Wargnier.

Sebastiana (Laura Cardoso) e Coronel Chico (José de Abreu) em cena da novela. Elenco talentoso foi um dos pontos altos do enredo. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Grande parte das atrizes teve de cortar os cabelos para se ajustar ao estilo da época. Grazi Massafera, por exemplo, cortou suas longas madeixas para interpretar a doce Florinda. A atriz já usava o cabelo mais comprido havia mais de dez anos. Fernanda Vasconcellos, a protagonista Laura no enredo, além do corte, fez um leve permanente para aumentar um pouco de volume nos fios. Camila Rodrigues também mudou drasticamente seu visual para fazer Guilhermina na obra: seu cabelo ficou entre os ombros e partido ao meio. Por fim, Sthefany Brito, a Dulcina da história, além de conter o comprimento, aderiu a uma franja.

Curiosidades e Bastidores

Desejo Proibido estreou com a difícil missão de alavancar a audiência do horário das seis, comprometida com o desempenho da atração anterior, Eterna Magia. (Site Teledramaturgia)

A história interiorana, brejeira, e o sotaque mineiro dos personagens foram alguns dos destaques positivos de Desejo Proibido, que contou com o carisma do elenco bem escalado.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, Walther Negrão relatou que o ator Lima Duarte o influenciou a escolher o interior de Minas Gerais para ambientar sua novela: “Histórias que tinha ouvido do Lima Duarte, sobre a terra dele, Sacramento, município de Minas Gerais, apelidada de Passaperto, e pensei ‘Vamos fazer Minas Gerais!’ (…) Conhecia o universo do Lima e a gente trocava figurinha sobre isso. Também pensei em fazer uma homenagem ao Lima. ‘Mineiramente’, era a garantia que eu o teria no elenco.” Na trama, Lima Duarte interpretou o personagem Viriato Palhares, prefeito da cidadezinha de Passaperto.

Um fato triste marcou a novela. O ator Luiz Carlos Tourinho, que interpretou Nezinho em “Desejo Probido”, faleceu durante o folhetim. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Um fato trágico marcou a novela. Desejo Proibido foi o último trabalho do ator Luiz Carlos Tourinho, que fazia o personagem Nezinho na produção. O ator faleceu, aos 43 anos, durante as gravações da trama, vítima de uma parada cardiorrespiratória, causada por um aneurisma cerebral. O autor Walther Negrão decidiu não substituir o personagemno enredo. Assim, um dublê do ator gravou uma cena sobre um burrinho, partindo por uma estrada. O autor inventou que o personagem sentiu falta da mãe e, por conta disso, decidiu partir. Nezinho, desse modo, deixou o seu colchão cheio de dinheiro para o padre Inácio (Marcos Caruso) investir em obras de caridade.

A novela também foi a última trama completa do ator Cláudio Marzo em vida. O famoso galã de alguns clássicos das novelas nos anos 60, 70 e 80 optou por se ausentar das produções globais por problemas de saúde, fazendo somente pequenas participações especiais desde então, até falecer em 2015.

Primeira novela da atriz Ana Lima e do ator André Arteche. Também, a primeira novela na Globo das atrizes Eliana Fonseca e Cinara Leal.

O título temporário, Milagre de Amor, foi mudado às pressas para Desejo Proibido. Para se ter uma ideia, a Globo já havia até lançado um pré-site da novela na internet com o título.

Abertura

A abertura de Desejo Proibido mostrava imagens em movimento da fictícia cidade de Passaperto, onde se passava a trama, como se fossem pinturas em movimento. O logo da obra tem como destaque uma maçã, muito em razão da palavra “proibido” do título. O tema sonoro da vinheta da novela, “Sonho Lindo” – música de Roberto Carlos e interpretada por Tânia Mara -, também foi o tema de abertura de outra novela que era reapresentada na época, quase no mesmo horário, em outro canal: A Usurpadora, novela mexicana produzida em 1998 e exibida pela primeira vez no SBT, no ano seguinte, em 1999, na voz do cantor Paulo Ricardo.

A atriz Bruna Marquezine, no começo da carreira, interpretou a jovem Maria Augusta, filha mais nova do delegado Trajano (Cássio Gabus Mendes) no enredo. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Trilha Sonora

Além de “Sonho Lindo”, canção de abertura, outras músicas marcantes marcaram Desejo Proibido, como “Aqui”, da cantora Ana Carolina (tema do casal protagonista Laura e Miguel); “Trem das Cores” (tema de locação) , do cantor Caetano Veloso; “Todo Azul do Mar” (tema de Miguel), interpretada pelo grupo 14 BIS; “Rosa” de Marisa Monte (tema de Viriato e Cândida); “Danada da Preguiça” (tema de Alcebíades), de Luk Brown, entre outras. O ator Murilo Rosa, intérprete do Padre Miguel, estampou a capa da trilha única da novela.

Audiência

Mesmo com um elenco estelar e requintado, uma produção esmerada, a direção segura, e elogios da crítica especializada, a novela vinha alcançando uma audiência ainda menor que a sua trama antecessora no horário, Eterna Magia. Desejo Proibido começou com 26 pontos de média, e 45% de participação. O penúltimo capítulo registrou 31 pontos e o último marcou 33 pontos com picos de 39. Uma das razões vistas para a sua audiência irregular, foi por conta do horário de verão, época em que a obra estreou e apresentou a maioria de seus capítulos e que, historicamente, prejudica a audiência das emissoras abertas. A novela teve média geral de 23,4 pontos, abaixo da meta estipulada para o horário de 25 pontos até então.

Assim, a Globo resolveu abreviar o término de Desejo Proibido em 30 capítulos, mais de um mês antes do que estava previamente programado. Assim, a novela teve seu final antecipado para que sua sucessora, Ciranda de Pedra, fosse finalizada até outubro, a tempo da sua substituta estrear antes ou no começo do próximo horário de verão.

Padre Miguel (Murilo Rosa) e Laura (Fernanda Vasconcellos) em cena da novela. Problemas de audiência afetaram a duração da trama. (Foto: Divulgação/TV Globo)

Por que foi esquecida?

Novela leve e despretensiosa do veterano autor Walther Negrão, Desejo Proibido nunca foi lembrada até hoje para a tradicional faixa de reprises da TV Globo, o Vale a Pena Ver de Novo. O principal motivo para esse “esquecimento” se deve em parte pelos problemas de audiência apresentados em sua exibição original no horário das 18 devido em grande parte ao horário de verão. Junta-se a isso, a novela também não foi um grande sucesso de público, apesar de ter um elenco caprichado e elogios da crítica. A falta de um enredo inovador que fisgasse o telespectador pode ter sido um dos motivos para a fuga de parcela dos telespectadores. Ainda assim, a trama é bem quista pelos noveleiros, que pedem pelas redes sociais uma possível reprise, seja em televisão aberta na própria faixa do “Vale a Pena”, em “Edição Especial”, como também para entrar na íntegra no catálogo do Globoplay, plataforma de streaming da emissora.

Fontes: Sites Memória Globo, Teledramaturgia e Wikipédia.

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