Há exatos 45 anos, estreava pela Rede Globo um dos principais programas infantis da sua história: o Sítio do Picapau Amarelo (1977-1986). Terceira adaptação para a televisão brasileira da obra homônima de Monteiro Lobato (a primeira foi exibida pela Rede Tupi entre 1952 e 1963, e a segunda versão foi realizada pela Rede Bandeirantes entre 1967 e 1969), a série/seriado infantil exibida entre 7 de março de 1977 e 31 de janeiro de 1986, acabou sendo a mais popular dentre as versões para a televisão da obra graças a uma história marcante e lúdica que encantou a audiência de várias gerações. Além disso, marcou também um elenco coeso dentre adultos e crianças que marcaram a sua carreira com o seriado, como foi o caso de Zilka Salaberry (Dona Benta), Rosana Garcia (Narizinho), Dirce Migliaccio/Reny de Oliveira (Emília), André Valli (Visconde), entre tantos outros. Por isso, vale relembrar essa história de fantasia que atravessou gerações e encantou a audiência infantil com uma narrativa poética e que primou pela simplicidade, presente em todos os episódios da série.
Sinopse
Dona Benta (Zilka Salaberry) é uma velha senhora que mora no Sítio do Pica-Pau Amarelo, distante da correria e do barulho da cidade grande. Junto dela vivem Tia Anastácia (Jacyra Sampaio), cozinheira de “mãos cheias” que serve diariamente quitutes para todos, e sua neta Lúcia (Rosana Garcia), mais conhecida como Narizinho. Vivendo sozinha e tendo somente duas senhoras idosas como companhia, a garota imagina um mundo de fantasias, onde a personagem principal é a sua boneca Emília (Dirce Migliaccio), criada por Tia Anastácia com sobras de pano. Também moram no sítio o velho Tio Barnabé (Samuel dos Santos) e seus ajudantes Zé Carneiro (Tonico Pereira) e Garnizé (Canarinho), responsáveis pela manutenção do sítio.
Um certo dia, Narizinho conhece o Príncipe Escamado, soberano do Reino das Águas Claras, que coincidentemente, fica situado no ribeirão do sítio. O Príncipe fica encantado com a garota e a chama para conhecer seu reino. Lá, ela é apresentada aos mais relevantes súditos, como a amarga Carochinha, responsável por conduzir os contos de fada, e decidida a manter o Pequeno Polegar preso em seus livros. Também a Doutor Caramujo, um célebre cientista, que oferece a Emília a pílula falante. Então, após ingerir o remédio, Emília começa a falar e não para mais.
Neste período de férias escolares, Narizinho tem como companhia, seu primo Pedrinho (Júlio César), que estuda na cidade grande onde mora com sua mãe. O menino também possui um amigo criado por tia Anastácia, o Visconde de Sabugosa (André Valli), composto de uma espiga de milho velha, que também ganha vida. O Visconde conquistou uma admirável sabedoria, tornando-se intelectual e cientista, muito por conta de ter sido abandonado no meio dos livros por bastante tempo.
Em resumo, no sítio do Pica-Pau Amarelo tudo é possível. A fantasia se funde com a realidade, fazendo parte da rotina da menina Narizinho e de seu primo Pedrinho. E juntamente com os personagens adultos, as crianças dividem suas aventuras num mundo fantástico onde convivem com a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa, o Saci Pererê, a Cuca, a Iara e outros personagens criados por suas próprias fantasias e imaginação.
Produção
Esta versão, exibida entre 1977 e 1986, foi a mais lembrada de todas as versões para a TV da série de livros de Monteiro Lobato. Os roteiros foram escritos por nomes respeitados e talentosos da teledramaturgia brasileira, como Benedito Ruy Barbosa, Marcos Rey, Silvan Paezzo e Wilson Rocha. A direção-geral e a criação do programa foi de Geraldo Casé, considerado o “pai” do programa em seus quase 10 anos de exibição. Outros diretores também passaram pela atração, como Fábio Sabag, Gracindo Júnior, Reynaldo Boury e Roberto Vignati. Mas a direção-geral foi sempre de Geraldo Casé com Edwaldo Pacote como supervisor-geral.
O bairro da Barra de Guaratiba recebeu a locação fixa para as gravações. Um sítio, com casa, curral e jardins, foi criado especialmente para o programa na Estrada Burle Marx. Naquele local eram gravadas as cenas externas e também algumas internas, produzidas nos ambientes da sala, cozinha e celeiro. As outras cenas internas – a biblioteca, o laboratório do Visconde de Sabugosa, os quartos, a gruta da Cuca, o Reino das Águas Claras, entre outros ambientes – eram gravadas nos estúdios da antiga Cinédia. Já as cenas na mata eram feitas na Floresta da Tijuca, Barra de Guaratiba e Pedra de Guaratiba.
O “Arraial dos Tucanos” foi projetado cenograficamente ao lado do Sítio e, todos os ambientes internos, como a venda do Seu Elias, se encontravam ali. A praia de Grumari, próxima à Barra de Guaratiba, onde pode ser vista em episódios, como O Minotauro, Os Piratas do Capitão Gancho, Dom Quixote, O Terrível Pássaro Roca e Robson Crusoé, entre outros, serviu e ainda serve de cenário para outras produções da Rede Globo.
Elenco
Em janeiro de 1978, após quase um ano interpretando a personagem Emília, Dirce Migliaccio foi substituída por Reny de Oliveira, que fez a famosa personagem até 1983. Também em 1978, Stela Freitas passou a atuar como a vilã Cuca, em substituição a Dorinha Duval.
Júlio César e Rosana Garcia saíram do elenco do programa na última história que foi ao ar em 1980. A produção derradeira da dupla teve 30 capítulos e foi intitulada como A Máscara do Futuro. Os dois já estavam bastante crescidos para os papéis de Pedrinho e Narizinho. Para ocupar seus lugares, a TV Globo promoveu um concurso e recebeu cerca de 7.000 cartas de crianças de todo o país. Após diversas entrevistas e testes, Daniele Cristina Rodrigues e Marcelo José Patelli foram os agraciados e, no ano seguinte, já integravam o elenco do seriado.
Em 1981, Catarina Abdala substituiu Stela Freitas no papel de Cuca, que levou o papel até 1986, quando o seriado infantil saiu do ar. Já em 1983 a grande novidade foi a vinda de Suzana Abranches para interpretar Emília, e de Izabela Bicalho para atuar como Narizinho. Por fim, em 1985, os jovens Daniel Lobo (Pedrinho) e Gabriela Senra (Narizinho) entraram para o elenco fixo da atração.
Bastidores e curiosidades
Baseada nas histórias criadas por Monteiro Lobato, que publicou o primeiro livro da série em 1920, as tramas se passam no Sítio do Picapau Amarelo, em que vários personagens vivem histórias mágicas. A série, como não poderia ser de outra forma, foi dirigida especialmente ao público infantil, resultado de um convênio entre a Globo, a TV Educativa e o Ministério da Educação e Cultura.
Os capítulos possuíam cerca de 30 minutos de duração. O conteúdo rural, particularidade da produção de Monteiro Lobato foi mantido, possibilitando criar uma ligação maior das crianças com a natureza.
Zilka Sallaberry relatou que, no início, não gostou de ser convidada para interpretar a simpática Dona Benta. A atriz não achava crível dar vida a uma personagem tão diferente dela, uma senhora calma, que reside em um tranquilo sítio no interior: Zilka não gostava muito do contato com a natureza, tanto que não conseguia passar um final de semana afastada da cidade. Como as gravações do programa seriam feitas em um sítio especialmente planejado para a série, em Barra de Guaratiba, na zona oeste do Rio, ela ficou desesperada. Mas a atriz não tinha como recusar o papel. Contudo, no primeiro dia de gravação, Zilka se encantou pela personagem, uma das mais marcantes de sua trajetória profissional.
Em um de seus primeiros trabalhos na Globo, o ator José Mayer dublou o personagem Burro Falante, substituindo o ator Ivan Setta. Ary Coslov, diretor de diversas novelas e outros programas da TV Globo, interpretava o personagem Jabuti no programa.
Um dos redatores do programa, Wilson Rocha, relatava em entrevistas na época da estreia do ‘Sítio’, sobre a tentativa de recuperar palavras e expressões favoritas de Monteiro Lobato. Para isso, o programa tinha o apoio de uma equipe especializada em linguística, ciência, educação, psicologia, pesquisa e sociologia, e a seleção do conteúdo de cada capítulo era realizada pelos autores e pelo grupo de apoio pedagógico.
Em 2001, a TV Globo produziu e exibiu uma segunda versão do seriado, e com o mesmo nome: Sítio do Picapau Amarelo.
O programa foi vendido para vários países, como Angola, Chile, Colômbia, Guatemala, Itália, Nicarágua, Paraguai e Portugal.
Trilha Sonora
A trilha sonora do infantil foi dirigida pelo cantor e compositor Dori Caymmi e foi marcada por temas popularmente nacionais destacando a mitologia e o folclore. Fizeram parte da trilha músicos talentosos e consagrados como Dorival Caymmi, Ivan Lins, Vitor Martins, Francis Hime, Geraldo Azevedo, João Bosco, Aldir Blanc, Chico Buarque e Sérgio Ricardo. Inclusive, a música de abertura, Sítio do Picapau Amarelo, de Gilberto Gil, foi um dos temas mais marcantes do programa.
Exibições
No geral, a série foi exibida pela TV Globo entre 7 de março de 1977 e 31 de janeiro de 1986, em um total de 1.549 capítulos. De 1977 até 1981, o programa foi exibido às 17h30, com reprise na manhã seguinte às 08h30. A partir de 1982, mudou para as 16h45. Em 1983 passou a ser exibido às 12h, voltando às 16h45 em 1984. Em suas últimas temporadas, entre 1985 e 1986, o seriado retornou às 17h30.
Em 1996, a Globo reapresentou os episódios “As Caçadas de Pedrinho” e “A Chave do Tamanho”, referentes a temporada de 1981, dentro do programa infantil TV Colosso (1993-1997). Com o término da exibição original pela Globo em 1986, a TV Educativa reprisou o programa de 1986 até 1988, com alguns episódios de 1979 a 1984. E de outubro de 1994 até maio de 1998, a TV Educativa volta a reprisar o Sitio, simultaneamente com a TV Cultura. Porém, dessa vez, mostrando episódios de 1977 e 1978.
Ainda, de 2008 a 2010, a Globo Marcas lançou 1 episódio do Sitio por ano. Atualmente, a série também está sendo reprisada no Viva desde 1.° de março de 2021 nas manhãs do Canal, às 10h45 e com maratona dos capítulos semanais aos Domingos das 07h45 às 10h15.
Fontes: Sites Memória Globo e Wikipédia.
Blog TV e Novelas 