Os Flops que Amamos: Sete Pecados (2007/08)

Não necessariamente uma novela pode ter sido rejeitada somente pela sua audiência. Um enredo razoável e inconsistente também pode contribuir para uma obra ser considerada ruim tanto para o público como pela crítica televisiva. É o caso de Sete Pecados, novela escrita por Walcyr Carrasco, com a colaboração de Cláudia Souto e André Ryoki, e direção geral/núcleo de Jorge Fernando que terminava há exatos 14 anos. A trama produzida pela TV Globo e exibida de 18 de junho de 2007 a 15 de fevereiro de 2008, em 208 capítulos, sofreu com as críticas não apenas da audiência mas também de alguns atores, insatisfeitos com os rumos tomados pelo autor para seus respectivos personagens. Ainda assim, uma parcela do público curtia bastante a trama de Beatriz (Priscila Fantin) e companhia e que tinha os sete pecados capitais como tema central da história. Por isso, vamos relembrar algumas curiosidades e bastidores deste enredo problemático e entender todos os percalços da novela para ser considerada uma narrativa irregular mesmo com uma audiência até certo ponto razoável em sua exibição original.

Não rolou química em cena! – Língua DI Gato
Priscila Fantin (Beatriz), Reynaldo Gianecchini (Dante) e Giovanna Antonelli (Clarice) nos bastidores da novela “Sete Pecados”, problemática obra exibida entre 2007 e 2008. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Elenco

Sete Pecados contou com um elenco recheado de estrelas. Em seu elenco principal teve nomes como Priscila Fantin, Reynaldo Gianecchini, Giovanna Antonelli, Paulo Betti, Cláudia Raia, Cláudia Jimenez, Elizabeth Savalla, Ary Fontoura e Nicette Bruno, além de coadjuvantes de peso como Gabriela Duarte, Marcello Novaes, Malvino Salvador, Cristiana Oliveira, Ana Lúcia Torre, Aílton Graça, Rosamaria Murtinho, entre outros.

Sinopse

A trama de Sete Pecados começa quando a jovem Beatriz (Priscila Fantin), ao se consultar com a cartomante Custódia (Claudia Jimenez), é advertida para prestar atenção na maneira como guia sua vida, pois ela rege suas ações baseada nos sete pecados capitais. A cartomante avisa que Beatriz será feliz somente quando largar os pecados em nome de uma grande paixão, e também salienta que o homem a qual vai sentir um amor profundo está mais perto do que ela pode pensar. A moça fica abalada com a revelação, pois está noiva de Pedro (Sidney Sampaio), um famoso chefe de cozinha, com data de casamento marcada para logo. O que Beatriz não esperava é que o rapaz que atravessa o seu caminho e altera os rumos da sua vida fútil e vazia é Dante (Reynaldo Gianecchini), um taxista honesto, casado com a animada confeiteira Clarice (Giovanna Antonelli).

Produção

A novela foi aprovada em agosto de 2006, ainda sob o nome provisório de Chicletes e Delírios. Em dezembro daquele mesmo ano foi alterado para Os Sete Pecados Capitais para expressar de maneira mais transparente o seu tema central e, logo após, encurtado para apenas Sete Pecados, seu nome definitivo, para que não houvesse confusão em relação ao público, que poderia achar que se tratava de um remake de Pecado Capital.

Além dos próprios sete pecados capitais, a novela usou como inspiração também o poema épico Divina Comédia, do escritor italiano Dante Alighieri, que informa sobre a utilização dos pecados e da diferença do bem e do mal através dos estágios de passagem depois da vida: purgatório, inferno e paraíso. Já o nome dos protagonistas, Dante (Reynaldo Gianecchini) e Beatriz (Priscila Fantin), foram influenciados pelos nomes do autor e sua musa inspiradora em suas obras clássicas, Beatriz Portinari.

Os primeiros capítulos tiveram gravações realizadas em Bariloche, na Argentina. Contudo, o cenário central da história era a cidade de São Paulo, onde foram gravadas sequências em lugares conhecidos da capital paulista, como o Parque Burle Marx, o Museu do Ipiranga, o Mercado Municipal, os bairros Liberdade, Lapa e Morumbi, e a Avenida Paulista. Ainda, alguns atores gravaram cenas em Teresina, no Piauí, num dos pontos turísticos da cidade, no Parque Nacional de Sete Cidades.

Para interpretar o taxista Dante, que mostrava um visual low profile, Reynaldo Gianecchini escureceu os cabelos. Já o ator Sidney Sampaio deixou crescer o cavanhaque para aparentar uma aparência mais madura. Malvino Salvador, no entanto, além do corte de cabelo bem curto, deixava a barba por fazer.

A equipe de cenografia da novela criou cenários para alguns pontos de São Paulo na Central Globo de Produção, o Projac. Para isso, duas cidades cenográficas foram criadas em uma área de cerca de 14 mil m2 no Projac. Em uma delas, foi reproduzida uma rua dos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Entre outros cenários, nesta rua estavam a boate de Beatriz (Priscila Fantin); o restaurante de Pedro (Sidney Sampaio); o ponto de táxi de Dante (Reynaldo Gianecchini); o antiquário de Rodolfo (Juan Alba) e a Livraria dos Anjos.

Seven Sins (2007)
Arcanja Custódia (Claudia Gimenez) e arcanjo Gabriel (Erik Marmo) em cena de “Sete Pecados”. Os sete pecados capitais definem os personagens da trama. (Foto: Reprodução/TV Globo)

A outra cidade cenográfica de Sete Pecados mostrava o tradicional bairro Vila Mariana, a qual ficavam as casas da família de Dante e Nino (Flávio Migliaccio), a academia de boxe de Régis (Malvino Salvador) e a pizzaria Rei da Gula.

Um dos destaques do trabalho da equipe de produção de arte era o baralho de anjos, criado especialmente para a novela, e que ilustravam cenas da trama. As ilustrações ficaram sob a responsabilidade de Rodrigo Pádua, que utilizou como referência um livro de pinturas do colombiano Fernando Botero. Pádua produziu 21 cartas relacionadas aos sete pecados capitais, às sete virtudes e aos sete planetas.

Diversas vezes, a personagem Clarice (Giovanna Antonelli) aparecia em cena às voltas com incalculáveis encomendas de bolos e docinhos. Parte dos doces que estampavam as cenas eram cenográficos e outra parte eram doces reais.

Bastidores e Curiosidades

Sete Pecados marcou a estreia do autor Walcyr Carrasco no horário das 19 horas. O autor havia se consolidado em vários trabalhos na faixa de novelas das 18h.

No início, Mariana Ximenes foi chamada para interpretar Beatriz, retomando a parceria com o autor, com quem também trabalhou em FascinaçãoA Padroeira e Chocolate com Pimenta. Mas a atriz decidiu aceitar o convite para A Favorita, que estrearia um ano depois, e o personagem ficou para Priscila Fantin.

Outra atriz que precisou declinar do convite para fazer a novela foi Flávia Alessandra. Ela foi convidada para interpretar Clarice, mas acabou entrando para o elenco de Pé na Jaca e foi substituída por Giovanna Antonelli. Já Rita Guedes foi convidada por Walcyr para interpretar Amélia, mas a atriz foi escalada para a novela das seis, Eterna Magia, e a personagem acabou indo para Lígia Cortez. Rita nunca mais trabalhou com Carrasco desde então.

A personagem Ágatha (Claudia Raia) estava sempre em companhia de um casal de gatos siameses durante a novela, com os nomes de Isis e Osíris. Na vida real, os gatinhos se chamavam Serena e Clark, e pertenciam à instrutora de animais Flávia Scheleder, também responsável pelo papagaio da personagem Otília (Rosamaria Murtinho).

O corte de cabelo de Beatriz (Priscila Fantin), repicado e com franja, virou febre entre as fãs da atriz. Ainda, fez muito sucesso as unhas em estilo francesinha de Clarice (Giovanna Antonelli). Em tons de vermelho, com as pontas na cor branca, elas logo caíram no gosto do público feminino da novela.

Letícia Dornelles, que no período da trama era autora de Amigas & Rivais, no SBT, acusou Walcyr Carrasco de plagiar sua novela. Segundo a autora da obra concorrente, a história possuía bordões e situações idênticas com a sua novela, como a frase “Modéstia à parte, eu sou perigosa”, usada pelas antagonistas Rosana (Talita Castro) em “Amigas“, e Ágatha (Cláudia Raia) em Sete Pecados. Walcyr chegou a se pronunciar, justificando que jamais havia visto o folhetim do SBT e que a autora estava usando as acusações a Sete Pecados para promover sua própria novela, que na época não estava bem em audiência.

O logo da novela, estilizado como “Se7e” foi influenciado pelo filme norte-americano Se7en, lançado em 1995.

Primeira novela dos atores Darlan Cunha, Rafael Zulu, Rosanne Mulholland, Amanda Azevedo e Leilah Moreno.

Chicletes e Delírios e Os Sete Pecados Capitais foram títulos provisórios da novela. (Folha de São Paulo e Canal Zap do UOL)

Participações Especiais

A novela contou com diversas participações especiais. Samara Felippo interpretou a sua terceira antagonista na carreira. Walcyr Carrasco disse que a sua intenção era desligar a imagem da atriz da ingênua Celina, de Chocolate com Pimenta. Outra participação especial foi de Paulo Betti, que entrou durante a trama para fazer o papel de suposto falecido pai de Beatriz. Já Cristiana Oliveira entrou na obra para interpretar a advogada Margareth. Carlos Casagrande e Márcia Cabrita também foram inclusos durante a narrativa, vivendo os personagens investigador Amadeu Vianna e a detetive Eudóxia, respectivamente.

Ainda, Sete Pecados contou com as participações especiais do ginasta Diego Hypólito, do pugilista Popó, dos músicos Cláudio Zoli, Zélia Duncan e Marina Elali, e da vedete Virginia Lane.

Nicette Bruno novelas | Blog Próximo Capítulo
Juju (Nicette Bruno) e Romeu (Ary Fontoura) em cena de “Sete Pecados”. Casal maduro foi um dos destaques do folhetim. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Abertura

A abertura da novela foi uma superprodução, com direito a um making of do trabalho. A canção “Carne e Osso”, de Zélia Duncan, embalou a trilha de apresentação enquanto os sete pecados capitais eram mostrados durante a vinheta. Uma curiosidade que vale destacar é que em num dos créditos de abertura, o nome do ator Odilon Wagner acabou aparecendo duas vezes. Ele foi “promovido” nos créditos, mas esqueceram de tirar seu nome no bloco em que era anteriormente exibido. O erro foi corrigido posteriormente.

Ações Socioeducativas

Sete Pecados abordou o alcoolismo por meio do drama mostrado pela personagem Valéria (Sofia Torres), e divulgou informações sobre a Aids através da personagem Gina de Carla Diaz, que seria portadora de HIV positivo somente durante a novela, relatando o preconceito e a importância de se debater o tema com os adolescentes. Ainda, houve uma necessária campanha contra a dengue, com palestras organizadas pela professora Miriam (Gabriela Duarte).

Trilha Sonora

A primeira trilha sonora da novela foi lançada em junho de 2007 e mesclou canções nacionais em português. As músicas “Deixo” (tema de Dante e Clarice), de Ivete Sangalo, “Teletema” (tema de Elvira) de Ivo Pessoa e “Eu vou Seguir” (tema de Miriam) de Marina Elali foram destaques do álbum. Reynaldo Gianecchini estampou a capa.

A segunda trilha sonora da novela reuniu apenas canções internacionais et também foi lançada em junho de 2007. Os destaques do álbum foram as músicas “LDN” de Lily Allen, “Rehab” de Amy Winehouse”, “Like a Star” de Corinne Bailey Rae, entre outros sucessos. Priscila Fantin ilustrou a capa.

A terceira trilha sonora da novela foi lançada na mesma época das outras duas trilhas e compilou canções internacionais e dançantes que eram utilizadas nas cenas da boate Naraka Club. O logo da fictícia boate ilustrou a capa do álbum.

Prêmios

A pequena atriz Amanda Azevedo, intérprete da personagem Brenda na novela, foi uma das revelações do ano e venceu os prêmios Contigo! e o Melhores do ano do Domingão do Faustão na categoria “Melhor Atriz Mirim”.

Audiência

O primeiro capítulo da novela marcou média de 36 pontos, com 51% de participação. A menor audiência da trama é de 20 pontos, atingida em 24 e 29 de dezembro de 2007. O último capítulo registrou a maior audiência de toda a obra: 39 pontos com picos de 45 e 60% de participação. A novela fechou com média geral de 30 pontos.

Reprise

Sete Pecados foi reapresentada pelo Vale a Pena Ver de Novo, pouco mais de 2 anos após a sua exibição original em televisão aberta, de 13 de setembro de 2010 a 7 de janeiro de 2011, em apenas 83 capítulos. A trama é umas das novelas mais picotadas durante a faixa vespertina, muito por conta da baixa audiência que atingiu durante a exibição da sua reprise. Assim, dos 208 capítulos originais, a edição foi condensada em 83. Os cortes foram tão abruptos para o término mais rápido do folhetim que houve um dia em que um capítulo da reprise representou o equivalente a nove capítulos originais.

Por que não deu certo?

A novela começou com uma audiência irregular para o horário. O início foi satisfatório (aproximadamente 35 pontos), porém, nos meses seguintes, o Ibope de Sete Pecados na Grande São Paulo foi caindo de maneira gradativa. Segundo o colunista Nilson Xavier, alguns fatores contribuíram para a aceitação baixa do folhetim: a trama por diversas vezes inconsistente; a repetição de tipos e desfechos já bastante explorados pelo autor em novelas anteriores; o excesso de personagens, vários deles com narrativas que foram sendo esvaziadas e/ou perdendo sua função ao longo da novela; falta de carisma dos protagonistas e a pouca identificação imediata do grande público com estes personagens.

Seven Sins (2007)
Reynaldo Gianecchini (Dante), Priscila Fantin (Beatriz) e Giovanna Antonelli (Clarice) nos bastidores da trama. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Além disso, também foi destaque na mídia juntamente com todos os problemas relatados, a insatisfação de alguns atores com a novela e seus personagens. Maria Zilda Bethlem deixou o elenco justificando a sua insatisfação com o seu papel, que não possuía uma real função na história. Reynaldo Gianecchini também ficou insatisfeito com a trajetória de Dante, usado somente para satisfazer os desejos de Beatriz (Priscila Fantin). Aílton Graça também pediu para sair da obra, desapontado com a falta de enredo de seu personagem. Porém, o estopim da insatisfação foi a saída da vilã Ágatha, personagem de Cláudia Raia e principal representante da inveja, outro dos pecados capitais aproveitados na obra. Boatos diziam que a atriz estava insatisfeita com os rumos de sua personagem, ou que ela estaria usando cacos demais (trocando as falas), o que teria deixado Walcyr Carrasco muito aborrecido e dado fim a sua antagonista. Em seu livro “Sempre Raia um Novo Dia” (escrito com Rosana Hermann), Cláudia Raia afirmou: “Uma novela que não deu muito certo e eu acabei sendo explodida (…) Teve erro de escalação, excesso de personagens, papeis confusos (…) Fui de antagonista principal a coadjuvante sem história, e eram tantas as alterações de última hora que ficava difícil até para decorar as falas. (…) Walcyr Carrasco reconheceu os problemas e foi muito correto comigo, dizendo que não podia deixar uma atriz como eu fazendo um papel sem sentido e que tinha decidido me explodir. Achei a ideia hilária e concordei” conta.

Ao finalizar a novela, Walcyr Carrasco declarou que errou gravemente em ter incluído tantos personagens, por volta de 80 no elenco principal, uma vez que não conseguiu dar foco em alguns núcleos e muitos ficaram sem função real na história, justificando que o correto seria ter desenvolvido uma trama enxuta com 40 a 50 personagens, como foi em Chocolate com Pimenta (2003).

Fontes: Sites Memória Globo, Teledramaturgia e Wikipédia.

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