Cultura Pop: TV Colosso (1993-1997)

Há 25 anos, terminava definitivamente pela TV Globo um dos programas infantis mais importantes da casa: O TV Colosso. Exibido pela emissora entre 19 de abril de 1993 a 03 de janeiro de 1997, a atração substituiu o Show do Mallandro (1991-1993) e foi um grande sucesso de público e crítica durante seus quase quatro anos no ar. Idealizado e dirigido por Luiz Ferré e Beto Dorneles, o programa era estrelado por bonecos caracterizados como cães, representando todas as áreas de uma emissora de TV; desde o presidente até o office-boy. Ainda, a TV Colosso foi responsável por popularizar personagens emblemáticos como a protagonista sheepdog, Priscila e o operador, Borges, um bulldog e diretor de imagem que de dentro da cabine de controle da programação, chamava os desenhos animados do programa infantil. Assim, com o intuito de relembrar essa produção marcante, fizemos um resumo com curiosidades, bastidores e p legado da atração que marcou uma geração e ainda é lembrada por uma parcela significativa do público que acompanhou essa turma canina durante os anos 1990.

Raça de Priscila, da 'TV Colosso', corre risco de extinção - TNH1
A sheepdog Priscila era um dos destaques principais da TV Colosso, programa matinal de sucesso exibido entre 1993 e 1997. Foto: Reprodução/TV Globo

O Programa

Apresentado por bonecos, que intercalava quadros com exibição de desenhos animados, a TV Colosso foi criada por Luiz Ferré e Roberto Dornelles, integrantes do grupo gaúcho de teatro de bonecos Cem Modos, onde também faziam parte Valério Campos e Toninho Neves, responsáveis pela redação. Também participaram da elaboração do projeto os cartunistas Laerte, Angeli, Glauco, Luiz Gê e Fernando Gonsales.

A TV Colosso usava bonecos manipulados manualmente ou de forma eletrônica. No total, foram utilizados 28 bonecos de fantoches, sendo 25 cachorros e 3 pulgas. Os cachorros encenavam diversos papéis, somando ao todo 50 personagens. A concepção central era evidenciar os cachorros em um ambiente televisivo, todos exercendo a rotina diária de colocar uma programação no ar. O programa alternava quadros especiais protagonizados pelos cachorros em meio a apresentação de desenhos animados, com uma linguagem acessível, ágil, e baseado nas histórias em quadrinhos, com grande destaque para o humor.

Produção

Luiz Ferré trabalhava com cinema e quadrinhos antes da Globo convidá-lo para conceber um substituto para o  programa infantil de sucesso Xou da Xuxa, em 1992, e em troca, ele teve a idealização de um programa estrelado por personagens-bonecos antropomórficos. A equipe do programa estudou produzir os bonecos no Centro de Tecnologia Aplicada da Rede Globo (Cetap), importar os bonecos e seus fabricantes estrangeiros ou terceirizar o processo de criação para a empresa Inventiva Bonecos e Cenários em Porto Alegre. O projeto do programa acabou sendo elaborado na conexão Porto Alegre, São Paulo (onde Ferré vivia e trabalhava) e Rio de Janeiro, onde o programa era gravado nos estúdios das produtoras Tycoon, Cinédia, Renato Aragão Produções (atual Casablanca Estúdios) e Herbert Richers.

A Rede Globo empregou seu próprio departamento de efeitos especiais para manutenção dos bonecos. Ferré rememorou que o grupo que idealizou o programa e os personagens-bonecos foi procurado por Boninho, uma vez que este tinha auxiliado com o grupo no programa Clip Clip, produzido nos anos 80. O grupo também já tinha feito os bonecos para o especial Plunct Plact Zum, também da Globo, e para uma versão da ópera O Barbeiro de Sevilha, pela TV Manchete.

Por conta do peso da fantasia, dois bailarinos se alternavam para interpretar os bonecos maiores, de 2m de altura, que dançavam e pulavam durante a atração, como a estrela Priscila. Esses bonecos necessitavam de manipuladores eletrônicos e dubladores. Roberto Dornelles foi o responsável pela equipe de manipulação na época.

Todos os personagens eram sonorizados por importantes dubladores brasileiros como Mário Jorge, Mônica Rossi, Isis Koschdoski, Garcia Júnior, Guilherme Briggs, Sheila Dorfman, Márcio Simões, Hamilton Ricardo, Mauro Ramos, Marco Ribeiro, Hércules Fernando, Carlos Seidl, Marco Antônio Costa, Sheila da Silva e Sousa e Reynaldo Buzzoni.

Os cenários de TV Colosso possuíam variadas dimensões, alternando desde a miniatura até os adaptados para os cachorros de dois metros de altura.  Além disso, todos os objetos de cena eram produzidos exclusivamente para o programa.

Técnicas de efeitos especiais foram aplicadas pela produção da TV Colosso, como o chroma key (técnica de efeito visual que consiste em colocar uma imagem sobre uma outra por meio do supressão de uma cor padrão, como o verde ou o azul, por exemplo). Assim, podiam aparecer na tela personagens que voam, mergulham no fundo do mar, ou que possuem somente suas cabeças. Foi também operado o recurso de newsmate (técnica que possibilita a colocação de uma imagem recortada sobre outra), que admite a fusão dos bonecos com o cenário imaginário.

Outra curiosidade se refere a manutenção das fantasias utilizadas pelos fantoches. A cada dois meses, os bonecos eram colocados numa banheira com água quente e lavados com xampu e condicionador.

Album de figurinhas TV Colosso incompleto .
O sucesso da turma da TV Colosso foi tanto que eles viraram gibis, livros ilustrados (foto acima), bonecos entre outros produtos. Foto: Divulgação/Editora Abril/TV Globo

Personagens de destaque

Priscila: Charmosa sheepdog que sonhava com a fama; Priscila era uma das personagens mais carismáticas e engraçadas da TV Colosso e, por ser a produtora da programação da emissora, vivia indo de um lugar ao outro, realizando a ligação entre todos os quadros da atração.

Operador Borges: Um buldogue que apertava os botões para chamar os desenhos animados exibidos durante o programa.

Jaca Paladium: Apresentador do quadro Acredite se Puder, imitava o apresentador Jack Palance, do programa americano Ripley’s Believe It Or Not!, popularizado no Brasil durante os anos 1980 com o nome Acredite se Quiser.

Thunderdog: Apresentava o Clip-Cão, e satirizava os trejeitos do apresentador/VJ da MTV Brasil, Thunderbird.

JF e Capachão: O diretor da emissora e seu fiel assistente.

Provolone e Parmesão: Dois cães da raça Shar Pei, que mantinham a linha clássica de duplas de humor, contando piadas, promovendo brincadeiras e apresentando os desenhos animados.

Janjão e Binho: Amigos sonoplastas, passaram a participar da turma da TV Colosso em 1995. Ao entrarem em ação, os cachorros se transformavam: os olhos acendiam e cintilavam, e eles ficavam vesgos.

Gilmar: O faz-tudo da TV Colosso e um dos personagens mais populares do programa.

Zé Carioca: Estreou no programa infantil em 1996. O personagem era um entrevistador que apresentava um talk show na emissora. Por imposição da Disney, o boneco de Zé Carioca teve de ser confeccionado em Los Angeles. Passaram pelo quadro comandado por Zé Carioca personalidades como o atleta Robson Caetano, a apresentadora Angélica, a dupla Sandy & Júnior e o humorista Renato Aragão. Além das entrevistas, o papagaio respondia as cartas dos fãs e comandava o bloco de desenhos.

Quadros apresentados

A emissora canina exibia diversas atrações, entre elas: o noticiário Jornal Colossal; o programa de clipes musicais Clip-Cão; as novelas mexicanas Pedigree e Os Filhos da Cadela; o seriado As Aventuras do Super-Cão; e os programa Acredite se Puder, com os maiores disparates da história, Roberval, o ladrão de chocolates, Malabi, sabeCapashow, entre outros. Havia, ainda, as pulgas, que sabotavam a programação dentro dos circuitos eletrônicos da emissora e apresentavam o Com a pulga atrás da orelha.

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Capachão, Priscila e JF em cena da TV Colosso, programa infantil de grande sucesso, exibido de 1993 a 1997, Foto: Reprodução/TV Globo

Já O telejornal da TV Colosso era uma brincadeira com o Jornal Nacional (1969), da Globo, e o programa As Olimpíadas de Cachorro era uma versão bem-humorada do Esporte Espetacular (1973).

Abertura

A abertura exibia vários cachorros, de tamanhos e raças diversas, correndo de um lado para o outro, preparando-se para entrar no ar. Ao som da divertida canção Eu Não Largo o Osso, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, cantada pelas Paquitas, eles secavam os pelos, colocavam maquiagem e enfeitavam-se com laços e gravatas borboletas.

Desenhos exibidos

Entre os desenhos animados de maior destaque e mais populares entre o público infantojuvenil do programa estavam Power RangersAs Aventuras dos Ursinhos GummiAs Aventuras de Mickey e DonaldHe-ManShe-raSmurfs Snorks. O programa acabava por volta de meio-dia. Para o encerramento, o cachorro responsável pela cozinha da emissora gritava, com carregado sotaque francês, para os colegas de equipe: “Atentión, pessoall, tá na horrra de matarr a fomê! Tá na mêss, pessoaaaaal”. Em seguida, a turma ocupava a cena, em uma correria alucinada, e o chef era atropelado, finalizando o programa.

Programas especiais

No ano de estreia, em 1993, a atração apresentou um especial de Natal, chamado TV Colosso Especial 1993. Dois anos depois, como parte da celebração ao Dia das Crianças, foi exibido na Terça Nobre outro especial, intitulado TV Colosso Especial 1995, onde, pela primeira vez, relatava os bonecos interagindo com atores da emissora. Um dos cenários usados foi a academia de Malhação, e boa parte do elenco do seriado participou do programa.

Os Ursinhos Gummi (Adventures of the Gummi Bears – 1985) – InfanTv –
O desenho “As Aventuras dos Ursinhos Gummi” era uma das atrações da TV Colosso. Foto: Reprodução/Walt Disney Television

Trilha Sonora

O programa lançou dois álbuns musicais, inclusive com o tema de abertura “Eu Não Largo O Osso”. O primeiro, produzido em 1994, chegou a ganhar certificado com disco de ouro (100 mil cópias) pela ABPD. O segundo volume, também lançado em 1994, foi uma continuação da primeira trilha, com a incursão de novas canções-tema dos personagens do programa.

Cancelamento

Em agosto de 1996, a Globo anunciou ao grupo Criadores e Criaturas que o contrato seria encerrado e rescindido, levando ao imediato e surpreendente cancelamento do programa. Até hoje não se sabe exatamente os motivos do cancelamento da TV Colosso, que na época atingia altos índices de audiência. Contudo, a versão mais aceitável é que a direção da Globo achou que a fórmula da atração já estava saturada. Entre setembro de 1996 a janeiro de 1997, foram exibidas somente reprises. Ainda, a partir da estreia de Angel Mix, com a apresentadora Angélica estreando na TV Globo, em 16 de setembro de 1996, o horário da TV Colosso foi encurtado. O dublador Mario Jorge de Andrade, em uma entrevista concedida para o podcast Radiofobia exibida no final de novembro de 2011, disse que o motivo do cancelamento teria sido por razões políticas.

Legado

A TV Colosso foi tão marcante e importante para a televisão brasileira e a programação infantil das manhãs globais que obteve licenciamento de produtos para vendas como gibis, livros ilustrados, bonecos, entre outros objetos. Além disso, a atração foi lembrada ou trazida de volta por diversas vezes após o seu final pela própria emissora. Em 2000, os personagens do programa retornaram numa participação especial para o programa Bambuluá, no qual Priscila, Gilmar, JF e Capachão caem num chafariz de pipoca. Em 2004, os mesmos personagens cantaram o tema “Eu Não Largo O Osso” no especial Estação Globo.

Priscila, da TV Colosso, participa de 'Os Melhores Anos das Nossas Vidas'
Em 2018, a personagem Priscila participou do programa “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”. Atração deixou um legado e ainda é bastante lembrada pela Globo em diversas ocasiões. Foto: Paulo Belote/TV Globo

Já durante o Big Brother Brasil 7, em 2007, um dos quartos da casa foi batizado pelo diretor Boninho com o nome TV Colosso. E, no ano de 2008, personagens como Priscila, Gilmar, o Chef de Cozinha, Capachão e outros apareceram na edição especial de Dia das Crianças do Mais Você, em 10 de outubro.

Novamente no Mais Você, em 2009, Priscila e outros personagens da TV Colosso apareceram para festejar o aniversário de Tom Veiga (1973-2020), intérprete do boneco Louro José. A mesma Priscila, pouco mais tarde, participou ao vivo do programa Video Show, falando sobre novidades da TV Colosso, como a peça de teatro Eu Não Largo O Osso e o lançamento de uma série de DVDs com os melhores momentos do programa. Ainda em 2009, os personagens da atração participaram do Criança Esperança.

Por fim, em 2015, a personagem Priscila participou do especial em comemoração aos 50 anos da TV Globo. Priscila apareceu durante o bloco que homenageia a programação infantil da emissora, juntamente com Angélica, como a Fada Bela (da série Caça Talentos). Também em 2015, a personagem Priscila apresentou o programa Video Show ao lado de Otaviano Costa e Monica Iozzi e em 2018, participou do programa “Os Melhores Anos de Nossas Vidas” ao lado de Ingrid Guimarães, em representação aos anos 1990.

Fontes: Sites Memória Globo/Wikipédia.

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