Álbuns Marcantes: Mamonas Assassinas (1995)

No último dia 23 de junho, completou 25 anos do lançamento do álbum Mamonas Assassinas (EMI/Universal Musical). O disco da banda homônima de Guarulhos (SP) formada pelos integrantes Dinho (vocalista), Bento Hinoto (guitarrista), Samuel Reoli (baixista), Sérgio Reoli (baterista) e Júlio Rasec (tecladista) foi um grande sucesso de vendas com mais de 2,4 milhões de cópias só no Brasil. É o 12º álbum brasileiro mais vendido de todos os tempos e o 3º mais vendido dos anos 1990. Por conta disso, vamos fazer um apanhado da história da banda e desse disco revolucionário tão importante para o cenário do rock brasileiro.

Mamonas Assassinas previram a própria morte em acidente de avião? Entenda·  Notícias da TV
Todos os integrantes do grupo Mamonas Assassinas (Foto: Divulgação).

Início (demo e contrato)

A banda enviou a fita demo com as três canções (“Pelados em Santos”, “Robocop Gay” e “Jumento Celestino”) para três gravadoras: duas delas foram a Sony Music e a EMI. Rafael Ramos, baterista da banda Baba Cósmica e filho do diretor artístico da EMI, João Augusto Soares, gostou tanto da sonoridade da banda que insistiu na contratação do grupo. Rafael dava dicas para o pai sobre conjuntos novos que enviavam suas canções para a gravadora. Nesse primeiro período, João Augusto Soares se negou a assinar com os Mamonas. Porém, Rafael insistiu e conseguiu que seu pai assistisse a um show deles em 7 de abril de 1995 . Segundo o livro Mamonas Assassinas: Blá, Blá, Blá – A Biografia Autorizada, “quando João Augusto de Macedo Soares, 39 anos, vice-presidente da gravadora EMI Odeon, seu filho Rafael, 16, e o produtor independente Arnaldo Saccomani chegaram, a boate Lua Nua estava quase vazia. Eram dez e trinta da noite meio fria de 7 de abril de 1995.” Depois de presenciar o show, imediatamente João Augusto assinou contrato com eles.

Lançamento do álbum e sucesso comercial

Antes da gravação do disco, a gravadora (EMI) fez uma exigência: Queria pelo menos 10 canções para o CD. A banda mentiu, informando que já haviam 7 músicas e que em 1 semana poderiam compor as restantes. Na verdade, eles só tinham as 3 enviadas a gravadora. Contudo, isso não foi um problema. Em uma semana, eles conseguiram compor 12 canções, totalizando 5 a mais do que o mínimo exigido pela gravadora. Em maio de 1995, a EMI mandou todos os integrantes para Los Angeles, nos Estados Unidos, para gravar o seu único álbum. Eram para ser 15 faixas e apenas uma delas acabou fora do CD: a canção “Não Peide Aqui Baby“, que é uma paródia da canção “Twist and Shout”, dos Beatles. A música foi censurada por conta da grande quantidade de palavrões. Rick Bonadio (apelidado pela banda de “Creuzebek”) ficou responsável por gravar, lançar os músicos e também vender os shows. Depois da gravação do álbum, lançado no dia 23 de junho de 1995, o disco passou desapercebido nas lojas. Entretanto, no dia seguinte, quando a 89 FM a Rádio Rock tocou a canção “Vira-Vira”, os Mamonas estouraram de vez. Foi o disco de estreia que mais vendeu no Brasil e também o que mais vendeu cópias em um único dia: 25 mil nas primeiras 12 horas após a canção ter sido executada.

Faixas de Sucesso

Conforme Claudio Francioni disse em uma entrevista, Dinho declarou que todas as citações eram homenagens aos artistas que eles ouviram durante a vida. Há coisas escancaradas a quaisquer ouvidos, como “Crocodile Rock”, de Elton John, em “Pelados em Santos”, “Should I Stay or Should I Go”, do The Clash em “Chopis Centis”, ou um pouco mais escondidas, como o final de “Mundo Animal”, onde repetem um trecho de “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos. Veja algumas faixas de destaque do álbum:

Pelados em Santos”: Segundo Dinho, esta foi a primeira música composta por ele, ainda em 1991. Ela fora regravada em espanhol com o nome “Desnudos en Cancún”. A versão em português foi regravada pelos também paulistas Titãs no álbum As Dez Mais, de 1999.

“1406”: Ao contrário do que muitos pensam, a faixa se chama “Quatorze Zero Meia” (e não “mil quatrocentos e seis“), pois refere-se a um famoso nº de telefone de compras, o 011 1406, que era de um famoso canal de televendas na primeira metade dos anos 1990, o Grupo Imagem, que mantinha comerciais na Rede Manchete. Na música são citados vários produtos vendidos pelo 011 1406. Há também uma referência à canção “Laika nóis laika (mas money que é good nóis não have)”, da dupla Ponto & Vírgula.

“Vira-Vira” – A canção é uma sátira do vira, gênero musical português, mas a letra é inspirada na piada “A Maria e o Português”, contada pelo humorista Costinha no seu álbum O Peru da Festa Vol.2, que conta a história de um casal de portugueses que foram a uma suruba.

Robocop Gay” – Nesta canção, Dinho faz imitações dos trejeitos de Eduardo Dussek. Por isso, também foram incluídas algumas rimas que citavam quase que ocultamente a canção “Barrados no Baile”, do cantor. A música é uma homenagem ao personagem de Jô Soares, o Capitão Gay, com referências ao personagem do ator Peter Weller, o Robocop. Também foi citado nos vocais a música “Doce Doce Amor”, que é originalmente interpretada por Jerry Adriani. Versões ao vivo da música contavam com o “Melô do Piripiri”, que é a introdução de “Je Suis la Femme”, da cantora Gretchen.

Chopis Centis” – A música parodia o riff inicial de “Should I Stay or Should I Go”, da banda punk inglesa The Clash. Ela virou o tema de abertura da sitcom PartiuShopping, do canal por assinatura Multishow, interpretada por Tom Cavalcante.

Vira-Vira - Mamonas Assassinas - LETRAS.MUS.BR
Os integrantes do Mamonas tinham o carisma e a irreverência como marca registrada. (Foto: Divulgação).

Variedade de Ritmos

Seu som era uma mistura de pop rock com influências de gêneros populares, tais como sertanejo, brega, heavy metal, pagode romântico, forró, entre outros ritmos. Segundo Iule Karalkovas, do site Portal Sucesso, o sucesso comercial do álbum se deu porque de uma maneira geral o disco dos meninos foi um “tapa na cara da sociedade”. “… o humor de suas composições traziam muitos problemas da época à tona. Musicalmente, o disco também foi uma espécie de marco. Dinho era versátil, e, por isso, o grupo fez questão de não se prender em um só ritmo. Ou seja, além de fazer duras críticas à sociedade, o projeto passeou pelo rock ao pagode e ao baião com facilidade.” 

O crítico musical Igor Miranda vai na mesma linha. Segundo ele, os músicos eram muito versáteis e habilidosos naquilo que era proposto. “Muitas vezes passa despercebido, mas o instrumental do único álbum dos Mamonas é muito bem feito e, mesmo que de forma cômica, passeia sem equívocos por diversos gêneros musicais, como rock, metal, samba, pagode, baião, forró, pop e por aí vai. Eles tinham competência em seus postos e deixavam isso claro, inclusive, nos shows.”

O músico Sérgio Cruz, vocalista e guitarrista da banda Arquivo Nacional, que ouviu o disco pela primeira vez por intermédio de um amigo que comprou o álbum, afirma que o Mamonas fez muito sucesso, além da competência do grupo, porque o humor estava muito presente em todas as músicas. “Eram muito divertidas e bem ‘zueiras’ só que a banda tinha uma boa técnica musical, os músicos eram bons. Então, você via que as músicas eram boas e a única diferença era que as letras eram mais divertidas e irônicas. Eles usaram vários tipos de recursos, desde pagode, rock até paródia com música portuguesa. Eu lembro muito de em 95 de ter ouvido esse CD, porque ele tocou bastante.”

Alta popularidade

O grupo Mamonas Assassinas possuía carisma de sobra e transbordava essa marca em frente ao público seja em televisão, rádio ou durante os seus shows. Luciana Gifoni, mestre em música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), acredita que “a performance e as letras, moldadas pela ‘comicidade escrachada’, foi um dos fatores primordiais para a conquista do público.” Além disso, o álbum fez enorme sucesso entre crianças mesmo com letras politicamente incorretas. Segundo Eduardo Vicente, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) (em seu artigo Segmentação e consumo: a produção fonográfica brasileira – 1965-1999) “Aparentemente, o fenômeno Mamonas demarcou uma tendência diferenciada na canção infantil, pela qual o visual clean e as letras inofensivas de apresentadoras (como Angélica, Xuxa e Eliana) foram substituídas pela incorreção política (e gramatical), pelas expressões de duplo sentido e pela aparência quase ofensiva de figuras como Tiririca (Sony, 1996) e Rodolfo & ET (Virgin, 1998)”.

Programas de TV e shows em excesso

Com o estrondoso sucesso comercial, o grupo saiu em uma turnê desgastante, apresentando-se em programas como Jô Soares Onze e Meia, Domingo Legal, Programa Livre, Domingão do Faustão e Xuxa Park. Em fevereiro de 96, foram destaque da capa da Billboard, em reportagem sobre as inéditas vendagens do disco de estreia. Tocavam cerca de oito a nove vezes por semana, com apresentações em 24 dos 27 estados brasileiros (Distrito Federal incluso) e, ás vezes, dois a três shows por dia. O cachê dos Mamonas tornou-se um dos mais caros do país, variando entre R$ 40, 50, 70 e até 100 mil. Consequentemente, a EMI faturou cerca de R$ 80 milhões com a banda. Em certo período, a banda vendia 50 mil cópias por dia.

Meu filho deixou um legado', diz pai de vocalista Dinho, dos ...
Dinho, vocalista do Mamonas Assassinas, durante show. Grupo chegava a se apresentar 9 vezes por semana (Foto: Arquivo O Globo/ Agência O Globo).

Proposta da Globo e rolo compressor

Por serem queridos e admirados pelo público, todas as vezes que apareciam na televisão, a audiência triplicava. Como consequência disso, existia uma rixa entre as emissoras para ter os Mamonas Assassinas nos seus programas. Segundo Rick Bonadio, a TV Globo tentou contratá-los por 3 anos exclusivos, mas a EMI vetou o acordo por considerar que isso iria atrapalhar os seus negócios. Na época, eles fizeram inúmeros shows e foram apelidados de “rolo compressor” porque as outras bandas e artistas tinham medo de tocar na mesma cidade que eles se apresentavam por possuir enorme preferência por parte do público. Este sucesso todo, porém, causou uma rejeição vinda de alguns círculos musicais e jornalísticos.

Recorde de vendas e acidente fatal

O único álbum de estúdio gravado pela banda, Mamonas Assassinas, lançado em junho de 1995, vendeu mais de 2 milhões e 400 mil cópias no Brasil, sendo certificado com disco de diamante comprovado pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD). Com um sucesso “meteórico”, a carreira da banda (sob o nome Mamonas Assassinas) durou um ano e meio, de outubro de 1994 a 2 de março de 1996, quando o grupo foi vítima de um acidente aéreo fatal sobre a Serra da Cantareira, o que ocasionou a morte de todos os seus integrantes e causou grande comoção nacional. Mesmo após o seu fim, a banda continuou influenciando a cena musical nacional e sendo celebrada décadas depois da sua prematura partida.

Legado

Muita gente se pergunta como o Mamonas conseguiu atingir tanto sucesso entre todas as faixas etárias e sociais da nossa população, mesmo com canções “politicamente incorretas” que não deveriam tocar em rádios por conta dos palavrões (e mesmo sendo formada pelos mesmos integrantes do “fracassado” grupo Utopia), e como se tornaram ídolos do público infantil.

“Eles persistiram  demais, era uma banda de rock, de metal que tinha um sonho e conseguiram alcançar o sucesso. Eles demonstraram que existe uma forma de desenvolver música de qualidade e ter um estilo próprio. Então, para o legado do rock nacional, o mais importante é ser original, criativo e acreditar no seu trabalho e eles souberam fazer isso de uma forma brilhante.”
Sérgio Cruz, vocalista da banda Arquivo Nacional

Segundo a crítica especializada, a fórmula de sucesso do grupo estava calcada em letras de humor escrachado e canções ecléticas, de apelo pop, que parodiavam estilos diferentes, como rock, heavy metal, brega e até o vira português, entre outros. Para Rafael Ramos, produtor musical que descobriu os Mamonas, “tinha muita coisa estourando na época, mas ninguém fazia algo tão engraçado. O que veio depois era cópia. Eles eram muito carismáticos e, além disso, chegaram antes de muita gente”.

Segundo Rodolfo Bertoncelo Roque, administrador do grupo Mamonas Assassinas Oficial no Facebook, o legado dos Mamonas para a música e não só para o rock brasileiro é a identidade. “Ser você mesmo e não tentar seguir um padrão pelo fato deste padrão estar fazendo sucesso. Durante muito tempo eles foram assim. Quando decidiram ser eles mesmos, o sucesso veio.” pontua.

Para muitos, a alegria e o humor irreverente, marcas do comportamento de seus jovens integrantes, liderados pela comédia natural do vocalista, aliado a letras irreverentes, figurinos exóticos e performance estilo pastelão, foram o legado deixado pelo grupo.

A banda Mamonas Assassinas (Foto: Divulgação)
O grupo Mamonas Assassinas em momento de descontração (Foto: divulgação).

“Os Mamonas Assassinas foram os maiores heróis de carne e osso que o Brasil já teve. Heróis em cima do palco, onde tocavam sem reclamar até três vezes por noite. Heróis fora do palco, nas nossas casas, onde nos alegravam com suas canções bacanas e suas piadas debochadas.”
Ivan Finotti, jornalista da Folha de S. Paulo

Musical

O musical Mamonas aconteceu no ano de 2016 com direção de José Possi Neto e conta a história da banda de rock comédia que conquistou o país. A peça foi indicada a vários prêmios e venceu o “Guia da Folha” como melhor espetáculo musical de 2016. Renato Mello, do Botequim Cultural, deu críticas positivas ao espetáculo, compreendendo que ““O Musical Mamonas” não se pretende levar a sério nos moldes do classicismo musical. Sua proposta é simplesmente deixar uma lembrança alegre e carinhosa de uma das mais carismáticas bandas da década de 90. Analisando por essa ótica, seu resultado final é bastante positivo”. Miguel Arcanjo Prado, do UOL, também aprovou o espetáculo. Segundo ele, ““O Musical Mamonas” é um espetáculo que dialoga de forma intensa com a realidade que o gerou, chegando perto daquela adorável irreverência dos Mamonas Assassinas. Diante do musical, e da real presença dos atores, dá saudade daqueles meninos de Guarulhos” afirma.

Fonte de apoio: Wikipédia.

Deixe um comentário